segunda-feira, 26 de setembro de 2011

um copo vazio

Eu tenho a quem  agradecer e agradeço porque se acumulou em mim a gratidão e uma certeza que nesse mundo não sou mais que um copo vazio sem as mãos que se dispõem unir às minhas.
eu sei respeitar decisões embora nem sempre a compreensão acompanha. de tantos passos divididos pelo caminho, aprendi a não lamentar quando eles de mim se separam, por motivação minha ou não. eu também faço escolhas, eu também insisto para permanecer, mas já não sofro quando se vão. eu aproveito outras companhias e aproveito todas as ausências. tento ser a melhor companhia para mim mesma, tento e nem sempre consigo por conta do passarinho que sempre fica tristinho quando não tem pra quem cantar.
eu não sei ser sozinha, mas compreendo que é necessário porque é assim que me sinto capaz de não esquecer quem eu sou e como eu me sinto em relação ao resto do mundo. não saberei o que são as pessoas para mim se delas não puder me livrar de vez em quando. 
o mundo não cabe nos meus braços, mas eu sinto a necessidade de carregá-lo. o cotidiano me comove porque eu vejo todos os dias a miséria humana se expressar na dureza dos olhares, na porta que se fecha, no medo que faz os pés mudarem de calçada, nos homens suados comendo marmitex sentados no chão sob a sombra de uma árvore e na criança que com sete anos não reconhece um pedaço de bolo porque nunca viu um bolo na vida. todas as crianças merecem comer bolo. todo trabalhador merece uma mesa pra almoçar e merecem muito, mas muito mais os trabalhadores. e merecem tomar pra si.
a miséria humana também é a minha miséria. e a humanidade começa aqui, pelas ruas que ando, pelo vidro do ônibus, dormindo no berço ou no banco do lado.
eu tenho que agradeçer. porque quando eu penso no desespero não posso deixar de pensar que eu tenho pra quem abrir o meu coração...