domingo, 7 de junho de 2009

passeio

negou-se. ainda era dia. e seria pra sempre um dia de sol quente, que arde no lombo. não queria se lembrar dos seios à mostra, dos olhos que a olhava, de como, conscientemente se virou de lado e dormiu um sono que não se dorme quando há um corpo colado ao seu.

a vista recuou ao excesso de luz. o mundo era álcool e nicotina e ela era só mais uma vadia, semi-nua, numa cama que não era a dela. não queria calçar as botas porque estava calor. saiu descalça, despenteada e silenciosamente. o concreto das calçadas queimavam seu pé, mas ela não se importou. nem com o chorume que escorria dos sacos plásticos, nem com o miserável que lhe estendeu uma mão na esperança de uma moeda: dinheiro não tem, tio. fica com essas botas! se conseguir cinco contos nela, tá no lucro!

dia eterno. sol que teima em não se pôr e dar espaço pra escuridão, onde qualquer duas ou três doses e um baseado transforma qualquer filho da puta em uma trepada em potencial.

ela pagou a passagem com nota de vinte e se sentou no último banco do ônibus. algumas fileiras à frente uma perna masculina agitava-se ansiosamente. é ele.

'ainda vou me casar com ele. juro que vou.'