segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Eu queria escrever. Mas não sobre envelhecer ou sobre meus conflitos. Não queria escrever sobre a melancolia dos fins-de-ano nem inventar mais uma história. eu já escrevi sobre muita gente aqui. Paixonites de hoje e do passado, desafetos, confusões familiares, o que me faz triste, o que me faz esticar os lábios em direção às orelhas e me deixa com essa cara de boba de quem só quer sorrir.

A inspiração é uma menina traiçoeira. É sim! Acho que nunca escrevi tanto na minha vida como nos últimos meses, porém, não sei o que escrever. Não quero que mais nada na minha vida ficasse com essa impressão de abandono. Eu não sei se me larguei, ou se as coisas me largaram pelo caminho. Certo, as pessoas desistem de mim, minha fala e principalmente esses registros pouco correspondem com as minhas atitudes diante da vida. Sou uma idiota e isso não faz nenhum sentido.

Porra, passou o natal, eu fiz vinte e seis anos, estou fazendo dois vestibulares e definitivamente não tenho nada de significativo a acrescentar nessa merda de mundo. Ok, então abandonarei de vez essa coisa idiota de escrever sem propósito. Histórias sem leitores pelo simples fato que não interessam a ninguém.

Me disseram que isso é crise de auto-sabotagem. Será que morro disso???

domingo, 6 de dezembro de 2009

calma

Eu contava os passos. Os dele, não os meus. Vinha chegando naquele andar sempre desajeitado, sempre deixando a incerteza de para onde iria.

Ele sempre foi de espalhar a calma, sentou-se e começou a falar baixo e lento, daquele jeito de quem nunca quer ferir, mas eu já estava machucada. Acendeu um cigarro, que o garçom pediu que apagasse. São as regras. Me convidou para caminhar, eu me levantei apenas, porque não sobrou em mim nenhum sim.

'Hoje eu troquei de nome duas vezes'
Ele sorriu e disse que tudo bem. 'E como quer que eu te chame agora?'
'De Você, apenas.'

Não é comum que chova por essa época, mas o céu decidiu nos molhar, ele me segurou pela mão e atravessamos a rua com o passo apertado, mais um quarteirão e estaríamos em casa. Eu relutei porque aquele não era o meu lugar e nunca há de ser. Eu não sou de lugar algum e ao contrário dele, grito quando o mundo se fecha sobre mim.

Eu não nasci para essa vida, apenas passei a viver. Ele nasce todos os dias e sabe viver a vida com tranquilidade. Ele me acalma, mas eu me assuto porque nunca conheci o que é o sossego.

Continuo pelas ruas, ele me olha pela janela. Nos encontramos por aí e sempre que caminhamos chove. Acho que o nosso andar precisa dessa água toda. Garoa fina ou tempestade com vento. Eu já perdi a conta dos seus passos e já nem sei por onde eles vão.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

'não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugar...'

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eu voltei pobre e confusa. Juntei meia dúzia de tralhas naquele nosso canto antigo e chorei baixo meu retorno.
Meu coração está em pedaços e logo meu corpo todo estará porque eu estou me despedaçando e ninguém vê. Já entreguei braço pra um, perna pra outro, outro levou a orelha e teve o esquisito que ficou com um dos meus peitos. Sou um picadinho de gente e ainda estou sorrindo.
Faz calor e aqui não tem mar, embora tenha muita areia. Faz calor e ferve o meu inferno astral, cada vez mais quente e sujo.
Voltar me parece um bom recomeço ou só o fim de um ciclo que foi um desastre mas que também foi bom e essencial... mas acabou. Essa vida é um eterno começar, nunca parar, desconstruir e começar de novo.
Viver me cansa e novembro já está do meio pro fim. Logo acaba, só depende da vontade dos dias em passar depressa e deixar dessa lentidão morna e caprichosa.

Construir, destruir, chorar e construir novamente. Isso tudo é muito chato.

sábado, 24 de outubro de 2009

"Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."

Caio Fernando, porque às vezes, quase sempre outros dizem melhor que eu, apesar de eu saber o que há pra se dizer e como quero que me entendam. Se fosse uma esquina qualquer e eu tivesse oito anos e um metro e vinte de altura: todas as esquinas são do tamanho do mundo, todos os cruzamentos são imensos, olho para cima e os postes de energia com seus fios são monstruosos. Hoje, nem tanto, mas ainda quando olho para o céu alguma coisa sei que acontece comigo e é uma sensação de miudeza... é um mundo de gigante e uma criança eu sou. Te digo e você há de entender, não é à toa que você já ocupou o seu lugar, é que você me causa a mesma sensação que me causavam as esquinas e não se trata de uma queixa, porque tudo que me traz o que já é meu, me desperta inclinações adormecidas e vai deixando esse meu peito ninho mais quente e aconchegante. E é por você. Que bom.

domingo, 18 de outubro de 2009

Hoje eu sei dessa minha tristeza. Essa que de mim não se separa, que é dos meus muitos impulsos o que menos controlo e do qual não posso me desfazer. Minha tristeza é minha raíz e eu não passo de uma árvore velha. Não avanço, não saio do lugar porque me prende à terra. Meu caminho é para cima, para sempre. minha tristeza não se renova como as minhas folhas, não conta as estações, quem faz assim são as minhas alegrias. Todas elas passam por mim, me afagam, me cativam e me deixam. É assim que é e eu sempre me acostumo. Gosto das pequenas alegrias passageiras, gosto do que me prende à qualquer infância, gosto de gritar quando um mundo de água cai fortemente sobre mim e não me afoga. O mundo já me sufocou muito antes. Respirar não existe. E essa apnéia me enche de pensamentos de morte. E eu penso nessa morte porque me comove a sensação egoísta de perda que ela traz. Gosto de chorar mortes que ainda não aconteceram, gosto de chorar minha própria morte. Sei que ainda viva sou ausente. Sei que frequentemente troco a companhia dos meus afetos pelo prazer individual, que é momentâneo mas que também é afeto, calor e tem sua beleza, embora sejamos nós assim tão imperfeitos. Eu suporto conviver com o peso de ter feito escolhas. O que não suporto é a idéia de uma vida longa sem aqueles que escolhi pra partilhar essa vida comigo. Possivelmente será pra sempre o que me fará mais triste, que deixará meus olhos com esse ar de cansaço e preocupação, foi como disseram que eles são. Meus olhos nunca brilharam e eu nem acho isso tão ruim.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

não me troco nem por um e nem por vinte. eu escolhi uma vida que não se limita. de nada faço questão. abro mão fácil e sem melancolia. me divirto com colchões de molas. só meu pai sabia como me tirar pra dançar. ele ainda é o homem da minha vida. eu nunca esqueço uma palavra que cortou meu coração. eu não esqueço minhas palavras que cortaram outros corações. eu fuji de casa e vou voltar pra casa. os meus filhos sempre foram meus, embora ainda não sejam. eu gosto de parecer expansiva e cordial. é bom ter com quem dividir os meus silêncios também. minha infância foi triste mas já passou. isso é uma certeza e um alívio. eu sou uma azeitona e tenho caroço. nada é mais bonito que suspirar timidamente. eu não sou amelie. não mesmo. eu estou viva e não me escravizei. gosto do que é forçadamente casual. eu não sei se forçadamente existe. eu sou sinhá vitória de graciliano querendo ser audrey hepburn. chico buarque nunca cantou meu nome. porém a canções que tem meu nome é a mais linda do mundo. eu sou ridícula. eu acredito e construo. eu crio diálogos incríveis dentro da minha cabeça. flertar com a mentira e romper com as verdades. eu quero que o mundo ferva. eu adoro falar cu. eu quero que as pessoas partam. eu quero partir. despedidas são mais bonitas que encontros. eu prefiro as rupturas. sou tão banal e volúvel. eu já quis mudar alguém. o que é imbecibilidade? eu gosto de limonada mas prefiro dançar de saia. eu acho a indiferença o máximo. eu respondo com sorriso amarelo a conselhos idiotas e dispenso previsões. eu vou ter um filho porque escolhi ter um filho. eu não me importo com o que você pensa. escrever em primeira pessoa me faz sentir importante.


e daí?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

tantas vezes tive medo

eu não quis invadir o seu passado, antes estivesse de fato preocupada em conhecer os seus segredos. eu não quis e deveria te dizer isso ou ainda direi. não exatamente uma surpresa mas uma informação interessante e aquele leve tremor de medo me ocorreu porém não o suficiente para fatalmente desabar o que me resta de auto-confiança. não sei definir. talvez uma ligeira vergonha por chegar tão perto da desonestidade. talvez um certo orgulho por ter dito 'não' quando qualquer outra iria até o fim e causaria um tumulto ou um conflito e assumiria um papel que eu não estou nem um pouco disposta a assumir. não sei como pontuar essas palavras, não sei como dizê-las, não sei onde terminar esse parágrafo e iniciar um outro. mas isso se deve voluntariamente ao medo de fazer algum sentido ou me fazer entender. covarde como eu nunca fui. de todos os meus medos esse é dos que eu ainda não tinha experimentado, o que não significa que, de alguma forma, não estava em mim. sempre estiveram. talvez as outras tenhas razão. ou não. talvez tenha sido só um acaso, mais um desses acasos caprichosos dos quais nunca se revelam quando procuramos por ele, porque acasos não é coisa que se procure com o faro, que se adivinhe nos olhares, ou que se implore com lágrimas submissas de chantagem. Acasos não se comovem e eu peço humildemente que me perdoem pelo uso repetitivo da palavra 'acaso'. mas é que não existe nada que explique o fato de ter sido naquela hora e naquele momento que em mim brotou a velha semente do medo. e é pelo medo que não encontro agora maneira de encerrar com um desfecho convincente, com uma palavra de efeito, com uma explicação para tamanho hermetismo que me toma. eu ouvi e sorri sozinha por pensar em você 'um provável homem doce' ou um certo doce amargo isso sim, é o que é. antes fosse uma sombra de desconfiança e eu me deixasse levar por devaneios insanos de mulherzinha insegura. mas não foi. foi acaso e é um medo daqueles dos antigos. medos antigos que você não conhece.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

B.

as suas mãos pequeninas, o seu respirar difícil e todas as outras coisinhas que te fazem parte foram o encanto de você para mim. eu quis te cuidar, te amei desde o primeiro olhar e por todas as razões sentimentais que não se explicam, de todas as pessoas com quem já partilhei minha existência você é a que eu mais quero que permaneça nessa condição. eu quero meus dias em sua companhia, quero seus primeiros passos, seus porquês, quero te ver dormindo ainda que perturbado por sonhos confusos e fragilidades respiratórias, quero te ver crescer e conquistar nessa vida o que tiver que ser seu.

entre nós não há laços diretos além desse meu afeto. meu coração se dispõe a amar quem consequentemente de você não se separa. e não se trata de aceitar a condição, existe em mim amor pra ti e para ela, eu juro.

a vida que eu te ofereço é humilde, porém verdadeira. pode ser que não caiba nela todos os seus desejos, porém haverá sempre o meu abraço,muitos beijinhos, um quintal de terra batida, uma bola e muitos primos. ah, e café da tarde com bolo e pão caseiro também, sempre que eu puder prepará-los.

você ainda não sabe, mas existe nesse mundo uma lógica de racionalidade que nem sempre eu considero. eu descobri o que é paixão e não foi alguém que me ensinou. paixão é loucura de amor. eu andarei quantos passos para trás forem necessários na minha vida para que os passos seguintes me levem a você. porque eu te amo e te quero, meu bebezinho...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

mambembe

eu não vejo a hora...



No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Mendigo, malandro, muleque, mulambo bem ou mal
Cantando
Escravo fugido, um louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu
Cantando
Dormindo na estrada, no nada, no nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
ela escolheu morrer. como se escolhesse um doce numa vitrine, ou os sapatos que usaria naquele dia. por ser sempre caprichosa em suas escolhas decidiu que seria morte de parto. ela sabia e nos disse que não foi escolha espotânea, ela sonhou mais de uma vez com olhos infantis que lhe diziam: vai morrer de parto, mãezinha. e ela pensou nas diversas formas de se morrer e decidiu que se não fosse de parto não morreria nunca.

andando e arrastando os pés juntamente com todo o peso da coisa que carregava, ela sorria satisfeita com a certeza que não passaria o momento. dor. uma senhora se aproxima com olhar suplicante, voz baixa: moça, arruma dois reais pro ônibus. ela não registra: me desculpa, senhora, não tenho.

procurou onde se sentar e sentou-se não foi por não suportar a dor que a criatura inquieta e ansiosa por sair de dentro dela lhe causava, foi somente por negar-se a morrer em uma mesa fria onde lhe arrancariam a tal criatura. para ela separar-se da vida que se constituiu ali dentro já era em si uma morte. o sol que brilhava forte já não aquecia mas queimava a sua dor. os prédios ao redor se aproximavam e se afastavam, passeavam pelo azul e ela acho isso bonito, embora não pudesse imaginar como e porque se moviam.

alguém disse qualquer coisa. um rosto desconhecido, mais um ou dois rostos e algumas vozes. ela já não sabia quem era ou onde estava mas sentia que o que escorria do seu ventre por entre as pernas era vermelho e foi o que atraiu aquela confusão de imagens e sons de pessoas que se moviam ao seu redor e que não sabiam o que fazer com a menina que sangrava e sorria. tomaram-lhe nos braços quando ela já não podia mais escolher. um espetáculo à luz do dia refletido no sangue que ficou pelo chão. uma luz imensa e muito mais intensa a cegou mas ela ainda escutava todos os ruídos ao redor. não se preocupou em manter-se por mais tempo, se entregou calmamente à luz que se converteu em escuridão. ainda ouviu de algum lugar uma vozinha estridente que chorava alto quando de dentro dela se desprendeu. e tudo silenciou.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

piegas é dizer 'piegas'

eu não me lembro exatamente o que deveria vir aqui. era qualquer coisa que eu disse enquanto ele queria dormir e eu queria conversar. não me lembro, só me lembro que o título seria esse e que nós rimos deliciosamente enquanto o sono o levava e eu inutilmente tentava mantê-lo interessado nas minhas baboseiras. 'coloca isso no teu blog', foi o que ele disse. eu lhe contei uma história. uma das que está em algum lugar aqui, sobre pessoas que trepam ou morrem ou trepam e morrem, não importa! o fato foi que ele me pediu uma história, portanto não se encontrava no direito de reclamar pelo conteúdo e pela pobreza de argumentos da narrativa.

um mês. é só amanhã, mas eu não quis esperar e assim parece uma desobediência à formalidade de esperar a data em si. nós não vivemos muitas coisas juntos, não fomos amigos de infância, não choramos abraçados uma perda minha ou dele. a beleza está no porvir, e estará quando o provir chegar. se o mundo fosse um jardim, ele seria a minha flor preferida e talvez estivesse tatuado na minha perna. isso é piegas, mas é menos do que dizer piegas. é que me falta um jeito meu pra lhe dizer, um jeito bonito e feito de açúcar, a minha única forma de ser doce, uma vez que sempre fui amarga. sim, eu sempre reconheci a dor e não me poupei. eu deixaria que ele partisse se ainda fosse cedo. mas não é cedo nem tarde, é o momento. o melhor deles. em que eu queria escrever coisas corriqueiras e inventar histórias, mas só me vem uma inspiração: a dele, do seu sono partilhado e suas mãos indecisas. amo.

sábado, 1 de agosto de 2009

quando ele dorme a noite fica mais leve e as cores mais amenas.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

mosaico abstrato

por nando reis

todo sonho é feito de estilhaços
do que o olho crê
que a imagem faz no espaço
e o tempo encontra
no ar que passa invisível
peso e cor

todo encontro é o jeito do acaso
achar no sonho uma miragem
onde o oásis água inventa
o mar do nada é impossível
erro e dor

e o que estava longe está aqui
dentro e tão perto
de um jeito tão certo que só cabe mesmo em mim
beijo e abraço
no tempo que passa lento e a jato
no gesto que toca a gente na alma
no modo, dos jeitos mais diferentes
é que somos iguais

livros lidos
discos preferidos
filmes vistos
sempre um sinal

indo e vindo
vivo ouvindo
o instinto mesmo quando
eu não entendo nada
ninguém entende nada
só o que diz
o lábio no beijo
no sopro a paixão

domingo, 26 de julho de 2009

escuta-me.

por vezes necessito falar até que se esgotem as palavras e nem sempre eu preciso de resposta. apenas de bons ouvidos.

escuta-me mesmo que seja noite, mesmo que seja frio, mesmo que não te agrade. eu sempre saberei retribuir um mínimo esforço de atenção, porque embora egoísta, sou generosa.

escuta-me calado, escuta-me distraído, sem me ouvir.

escuta-me ainda que eu não diga nada, porque os meus silêncios também são teus.

escuta-me quando me lê, escuta essa minha voz deselegante e desafinada o quanto se lembrar dela nos teus registros de memória.

escuta-me quando eu grito ou choro baixinho. escuta o que é a minha dor.

escuta-me. meus apelos, meus pedidos por perdão, minhas frases soltas e sem sentido, escuta os meus filmes vistos e quando eu cantarolar uma trilha sonora qualquer.

escuta-me quando eu for razão e quando for sentimento. quando eu for verdade ou mentira. escuta e guarda consigo tudo enquanto ainda puder me escutar.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

ela sentia em si um estranho prazer em ser inoportuna e detestável. escolhia a hora errada pra dizer intimidades passadas, palavras de baixo calão, ironias desprovidas de senso de humor e não sabia exatamente o porquê, mas gostava disso. só mais um dos seus vícios, não tão explícito quanto o bastão cancerígeno sempre acesso entre seus dedos. mas quase tão prejudicial quanto.

ele era a materialização de coisas boas que ela não viveu. era a possibilidade de uma vida sem o peso de sentimentalidades enjoativas, sem a ânsia por dominação, sem o vampirismo que permeiam os relacionamentos que se constituem por esses nossos dias. ele não era assim. ele inspirava liberdade e segurança, duas coisa que de tão distintas são pares.

ela soube reconhecê-lo, curiosamente não se esquivou. e de todos os pensamentos que ocupam a sua cabeça de mulherzinha, ele é daqueles que lhe passa certa calma. como pensar num lago tranquilo, ou numa tarde de chuva fina e de vento fazendo dançar as folhas secas.

algo no mundo mudou. e não foi a cor do céu. talvez não houve mudança alguma. apenas alguma coisa que encontrou o seu lugar.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

estamos juntos

nos passeios, com os amigos, pelas ruas, no aconchego e nas lutas também.





sorte a minha.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ritmo e poesia

eu não me guardei, não preparei qualquer recepção para ele. não me enfeitei com colares e nem enchi a casa de flores.
ainda assim ele veio, chegou e me encontrou despreparada. sem uma frase pronta, sem prenda alguma pra impressionar. só me restou ofertar a mim mesma, nada mais. descabelada e exatamente assim foi que me mostrei.
ele manifestou o desejo de grudar sua boca na minha. e foi justamente quando nando reis ia dizendo 'pra você guardei o amor...' a canção perfeita para um 'first kiss'. ele me beijou antes da canção terminar e aqui dentro, assim como eu sou, me encontrei nos seus braços e não preciso mais procurar. o encanto está no momento. é o meu segredo, eu já disse. mas é ótimo quando simplesmente se confirma. a mim, que nunca fiz questão de estipular regras ou metas ou o que quer que seja. eu que sempre fiz questão de viver, sim! e tão somente isso. foi e é a melhor coisa que me aconteceu ultimamente, ter aceitado seus beijos, seus carinhos, seu olhar doce que se espalha em mim e acompanha suas mãos enquanto me beija.
eu não esperava por ele, mas hoje eu acredito, e pode ser a representação da verdade. só o tempo vai nos dizer. mas o fato é que tudo que não foi guardado, tudo que não poupei já era dele e ele soube me tomar para si e me guardará, enquanto existir desejo em nós.

sábado, 27 de junho de 2009

hoje e o momento

eu senti que hoje seria o dia. e essa hora seria o momento. talvez por minhas mãos estarem geladas ou por eu ter escolhido o silêncio, ao invés de encher a casa de melodias. os seus olhos já estão registrados. não os esquecerei, pois tenho uma memória seletiva, porém eficaz. eu desconheço os seus números, toda essa sua exatidão, mas reconheço quando me sorri, me pisca com um olho e se dispõe a partilhar comigo algo que vai um tanto além dos simples momentos de conversa corriqueira. a gente partilha um pouco de vida. você às vezes ri e desdenha do meu time quando falamos de futebol, eu me irrito e você ruboriza quando eu te mostro a língua.

hoje você está especialmente bonito e penso que dito isso, fica claro um motivo convincente que justifique o agora. meu desejo de voltar-lhe pensamentos e dizer sobre você nesse momento, não somente, mas no seguinte e no próximo. todos os momentos que eu possa dedicar a pensar na sua figura aquecendo com o sopro da tua boca minhas mãos frias. todo o tempo que eu gasto juntando as palavras que deslizam nos teus dentes e se espalham pelo espaço entre nós. espaço esse que tende a se estreitar à medida que se passam as horas, que te trazem até aqui, que colocam uma das tuas mãos na minha cintura, a outra no meu pescoço e tua língua dentro da minha boca.

o encanto está no momento. eu te amo e esse é o nosso momento. te amo um amor incerto, um amor que não jura e que sempre muda. é o meu encanto e é pra você.

domingo, 21 de junho de 2009

"ganhei (perdi) meu dia.
e baixa a coisa fria
também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaça, num suspiro.

gastei meu dia. nele me perdi.
de tantas perdas uma clara via
por certo se abriria
de mim a mim, estela fria.
As árvores lá fora se meditam.
o inverno é quente em mim,
que o estou berçando,
e em mim vai derretendo
este torrão de sal que está chorando."

tio carlinhos

quinta-feira, 18 de junho de 2009

as pessoas não entram em nossas vidas e por esse motivo, também delas não saem. hoje, com a cabeça encostada no vidro do ônibus, sentindo o balanço da viagem, treze horas, hora de vir pra casa. as pessoas simplesmente exitem. e as existências se encontram em algum momento e se desencontram em outro. só isso. às vezes se partilha muito do que se é, mas não absolutamente. algumas pessoas absorvem e trocam, mas por mais que o façam nunca saberão. o medo de se revelar é inútil, porque tudo pode ser forjado. a essência é segredo que não se divide. à parte qualquer julgamento cada um sabe o que é. nisso deve consistir alguma beleza, qualquer uma, daquelas que nem sempre se é capaz de enxergar, que não se faz revelar. existe amor ou não existe amor. existem passos, rotas, caminhos, estrada de tijolos amarelos, todas conduzem à derradeira verdade: somos incapazes. e nossa incapacidade não é um fracasso, é só o que justifica a nós e aos outros. justifica todo o peso no vazio onde as relações se estabelecem. por onde passeiam as palavras, deslizam os olhares, constituem-se as vontades e as não vontades. todas as coisas no mundo, tudo solto e misturado. o amor é um rato que roeu a roupa do rei de roma, é um não sei o que doído, é um exercício de idiotice! no sentido literal da palavra idiota. mudei de estilo. me troco por distração qualquer. palavra rabiscada e reescrita não se apaga, ela estará lá, não volta atrás. e quem aqui quer voltar?

terça-feira, 16 de junho de 2009

para giovanna


ela merece todos os presentes do mundo, embora eu, na minha incompetência não tenha conseguido encontrar algo comprável que eu quisesse oferecer à ela.
ela chupa o dedo e puxa as maria-chiquinhas, resmunga e já demonstra ser temperamental. de família, só pode. ela canta junto com o rádio quando andamos de carro. ela se mete na conversa alheia e é cheia de palpites. ou deve ser, pelo jeitinho que grita e pede atenção. ela é delicada nos seus gestos e dança engraçado, ela ri para o gato, cobre o rosto com as mãos, faz biquinho pra assoprar e eu me derreto porque ela é a minha menina. a cada dia seus olhos vão ficando mais atentos, seus traços se acentuam, o mundo se desenrola a sua volta e ela o contempla, o descobre e já o enfrenta. esse mundo não será mais o mesmo quando ela puder entende-lo. ela saberá até onde ir com seus passos. dos primeiros, os próximos, todos que virão. é bom tê-la nesse mundo. seus olhos pequenos, seu riso, seu sono, seus anos que inevitavelmente virão e farão dela qualquer coisa que não se pode prever. por esse primeiro ano e pelo por vir. minha flor de cerejeira. minha pequena.

domingo, 14 de junho de 2009

enquete:

na sua opinião, deus:

[ ] é um cara gozador
[ ] é um cara brincalhão
[ ] é um fanfarrão
[ ] é um piadista
[ ] passa o dia todo penteando a barba. é muito vaidoso ele.










nota mental:
'agora que sou puta você quer falar de amor'
pega mal por isso no twitter?

sábado, 13 de junho de 2009

cuidado:

distorcer a história provoca torcicolo mental!









ficadica!

terça-feira, 9 de junho de 2009

deve ser legal ser deus

ser a personificação da verdade absoluta deve ser emocionante.

domingo, 7 de junho de 2009

passeio

negou-se. ainda era dia. e seria pra sempre um dia de sol quente, que arde no lombo. não queria se lembrar dos seios à mostra, dos olhos que a olhava, de como, conscientemente se virou de lado e dormiu um sono que não se dorme quando há um corpo colado ao seu.

a vista recuou ao excesso de luz. o mundo era álcool e nicotina e ela era só mais uma vadia, semi-nua, numa cama que não era a dela. não queria calçar as botas porque estava calor. saiu descalça, despenteada e silenciosamente. o concreto das calçadas queimavam seu pé, mas ela não se importou. nem com o chorume que escorria dos sacos plásticos, nem com o miserável que lhe estendeu uma mão na esperança de uma moeda: dinheiro não tem, tio. fica com essas botas! se conseguir cinco contos nela, tá no lucro!

dia eterno. sol que teima em não se pôr e dar espaço pra escuridão, onde qualquer duas ou três doses e um baseado transforma qualquer filho da puta em uma trepada em potencial.

ela pagou a passagem com nota de vinte e se sentou no último banco do ônibus. algumas fileiras à frente uma perna masculina agitava-se ansiosamente. é ele.

'ainda vou me casar com ele. juro que vou.'

domingo, 31 de maio de 2009

eles sabiam que estavam diante do inevitável, ainda assim ela fez questão que ficasse claro o quanto sentia por aquele momento, ainda que não tenha dito, ele compreendeu. ela sentia sono, vontade de fumar, e pouca disposição pra blá-blá-blás intermináveis, e do ponto de onde enxerga o mundo, nada mudou pra ela. apesar de gostar e de aproveitar afinidades, sabia dentro de si que ninguém é insubstituível. e era o que lhe proporcionava alguma calma. mas ela confessa: sentiu muito por viver aquilo. um ensaio de dor. ela que nunca foi apaixonante, por vezes não perdeu a oportunidade de subestimar a capacidade de alguns em sentir afeto pela sua pessoa. ela já fez uso do seu corpinho pra se sentir superior, mas a verdade é que ela fode com qualquer um. exceto com aqueles cuja proximidade de pensamentos e afinidades ultrapassa qualquer sentido de relação estabelecida de maneira sexual. esses são os que ela costuma fazer de idiota. pra esses ela nunca vai dar.

inevitável. era apenas as coisas que estavam no tempo. ou no espaço que se constituiu no tempo. as incansáveis voltas: o relógio, a vida ou um girassol. ele e ela. tudo ficou sintetizado no tempo. ela carregaria o peso das palavras. só um peso a mais. besteira qualquer. ela não é daquelas dispostas a pagar por coisas impagáveis. mas ela tolera decisões. embora no fundo ela saiba que quanto mais a gente cede, mais a gente terá que ceder, sempre.

ainda assim ela acha tudo engraçado. e viveu coisas suficiente pra saber um pouco dos desfechos inevitáveis. um pouco. quase nada, talvez. e não faz questão de ser platéia. menos ainda de ser personagem. ela contenta-se em existir.

e ela às vezes existe. ou se dissolve. quando em minha presença ela é calada ou vibrante. quanto a ele, ela concluiu: ele é um apanhado de datas, nomes, mil referências que ora são empolgantes, ora são coisa que não se pode classificar. e ela disse mais: ele não existe. não existe.

tudo nela ainda está por viver. à parte tudo que já foi vivido. ele apenas andou. ela caminhou até onde se despediram e separaram-se. ali uma porta permanecerá sempre aberta.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

sou uma boa ouvinte. sim, sou uma boa ouvinte e compreendo muito bem o sentido daquilo que me falam. o problema são os que falam. isso é um desabafo e é expressão da minha indignação, que alcança muitos níveis dependendo do que está em questão. antes de inciarmos é importante que fique claro: se quer conversar comigo, se quer me dar um conselho, se quer expressar sua opinião, parta do ponto de que não sou uma idiota. meio caminho andado: você parte do ponto que eu sou indivíduo capaz de escutar, interpretar e tirar conclusões. ótimo.

daí me surge uma ilustre visita e me diz: cuidado pra não ser massa de manobra!

acho engraçado: ninguém me chama de massa de manobra quando eu estou trabalhando pra sustentar os lucros de grandes empresários e banqueiros. e ainda querem me fazer acreditar que isso é 'nobre'! ninguém me chama de massa de manobra quando eu assisto televisão. só me chamam de massa de manobra quando eu faço greve. como se eu fosse uma idiota, estúpida ou ingênua a ponto de não saber caracterizar o que é manipulação! não só sei, como enxergo e digo: se eu estou numa luta é porque quero reparar uma injustiça que está claramente colocada. acho que é legítimo. acho que a direção das lutas sociais estão constantemente em disputa, mas quem decide os rumos que o movimento vai tomar, são os que fazem esse movimento: no caso, trabalhadores.

enfim, como eu disse, só um desabafo. no final das contas, para me entender, basta olhar pra esse humilde blog, onde não estão disponíveis campos para comentários. isso é proposital, obviamente e tem um motivo muito simples e fácil de explicar: POUCO ME IMPORTA A SUA OPINIÃO!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

ensaio sobre ele

não sei dele sequer o nome de batismo. o dia em que completa anos desconheço, mas deve ser num dia sempre lindo, de chuva ou de sol. creio que nasceu sob um signo de ar. mas é apenas uma suposição. se for, combinaria com o meu, que é signo de fogo. fogo que o vento espalha.

sei que é um garoto moderno, sei que guarda em si afeto por outro alguém. o que não é impedimento para que ele ocupe pensamentos meus, onde sempre estamos dividindo um cigarro, cantando 'nas curvas da estrada de santos', enquanto eu dirijo e ele ocupa o banco de passageiro do meu carro e com os vidros bem abertos e os dedos da mão direita brincando com o vento que passa veloz.

não conheço suas preferências, mas se eu tivesse uma televisão, o convidaria pra ver um filme no meu sofá. sem medo de errar, pois penso que ao menos um da minha humilde coleção será do seu agrado. e se não for, a gente passa na locadora ou corre pra um cinema.

preparo mil bons dias, dois mil boas tardes, um milhão de boas noites, todo acompanhados do meu mesmo sorriso gasto, das mesmas mãos sujas de tinta guache, disfaçadas com esmalte rubro. mas isso se não me queimassem as orelhas a mera possibilidade de um olhar seu em minha direção. orelhas que não queimavam assim desde a quinta série, quando de dentro do meu uniforme azul smurf, eu acompanhava o andar macio de um garoto do oitavo ano.

o nome dele é todos que eu posso imaginar, gabriel, leonardo, josé eduardo, joão henrique. às sete da manhã ele é tão lindo quanto às desessete e vinte, o que me faz concluir que ele dorme e desperta lindamente, todos os dias. como tem que ser.

há exatos dez dias sua figura não cruza meu campo visual e eu me encho de um medo esdrúnxulo dele ter mudado de cidade, de estado, de país, ou de horário de ônibus. e se ele se foi? e se morreu de tiro, de acidente de trânsito ou de overdose de heroína?

talvez ele também se pergunte por onde anda a menina de cara engraçada, tatuagem na perna, que o olha pelos cantos dos olhos. pouco provável. deve estar aquecendo-se em algum corpinho macio de moça. a moça com quem divide um cigarro depois.

domingo, 24 de maio de 2009

ela é feia!

mas ele gosta dela e não de mim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

olho clínico pra uma certa palavra

agora a mágoa já passou e no final das contas eu nem me magoei tanto assim. porque o bicho que te rói não sou eu. são os seus próprios medos que enxergam ameaças onde simplesmente elas não existem. claro que não argumentei com tudo que me vomitou na cara. porque simplesmente não existem. hoje sou eu. amanhã será quem for. o bicho que te rói não sou eu. achei especialmente curiosa a parte em que você falou do meu 'blog cheio de aspirações literárias'. nunca pensei que um monte de bobagens pudesse ter uma denominação tão bonita. você não vai acreditar mas eu pensei seriamente em extinguir toda essa aspiração literária pra sempre. somente para acalmar a fúria do seu coraçãozinho ciumento.

acho que não. ficarei na minha como você me sugeriu. eu e minhas aspirações literárias que incluem ou excluem a palavra buceta dependendo da minha disposição.

aliás, ficar na minha é a minha especialidade!

foi só um desabafo. a verdade é que eu te amo e te admiro por você ser o primeiro fruto de uma história que é nossa. mas eu te amo só por isso. no mais você é detestável.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

as folhas repentinamente não se agitavam mais. mesmo aquela que estava prestes a se soltar do galho e deixar-se levar pelo vento do outono, segurou-se no último momento: eles chegavam. ela de vestido roxo, ele com o tênis all star de sempre: vermelho, cano alto. era a melhor hora do dia, quando eles se encontravam, abraçavam-se longamente antes de deitar no velho banco sob o ipê. que ainda não está florido todo de roxo [como o vestido dela, hoje]. eram exatos quarenta minutos, o tempo que ocupavam um com o outro. sempre ali, protegidos do sol, observados pela árvore. se chovesse, eles ficavam em pé, dividiam o mesmo guarda-chuva, chegavam respingados e gelados, mas sempre com calor nos olhares. aproveitavam o momento um sonhando com o corpo do outro, enquanto conversavam sobre as tarifas aéreas, o futebol de domingo, as comidas preferidas, os filmes que fariam juntos, o colete dele, o esmalte dela, o novo livro do chico buarque, as recordações de infância. afinal o que queriam era estar a sós: na sombra da árvore, ou no quarto dela, onde nesse instante uma lâmpada queimou-se. e alguém no prédio da frente pensou que ela apenas foi dormir. mas ela ainda se toca, mesmo quando frio e silêncio. ela respira por ele. e em algum lugar no mundo, ele espera que amanhã chegue logo, para que ela repouse a cabeça no seu colo e fale dos gatos. enquanto as árvores param pra ouvir e depois espalham histórias por aí.

domingo, 26 de abril de 2009

ele fala baixinho, quase sussurando. e fala de coisas simples e com um ar de inocência que quase me faz pensar que é só um menino. não muito parecido comigo e meu timbre de voz estridente e meus gestos expansivos. ele chegou a pouco, ficou pouco tempo, disse pouco sobre ele, fizemos poucas coisas juntos. ele resolveu voltar. não que não estivesse gostando dessa cidade, mas precisava voltar. e logo eu, que promovo aos quatro ventos o desapego, senti um nó no peito quando ele me disse: preciso voltar. não quis me despedir com sexo. preferi a lembrança dos seus olhos pequenos, seu ar um tanto abatido e o sorriso vacilante. mesmo quando me desculpei por estar descomposta em meu pijama de moleton e as meias de dedinho ele disse que esperava me encontrar com a camisola listrada de algodão que ele acha muito sexy, ele sorriu daquele jeito inseguro.

e no dia de são jorge, em meio a tanta gente girando, um caboclo me disse: solta esse cabelo, fia, que você fica mais bonita! e ele mesmo tirou minha presilha: não esconda quem você é. meus olhos marejaram mais pela fumaça do charuto e o caboclo continuou: tem tanta gente que vem e vai na nossa vida, menina. mas quem fica guardado aqui no peito, fia, uma hora volta. quem vai é porque tem que ir. deixa ir, fia, deixa ir. eu só deixei que as lágrimas transbordassem, mas era por causa da fumaça. despedida nenhuma nesse mundo me faz chorar.

sábado, 25 de abril de 2009

nunca se olhava quando estava nua. ela sentia falta não sei do que naquele corpo. era tão, mas tão comum que mal podia se aguentar. a pele desbotada trazia memórias de dias lindos que viveu mas nem se lembrava como. quando pensava naqueles dias era como a recordação de outro a lhe invadir. custava a acreditar que foram vividos por ela, mas foram e ela sabia. só não sentia algo que se aproximasse de emoção ao recordar.

estranho. ela nem notou o quanto mudou nos últimos anos. a única mudança inaceitável se deu antes do seu nascimento. deus não lhe deu um pau e ela sofre, desde o dia em que se descobriu mulher e gente, de um permanente complexo de castração.

ela não se olhava quando estava nua. porque sempre lhe faltava algo entre as pernas. algo que lhe daria direito de decidir, como os homens a hora de começar e de parar. que lhe colocaria no controle das situações. um membro bem imponente e dominador, como ela sempre imaginou que teria, caso não lhe houvessem castrado um dia.

fitou os pés largos dos passeios descalço, sentiu a água morna escorrer junto com todo o sangue que poderia perder durante cinco dias. e lhe passou pela cabeça a certeza absoluta de não ser quem era. a carne era macia, a faca que lhe rasgava era afiada. era o sangue de todas as veias que manchavam de rubro a pele branca, as paredes brancas e tingia a água. foi bonito ver, no último momento, o mundo vermelho, os olhos vermelhos pelas gotas que respingavam. já não era frio o chão.

alguém bateu na porta. estava atrasada para o colégio. café com leite e pão com margarina. venha comer antes que esfrie.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

são essas coisas que me despertam sentimentos hostis. essa vaidade exagerada, disfarçada de despretenciosidade. eu admiro os fantasmas, que vagam sem ser notados, que emprestam suas idéias a outros e muito mais os que se escondem em outros nomes. acredito que pensamento nenhum, que após transcrito ou verbalizado seja propriedade de seu autor. ao contrário, muito mais de quem o ouve, lê e sente da forma como lhe couber. ou não. muito fácil expressar coisas que não querem dizer nada. por isso os poetas morrerão de fome. ninguém vive de poesia! no máximo o poeta será suficientemente convincente para comover e com muita sorte comer alguém!

eu não desisti das palavras, eu não me entreguei por paixão. não me troquei por uma idéia formada, não me esforço em parecer com nada. nem em ser diferente de nada. não vou expor meus conflitos. não encontro espaço pra eles sequer em mim. não impressiono nem uma pedra de calçada. e não me mostro pra causar impressões. antes fosse inerente o desejo de ser só minha, de abrir mão das tuas mãos.

não me dói a despedida. não me causa aflição a chegada. um poço sem sensações. um vaso sem flor. em tantas camas que me deito, em tanto calor que partilho, não me resta senão as palavras, para esquecer o dito e o não dito.

terça-feira, 31 de março de 2009

fui eu...

'há algo errado no paraíso. é muito mais que contradição.
sou eu caindo num precipício e você passando num avião.
você me olhou, fez que não me viu. foi como se eu não estivesse ali
desligou a luz, deitou, dormiu. nem pensou em se divertir.

vai ver que a confusão fui eu quem fiz, fui eu...'

quinta-feira, 26 de março de 2009

quando me veio o medo

foi quando eu não esperava. não passava pelo pensamento sequer rastro. aconteceu nos primeiros dias do outono, quando os dias ainda são quentes, mas as manhãs e as noites são temperadas pelo vento noroeste. aquele mesmo que levanta as saias e brinca entre as pernas, que enlouquece com seu cantar constante, que seca, derruba e arrasta as folhas.

era outono. era tarde. o sol quase a se pôr. eles encontravam-se sentados. ombro com ombro. lado a lado. não se olhavam, mas conversavam sobre algo que eu não compreendia, pois estava com fones de ouvido. um aceno de cabeça em minha direção, uma sombra de sorriso nos meus lábios.

ele me veio. medo. me abraçou e seus braços eram frios. segurei a alça da bolsa, ele não poderia me levar dali. diminui o volume dos fones, a voz feminina dentro deles ia dizendo '... calendário que nunca chega ao fim...' mas se calou antes de completar a frase. então eu pude ouvir a voz dele: noite, pai, porta da cozinha. ou qualquer coisa assim.

o medo encostou a cabeça nos meus ombros e sorriu maudosamente quando me arrepiei com seu toque. eu disse não! o medo disse sim! foi então que eles se levantaram. ele. ela. caminharam de costas para mim. a luz que dançava no espaço entre os dois corpos se desfez, as mãos se tocaram, os corpos se juntaram e caminharam abraçados.

nessa hora o medo entrou pela minha boca, deu nó na minha garganta, desceu e me chutou o estômago por dentro: uma, duas, dez, mil vezes. depois ele se foi e me deixou como antes: só.

e embora toda a solidão que já senti na vida, nunca fui tão só quanto no momento que se seguiu. o abandono do medo e a certeza que ele não me esqueceu. que voltará. porque o medo sempre volta. e meu coração pesa no peito. um peso que sozinha eu não suporto carregar.

quinta-feira, 19 de março de 2009

eles sempre terão paris...

e nós sempre teremos casablanca





- todo homem, obrigatoriamente deve ser richard blane ou victor lazlo. agora, filho se um dia uma mulher disser que você é os dois, ela estará definitiva e eternamente apaixonada por você.

- mas pai, e se ela não tiver visto o filme?

- ela então o verá. e lhe dirá...

terça-feira, 17 de março de 2009

'faz tempo que a gente cultiva
a mais linda roseira que há
mas eis que chega a roda viva
e carrega a roseira pra lá...'

quinta-feira, 12 de março de 2009

pai, eu que te escrevi tantas coisas, assim só por distração. você sabe como eu me sinto ridícula por isso, mas é que por vezes me esqueço de lembrar das coisas que você me ensinou. de nunca me sentir sem valor, de sempre saber rir e fazer a vida mais leve. às vezes me abandona aquela sensação de alegria e liberdade de quando você me rodava e rodava, às vezes ela se vai de mim.

em você que eu nunca vi tristeza, mas que existia, hoje eu sei. mas sempre com sorrisos você me recebia, mesmo na última vez e você sabia bem que era a última. você sabia como ninguém. disse pra eu sempre cuidar das nossas plantas, mas eu não o fiz, pai. elas não tinham razão sem você. mas tatuei em mim a sua flor preferida.

espero que sempre me perdoe por eu ser essa filha toda errada, da qual você não sentiria nenhum orgulho, hoje. às vezes penso que é bom que não está aqui pra me ver... me perdoe por isso também.

não que eu sinta sua falta, mas nossa vida era tão mais fácil quando minha única preocupação era levar o xuxo pra passear e rir de você jogando ele no lago pra que ele nadasse todo molhado até onde estávamos. seria bom voltar.

não pense que estou te julgando, nunca faria assim. você soube ter coragem, chérrie! mais que qualquer outro. a vida sem você mudou tanto que não acredito mais que um dia a gente possa se abraçar de novo, quando eu me for desse mundo. mas também não duvido que aconteça.

águas de março

'é pau. é pedra. é o fim do caminho
é um resto de toco. é um pouco sozinho
é um caco de vidro. é a vida. é o sol
é a noite. é a morte. é um laço. é o anzol

é peroba do campo. é o nó da madeira
caingá, candeia. é o matita pereira
é madeira de vento, tombo da ribanceira
é o mistério profundo. é um queira ou não queira

é o vento ventando. é o fim da ladeira
é a viga. é o vão, festa da cumeeira
é a chuva chovendo. é conversa ribeira
das águas de março é o fim da canseira

é o pé. é o chão. é a marcha estradeira
passarinho na mão, pedra de atiradeira
é uma ave no céu. é uma ave no chão
é um regato. é uma fonte. é um pedaço de pão

é o fundo do poço. é o fim do caminho
no rosto o desgosto. é um pouco sozinho
é um estrepe. é um prego. é uma ponta. é um ponto
é um pingo pingando. é uma conta. é um conto

é um peixe. é um gesto. é uma prata brilhando
é a luz da manhã. é o tijolo chegando
é a lenha. é o dia. é o fim da picada
é a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

é o projeto da casa. é o corpo na cama
é o carro enguiçado. é a lama, é a lama
é um passo. é uma ponte. é um sapo. é uma rã
é um resto de mato na luz da manhã

são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração

é uma cobra. é um pau! é joão. é josé
é um espinho na mão. é um corte no pé

são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração

é pau. é pedra. é o fim do caminho
é um resto de toco. é um pouco sozinho
é um passo. é uma ponte. é um sapo. é uma rã
é um belo horizonte. é uma febre terçã

são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração'

sexta-feira, 6 de março de 2009

no bar

ela sentada sobre os joelhos dele. os lábios se descolam e ela:

- você não beija de língua?

ele, com aqueles olhos de criança e cara de cansado:

- não gosto muito de beijos de língua!

não satisfeita com a resposta, ela:

- você é hetero?

e ele, com um meio sorriso, daqueles que faziam ela desejar que ele acordasse ao seu lado pra sempre:

- ah, eu sou no mínimo 'bi'!

ela, mentalmente: 'nada que eu não possa resolver...'

só restou aos lábios se colarem novamente.

quanto engano...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

siga as luzes
é lá que se encontra o que é nosso
é lá o nosso descanso
saberemos quando chegarmos
vindos de onde vier
choraremos de alegria
é o nosso retorno

não caminhamos juntos
vamos cada qual por sua estrada
mas eu sei de ti
ainda que sem nome e sem rosto
e tu saberás de mim
quando for a nossa hora
para além das luzes
que nos enche de medo
de ser somente a ilusão imensa
o vazio

acredite-me
é tudo de verdade
não deixe que o mundo te confunda
não deixe que os pés te enganem
não há dor que resista
ao encontro dos que se esperam
e que se buscam

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quem quer ser um milionário?

acomodei-me na poltrona ainda na incerteza se doze reais seria um preço justo para assistir um recém-premiado com oscar de melhor filme. e um dos filmes mais premiados da década, oito carequinhas! ao meu redor ruidos de pipoca, de refrigerante pelo canudinho e de bocas apaixonadas se beijando. claro, é só uma estúpida sessão de cinema!

pois então que apaguem-se as luzes e começe o espetáculo. o letreiro inicial do filme apresenta uma questão e algumas alternativas de resposta. daí em diante desfia-se uma história de amor que tem como cenário uma Índia muito diferente da índia da novela das oito. e como ponto central um programa de tevê no estilo 'show do milhão'! tá, isso é uma coisa!

outra coisa são os aspectos técnicos do filme. hã? roteiro? direção? atuações? fotografia? trilha sonora? sim, e um pouco mais! não fosse eu uma otimista incorrigível, eu diria que 'slumdog millionaire' é um filme mal feito! que não passa de uma história 'água-com-açúcar', raso em seus argumentos de cunho social, onde expõe pobreza, violência e até conflitos religiosos de uma forma irresponsável e sutilmente parcial, eu diria. danny boyle filmou de forma muito parecida com fernando meirelles [aaargh!]. mas até isso eu soube perdoar! o roteiro é até um certo ponto bem previsível e com vários furos e definitivamente o filme não convence como 'obra-prima', mas aí é que está a questão: não é uma obra-prima, mas tem o seu valor!

o valor de slumdog está no carisma de jamal e no amor entre ele e latika [o amor da sua vida desde sempre]! tornar-se ou não um milionário é uma questão secundária. não há como não torcer por um amor jovem e embalado por uma trilha sonora alucinante e deliciosa de ouvir! o 'happy end' não poderia ser diferente! é tão inevitável e acho que é aí que mora o segredo. é singelo e bonito. ninguém fica torcendo por uma tragédia final impactante que fará o mundo pensar na 'vida como é ela é'! no final é como dizer: qual o problema em sair do cinema sorrindo? nenhum... e aliás: impossivel não achar no mínimo curioso a apresentação dos créditos finais que destoa do filme, mas é muito divertido!

é clichê? clichê é ficar dizendo que tudo é clichê! clichê é ficar pagando pau pra filme 'cabeção' e se sentindo o cult-descoladinho!

a premiação do oscar atende muitos outros interesses além da 'sétima arte em si'. em 2008 um filme que eu considero o primeiro grande clássico do século 21: 'sangue negro' perdeu a estatueta para o insoso 'onde os fracos não tem vez'. [é a minha opinião, ora! esse blog é meu ou não é???]. mas diante dos concorrentes apresentados em 2009, slumdog millionaire é o melhor entre os cinco! não é o melhor do diretor danny boyle, ainda acho que 'trainspotting' é seu melhor momento ['a praia' é algo que deve se esquecido pra sempre!]. talvez o prêmio de roteiro adaptado tenha sido o menos merecido, eu apostava em 'o leitor'! aliás, eu errei quase todas as minhas apostas, diga-se de passagem!

saldo final: slumdog foi uma boa surpresa pra mim e confesso: me encantou! digo isso deixando todos os aspectos não bons do filme!

enfim, depois de doses cavalares de 'jai ho', eu me despeço do caro leitor e comunico que para vossa alegria só voltarei a postar sobre cinema depois do oscar 2010, pra manter a tradição!

nota final: kate winslet é uma ótema atriz! merecia o oscar só pela encenação ao receber o oscar! aaafff ¬¬"

[minhas análises cinematográficas são de doer!]

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

ele disse 'eu te amo' primeiro. e não era admirável que assim o fosse porque tinha aquela incorrigível mania de precipitar-se. mas sabia que não era o caso. a amava desde o dia daquele passeio. desde que encontrou os olhos cor de amêndoa, que afagou os cabelos quase sempre despenteados, que segurou na mão quase sempre indecisa e que ela movimentava enquanto falava. ora a enrolar as pontas do cabelo, ora a segurar o brinco, às vezes na boca, comendo as unhas sempre vermelhas e finalmente de encontro à mão dele, dedos entrelaçados e tudo.

ser objeto do amor de alguém era idéia que sempre a assutou. ela não era bicho desse mundo, tinha aquele espírito solto e asas nos olhos. e um talento incomum de ser detestável com qualquer um que pudesse ter por ela algum afeto. até ele acontecer. ele de jeans escuro e sempre perfumado, ele a jogar levemente a cabeça para trás quando sorri, ele dirigindo concentrado, cantarolando um samba trite, com seu vocabulário limitado e suas idéias ingênuas sobre futuro e família.

eram opostos. ela sempre mais quieta, sempre mais intensa. ele sempre sociável, sempre ocupado. só era certo dizer que de igual eles possuiam um encanto recíproco e era o que lhes mantinham firmes e fiéis.

'eu te amo' ela ouviu e apenas sorriu e lhe beijou na boca. no escuro, sentindo o respirar calmo enquanto ele se entregava ao sono e aos sonhos, ela pode responder baixinho: eu também, benzinho. eu também te amo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

juro...

que eu sempre sonhei em passar o domingo de carnaval acompanhando a entrega do oscar por um chat, conferindo minhas 'apostas' para cada categoria! e confirmando o que todo mundo já sabia: minhas previsões cinematográficas só não são mais ridículas que o próprio oscar!!!


não acredito que vou perder três títulos em dvd para um bando de nerd's!!!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

quero agradeçer a quem corresponda

obrigada por se esforçar em superar as minhas expectativas
obrigada pelas verdades banais e obrigada pelas mentiras perfeitas
obrigada pelos passeios sob a chuva e pela sombra sob o sol
obrigada por me tirar da monotonia dos meus dias sempre tão iguais, das minhas noites em claro. obrigada por ser chato como um filme iraniano e me dar sono.
obrigada por se fazer de burro e me deixar sentir mais esperta, mais bonita e melhor de cama que você.
obrigada por não cortar as unhas dos teus dedos da mão tão rente a carne e por me deixar roe-las.
obrigada por teus dedos que me tocaram certinho, e me fizeram sorrir de olhos fechados. e foi tão bom.
obrigada por beber comigo, por me fazer rir mesmo sem vontade, por me fazer esquecer, ainda que por poucos momentos que a tpm existe.
obrigada por ouvir as minhas esquisitices de garota sozinha no mundo.
obrigada por me fazer acreditar que por um momento eu tive alguém nesse mundo. que um dia, alguém me quis contente.
obrigada pela desilusão [eu não disse decepção] do que te imaginei.
por um momento eu quase acreditei. obrigada por me lembrar que não.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

até uma pedra de calçada sabe: eu não valho nada. e não perco uma oportunidade de ser ridícula. ou melhor, perco quando alguém mais disposto ao ridículo chega na minha frente. droga!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

amo

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

eu até me importaria, mas apenas se isso fizesse alguma diferença pra você. porém, eu te imagino e deve ser mesmo assim, que você franze a testa e entorta a boca cada vez que pensa na minha pessoa. eu. eu e o precioso tempo que eu passei tentando claricear e te impressionar e você apenas entorta essa sua boca bonita, como se eu fosse um doce azedo, ou uma comida que não lhe caiu bem [aqui, caro leitor, sinta-se a vontade para fazer uso do duplo sentido, hã?].

minhas lindas unhas vermelhas, meus dedos a equilibrar um bastão cancerígeno que agora está sujo de batom. assim como a sua boca, toda borrada, como a do coringa de heath ledger e por quê? porque eu não resisti ao teu beicinho de desprezo e contra a sua vontade, pulei no teu colo, agarrei-te o rosto com ambas as mãos e te beijei na boca, um beijo daqueles bem molhados e cheios de língua! você tentou se esquivar, como se eu fosse uma cadela a te lamber a cara e eu [como uma cadela] nem me importei. porque não me importo com essa imagem que você faz de mim, se é que faz alguma. e não me importo porque agora me parece tão patético sua boca borrada do meu próprio batom, como se você tivesse devorado uma macarronada com muito molho e estivesse muito satisfeito e eu sei que você está!

eu te amo por você ser um homenzinho desprovido de qualquer talento, dotado talvez de um raso conhecimento, pouco além do saber da maioria dos seres que habitam esse mundo e que comparando-se aos tais, você se acha infinitamente superior. afinal, quem nesse mundo [além de você] é tão descoladinho?

você se levantou irritado, eu ofereci minha blusa para que se limpasse. você pareceu se ofender, mas aceitou só para não sair pela rua com a cara do bozo. abaixou-se e passou os lábios pelo avesso da minha blusa, a boca perto do meu umbigo. instintivamente cerrei os olhos. e você não notou. você se foi pelas ruas, recusando minha oferta para que ficasse até cessar a chuva. você não quis, preferiu seguir molhando a camisa de listras horizontais que fazem seus ombros parecerem mais largos. mas não se iluda, ela te deixa mais gordo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

fim de férias

e internet é o tipo de combinação que não anda fazendo bem pra minha cabeça, saca? todos os dias eu me apaixono virtualmente pelo menos umas vinte vezes por dia. [argh!]

desse jeito, meu coração leviano não aguenta...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

declaração de amor

ele é meu alter ego masculino. por ele eu desisti de ser homem!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quem eu sou, quem eu não sou, quem eu fui, quem eu queria ser.

eu sou música sempre. samba mpb rock blues. assim mesmo, tudo junto. mas não sou dança. sou bem paulista, sem gingado, sem molho, nem ritmo, nem nada.

sou cinema. acompanhada ou sozinha, em casa ou em salas de exibição. às vezes sou blockbuster, às vezes alternativo, de qualquer canto do mundo. cinema bom é o que me emociona, o que me faz pensar, o que me choca e o que me diverte também. sou rever os filmes favoritos, sou discussões filosóficas, argumentos sem fim. sou walter salles e não sou fernando meirelles.

sou bar, sou violão, sou 'toca aquela', sou roda de amigos, sou mais os amigos não convenientes. os que não estão no trabalho, na sala de aula, não estão na rotina, mas que se mantém firme e fiel.

sou livros. muitos. sou romance, biografia, filosofia, contos e sou muita poesia. sou livros novos, velhos, amarelados, de páginas rabiscadas ou arrancadas, sou os emprestados na biblioteca, os comprados no sebo, com dedicatórias na primeira página. sou os meus e sou os teus. e se eu amar, não vou te devolver, porque sou os livros roubados também.

sou cozinha, sou aventuras gastronômicas e sou satisfação! do arroz com feijão ao caviar.

sou mau e bom humor, sou agradável e detestável, sou tpm e muitas lágrimas. não sou [a mais]engraçada. não sou popular. não estou no centro de nada. não sou balada, mesmo as conversas ao pé do ouvido precisam me cativar.

sou a calma, sou curiosidade, sou mais ouvir e não é por não ter o que falar. é só porque sou interesse pelos outros, por suas histórias.

sou solidão. sou tardes no sofá lendo ou pensando em nada. sou tarde a fumar na rede. sou exigente comigo em relação a outros e pouco exigente com outros em relação a mim. [qualquer babaca me distrai]

sou gostar da cidade, do campo e do mar. sou adaptável. sou gostar de crianças. sou amar as crianças. sou brincadeira, muito doce e nariz de palhaço. sou gostar de bicho e de jardim. sou lírio, antúrio e hibisco.

sou preservar o que é antigo. velhos amigos da mesma rua, professores do colégio, primos que moram longe. e coisas também. sou muitos souvenirs e sou relicário.

às vezes sou preguiça. mas sempre me disponho para os meus.

sou aqui. me encontro aqui e sou momento.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

odete

sérgio sampaio [cara que sabia das coisas...]



não é vivendo que se aprende, odete!
mas é vivendo que se aprende a viver

a vida passa, eu fico louco
fico rouco, fico pouco me importando
com o que vai acontecer

a vida passa, eu fico louco e rouco
fico pouco me importando
e preocupado com você

você é mesmo carne de pescoço
você é burra como não sei o quê

eu rôo um osso desde um tempo antigo
desde um tempo lindo
ao conhecer você

você é mesmo essa cabeça antiga
e tudo isso com a preocupação
de ter na vida o bom de tudo e nada
eu falo da chegada
ou de ir embora, agora
neste caminhão
ou de ir embora agora
neste avião
ou mesmo viajar de trem

muito bem

que maravilha
por entre bancários, automóveis
que maravilha...
eu não necessito.
apenas quero.
e quero aos excessos!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

saudades

eu não tenho saudades de nada. e não é que eu seja muito auto-suficiente, não é que os que partiram ou estão distantes fisicamente não me façam falta. é só que o que está vivo naturalmente em movimento permanece ao meu alcance somente o tempo que tem de permanecer. não gosto desse umbiguismo de querer tudo sempre por perto, esse 'forçar amizade', como se as relações fossem coisas que se pudesse barganhar!

talvez aquilo que mais me ensinou a aproveitar ausências outros diriam que é minha pior dor e de fato é. mas eu aprendi que não se lamenta, não se chora pelos que escolheram uma morte consentida. pelos que souberam determinar seu próprio tempo nesse mundo e dizer: me basta! é só uma questão de conviver com escolhas e quando acontece fica tudo mais claro. daí pode ser até um telefone que perdi, um livro que esqueci, um filme que emprestei e não me devolveram, um carro que nem era meu e me roubaram, um amor que foi morar do outro lado do mar. tudo é substituivel, só é preciso deixar que as coisas sigam... indo ou vindo por onde quiserem.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

desenho de céu

diga-me que em algum lugar
entre as paredes de onde moras
e o vazio dos que não te habitam
existe e persiste, firmemente
um desenho do nosso passeio no céu

o nosso céu
aquele que nos pesa
daquela vez claro, rabiscado de nuvens
lindo e convidativo como águas rasas
onde nos atrevíamos mergulhar

o céu noturno
escuridão que não nos tomou de assalto
nosso almejar por estrelas
quantas coubessem entre nossos dedos
quantas se despejassem
ao ponto de inundar nosso céu de luz e canção

o céu tempestivo
de nuvens baixas e pesadas
cheirando a chuva que enfim se derrama
e o faz como se fossemos nós a própria chuva
e nós somos
gotas unidas a escorrer para dentro da terra

encontre o nosso desenho
retome nossos passeios
ainda que só e distante
não se desprenda da nossa lembraça
rabiscada em grafite cinza
(a mais triste das cores)

permaneça no colorido
alegre e frágil de pipas e rabiolas
que dançam no céu que é nosso
nesse vento de verão
que sopra de qualquer canto da terra
vem, e passeia comigo

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

o outro lado de cá

era muito cedo e, totalmente desperta como estava, saí da cama lentamente para não acordá-lo. um cuidado desnecessário, pois sabia do seu sono pesado e naquele momento estava ele totalmente entregue a morpheu. ainda assim sempre me levantava com cuidado, talvez não por ele, mas pela superioridade dos despertos sobre os indefesos dormente, que eu sempre imaginei que existisse. fazia calor, olhei-me de corpo inteiro no espelho posto verticalmente no banheiro. a pele pálida, as marcas das dobras dos lencóis e do travesseiro na cara. feia. e totalmente sem disposição de tornar aquele espelho mais feliz. saudades do mar. da constância de suas ondas, do cheiro de sal, do ardor nos olhos e do sol. quanto tempo não sentia o sol. nunca tive disposição para clubes. assim que ele terminasse o livro, voltaríamos a viver perto do mar.

ele deixava tudo meio esparramado, nunca se importou que eu lesse seus escritos e até me pedia opiniões e sugestões e ainda que não solicitasse, eu sempre as proferia sem nenhuma propriedade, mas com muita intuição. lá estavam sobre a mesa as folhas de caderno soltas, desajeitadamente arrancadas. sabia que ele trabalhava numa nova história. pensei que fossem ensaios, eram tão somente poesias. algumas palavras riscadas, reescritas, muitos, muitos versos cheios de uma doçura incógnita que combinava com ele. eu já sabia de seu apreço por poesia. ele justificava que escrever em verso o auxiliava na construção de sua prosa. eu achava tudo aquilo lindo e acreditava que ele tinha grande talento, embora alguns dos últimos editores discordassem.

o calor tem em si certo aconchego. busquei o colchonete e me instalei na varanda na companhia daqueles versos. eram delírios subjetivos, cheios de cores, de idéias soltas, vagas, mudanças repentinas de ritmo. falava de amores modernos, de fugas, de pele morena. acendi um cigarro e como que num envolvimento infantil senti ciúmes de suas palavras, imaginei mulheres, olhares, bocas vermelhas, fogo, tudo que não remetia a minha pessoa, como se devesse ser eu a única e melhor fonte de inspiração a ocupar aquela mente.

senti quando ele despertou, percebi seus movimentos e fingi não notá-lo quando veio ter comigo. sem desviar os olhos do papel pedi que me explicasse toda aquela poesia. ele, sem nenhuma ironia me respondeu: 'são seus. fiz pensando em você.'

tentei me fazer de desacreditada, mas quando encontrei os seus olhos vi que ali não haveria explicação. era só um desejo afinado de permanecer para sempre naquele momento, numa eterna contemplação entre letras, palavras, versos, canções. tudo ali entre nós. o que nos afasta. o que nos une.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

não dessa vez

sempre penso, e nesses momentos como agora, com um pouco mais de atenção, no que foram e o que são as reações humanas. sempre tão comuns e quando não, são só aquilo que se esperaria mas que não se aceita. sabemos do peso das coisas efêmeras. leve, muito leve pousa. e pousa de medo e preguiça em ser tudo aquilo que verbalizamos nas palavras caladas do nosso silêncio emudecedor. não que necessitássemos delas, apenas queriamos, e aos excessos! também o nosso livro queimou na fogueira do tempo e restaram apenas as cinzas que repousam por sobre a antena digital, de onde só se esperam novos gritos de libertação.

de onde dançamos ao som de tua música, que nos liberta e nos prende ao teu dialeto. tanto me fazem concisa e prolixa porque sei que me amas, e dentro de ti há que se guardar muitas línguas, pronomes e formas ortograficamente corretas. não que as aceitamos, porém apenas como consentimento indignado seguido de morte que carregarei como tesouro por toda a vida. não importa o que nos passar, te amo com a sabedoria dos que nada sabem. te amo com presença e distancia,só porque te amo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

boa viagem

ele sabe melhor que ninguém que não posso. ainda assim, insistiu até o último momento: vamos para o chile?. me imaginei por dias de malas prontas, depois olhando o mar do pacífico em valparaíso e do meu lado direito, ele. depois me imaginei de volta, me orgulhando de dizer que optei por uma aventura e mandei os cálculos, as malditas provas, os meses meses de estudo e o peso de ser aprovada em mais essa etapa, tudo para o diabo! que deixei tudo para o próximo ano, isso se eu não morrer até lá, e fui com ele pelo continente.

não. e ele é o culpado. passou meses me convencendo que eu precisava disso. quando quis desistir, ele me incentivou como nenhum outro. dividiu comigo incontáveis garrafas de cerveja e tivemos o ano-novo mais 'anti-social' e mais divertido de muitos que me lembro. daí ele vem e diz: vem comigo pro chile!. não posso. me encontra lá depois de tudo, então!. talvez. eu aprendi que muitíssimas coisas podem acontecer num período relativamente curto e mudar o curso dos nossos rios. que não devo ter certezas sobre o futuro, nem se esse futuro corresponder a poucas horas seguintes apenas. talvez. talvez o encontre em valparaíso, ou onde ele estiver.

ele já foi. sei que voltará. e seria egoísmo demais da minha parte querer que ele ficasse apenas porque penso que preciso dele nesse momento. não preciso dele nesse momento. nem em momento algum. e ainda que precisasse, não diria. não me gusta reconhecer fraquezas, ainda mais fraquezas emocionais. se pudesse definir-me a partir disso diria que me considero a pessoa mais generosa do mundo, e também uma mula egoísta, incapaz de dizer 'preciso de ajuda'. talvez por ter condicionado por tantos anos, meu equilíbrio emocional a uma psicanálise que eu jurava, não me deixaria conhecer um só dia de tristeza. até o dia em que viram pra mim e dizem: você está pronta. à partir de agora, conseguirá seguir sozinha. se precisar, me procure. nunca! vamos não olhar pra trás e olhar pra frente.

voltando a ele, antes de partir me perguntou: que quer de presente?

queria uma lhama! mas se ficar difícil de carregar, apenas pense por um momento em mim e faça uma fotografia bem bonita.

teus olhares pelas lentes é o que em você me faz mais feliz.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

ela é linda. com seus silêncios cheios de significado, os passos que nunca percebo, as músicas cantadas sempre muito baixo. tê-la por companhia desperta uma alegria triste e desmedida, porque ela é sozinha e ainda assim cheia de seres que lhe escapam, se espalham e sempre voltam. por isso ela nunca soube bem o que é ser só, embora nunca tenha tido disposição para companhias. ela bateu na minha porta por muito tempo, eu custei a atendê-la e quando o fiz pedi que prometesse que ficaria pra sempre. ela consentiu. nossa vida não poderia ser mais feliz. ela lê para mim histórias antigas e outras que ela mesma inventa. ela chora com a cabeça repousada em meu colo quando vê algum filme. ela sempre chora nos filmes e é quando fica mais bonita. existem detalhes na vida que só ela nota. e ela os ensina a mim, embora me falte humildade para aprendê-los. mas é fato: desaprendi a viver sem ela. sem seus olhos que olham para dentro e não para o mundo, sem os segredos que ela só me revela quando em noites insones. não disse, ela dorme muito pouco, assim como eu. minha cara e doce menina.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

você me beijou na testa e eu sempre achei esse o mais bonito dos beijos. onde encostou teus lábios ficou uma cicatriz e são muitas as que se espalham por partes minhas. os beijos são hoje ausentes, mas as marcas pemanecem. algo que vivi, em algum momento dessa vida fez de mim um bicho assim, selvagem demais para sentir desejos de entrega plena. selvagem demais para me ressentir em mágoas com tua ausência. descrente demais do futuro para me preservar e para não viver. deixei que tudo se despojasse de encanto. e não sobrou sequer a poesia. nemo que dizer. só restou a tua marca. essa boca que você tem é calma, mas teu beijo me machucou.