quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

no lugar do sol

"eu não pensei que fosse sério"

era só o que a cabeça dele conseguia pensar.

como entender?

ela disse que viria e veio, ela disse que ficaria pra dormir e ficou, ela lavou os cabelos com shampoo de maçã verde e ele teve desejos de saboreá-la. ela consentiu. ela disse ser muito só e manteve por bastante tempo seu olhar perdido entre seus próprios dedos e o movimento que o vento produz nas cortinas. ela teve sede, ele trouxe água. não? algo alcóolico? tudo bem.

ela cuspiu palavras e ele as engoliu. ela chorou no seu abraço e ele afagou, ela adormeceu se despedindo e nunca mais acordou. ela não foi pra lugar algum, não criou asas, não virou anjo, não morreu nem viveu. ficou ali deitada, tão pálida, a cabeça inclinada sobre o ombro, os braços moles como uma boneca de pano velha.

o lençol ainda está com cheiro de maça verde onde ela encostou a cabeça molhada. ela foi pintar uma flor no lugar do sol. ele não viu. e nem poderia.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ainda não passou, mas vai passar.

porque a gente fica sempre assim meio sem achar o jeito certo, sem saber se deixa tudo que vai dentro transparecer ou se solta uns palavrões e segue a vida. tem momentos que não passam, ainda quando já passaram.

'não gosto de fazer ninguém querer riscar o seu passado'

a gente nunca sabe se a reação é proporcional, exagerada ou aquém, a gente só sabe que mexe, que cutuca, que se a gente forçar um pouquinho até parece dor. mas não é.

o acaso tem peripécias que deixam a nossa vida um pouco mais confusa. desnecessariamente, já que viver não passa de um monte de coisas absurdas que vão acontecendo sucessivemente e as quais sobrevivemos. ou não.

isso estava programado para ser externizado há pelo menos uma semana atrás. mas o tempo, o amor, a preguiça, os risos intermináveis, as compras natalinas, as cervejas, as cachaças, as drogas, as crianças, as roupas sujas, a lavanderia, as roupas limpas, as unhas coloridas, o carro, os apartamentos por visitar, nosso próprio apartamento e toda a bagunça que ele é capaz de conter, adiaram o momento. tudo isso. e um pouco mais, porque não falei dos almoços em família, dasfestinhas e confraternizaçõeszinhas.

pois é. tudo isso. mas foi tempo suficiente, coisas suficiente para me fazer desligar, tirar as palavras do foco da vida, mudar de assunto, virar a página e transformar tudo em piada.

a gente vai continuar rindo, eu continuarei ameaçando ele de morte. mas se foi dor, foi das vagabundas, porque já passou.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

da série: que presente escolher?

aos indecisos, imprestáveis, incapazes e desprovidos de sensibilidade para escolher um presente de aniversário:



o mundo precisa de mais bicicletas. bem aqui. vai, coragem!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

parece verdade

a vida não é um sonho porque não tem açúcar e nem recheio de creme, mas eu insisto em levar a vida dormindo. de noite e de dia. ai, e como é bom dormir pra sempre, mais cinco minutinhos ou mais cinco horinhas. acontece que tem sempre alguém pra me acordar. sempre tem alguém querendo falar qualquer coisa maldita que na minha opinião poderia esperar.

me arrancar do meu sonho. tem gente boa em fazer isso. não sei se agradeço ou se mato: contemplar a vida vai me matar de fome e eu tenho medo de passar fome. ou se tem um cachorro ou se tem um gato, eu NUNCA poderei ter os dois porque moro em apartamento. ser incapaz de guardar dez minutos da porra do dia para ler-me. minha bunda não é a mais gostosa nem do meu quarteirão.

quero dormir. quero ser uma princesa disney. quero chorar de rir. quero fazer desaniversário. quero passear.

e quero-te. mesmo que querer-te seja uma ofensa à língua portuguesa, mesmo que te sufoque, te aperte e te arranque os pêlos que não convêm. te querer ainda é sonho e eu ainda estou dormindo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

dentro de casa

subi as escadas e hoje faz calor. meu jeans sai do corpo com dificuldade e tudo fica pelo curto caminho entre a porta e a cama, abro a janela. nos meus planos um banho, mas a cama me chama, os livros que acabei de comprar me chamam, a preguiça me convence. deito-me nua, cubro-me com uma toalha, tenho mais pudor nas ausências.

ele vem de elevador, beija-me rapidamente, liga o ventilador, dobra e guarda o edredom que só está sobre a cama porque mesmo com todo o calor que o inferno é capaz de produzir, eu não consigo dormir descoberta. ele guarda as minhas roupas, os meus papéis, pendura a minha bolsa, tira o jeans, põe uma bermuda, me pergunta se as coisas possuem utilidade com a intenção de jogá-las fora, mas eu não guardo coisas apenas por serem ou não úteis.

eu comprei livros, mas não lavei a louça. ele senta-se na cadeira, escolhe um dos livros e começa a ler. eu quero um abraço mas não quero pedir, não quero demonstrar carência. pego o coelho de pelúcia, presente de meu pai, minha companhia de quando eu era só. obviamente ele não reconhece o meu desejo por ter seus braços envolvendo meu corpo. a não percepção não seria um problema, há coisas que basta dizer, mas nem sempre as palavras encontram formas de sair da boca, e não fosse o fato de eu não ter resistido em destilar uma ponta de sarcasmo ele não teria vindo até o banheiro quando eu levantei e decidi ir ao banho, já que nada me restava por dizer ou fazer.

eu já estava molhada, pela porta de vidro trasparente do box ele me perguntou o que se passava. abri a porta e o abraçei. molhei o chão, ele não gosta quando eu molho o chão porque sabe que eu não vou secar. agradeço por saber que o que ele odeia em mim são as minhas coisinhas espalhadas, uma coisa tão material. ele não odeia meus desejos fora de hora, nem minhas oscilações.

seus braços estavam quentes, era só o que eu queria. o calor do abraço.