quarta-feira, 16 de novembro de 2016

eu já não sei se dói te ver

os dedos, os dias ou os dois

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

acho que se parece comigo
esmalte na cor da flor 
estampada no meu vestido

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

a noite na arábia

num sonho eu chorava em árabe. não entendia o que a minha voz dizia, mas sabia do que eu precisava.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

rascunho de natal

pintei minhas unhas por longas horas. hoje é véspera de natal. minha irmã quer um gorro de papai noel pro primeiro natal do bebê. respondo os votos que recebo virtualmente, mas de súbito me recolho.

"onde estão as fitas? pra quem é esse presente?"

eu não sei. embrulhei no fim de semana os presentes que quero oferecer. se vira.

este ano decidi não cozinhar pro natal. decidi não dividir a cozinha da minha mãe com minhas irmãs e cozinharmos para nossa família.  pintei as unhas e isso levou muitas horas.

sombras de tristeza me rondam e como se eu nunca tivesse sofrido, não sei dizer o que me entristece. me dizem que é só melancolia natalina, que é muito comum. só sei que chorei lágrimas volumosas sem motivo aparente e agora estou exausta. e ainda tem uma jornada familiar até amanhã acabar.

eu queria que conversássemos longamente, deitados na cama e depois de um baseado fazermos amor. mas ele só fala comigo para me fazer perguntas com as quais não estou sabendo lidar.

saí do banho aliviada do calor que faz, escolhi um vestido usado porque tardiamente me dei conta que não comprei roupas novas para o natal. tudo bem, já que a primeira celebração dessa data se deu num estábulo em belém com zero glamour. e quem precisa de roupa nova e maquiagem pra sentar na sala da mãe pra comer comida gorda e beber espumante barato.

parabéns pra jesus. todo mundo irá na sua festa. parabéns pra sir isaac newton, que também estará de aniversário amanhã.

domingo, 17 de abril de 2016

uma onda molha os pés
quanto tempo já se ia?
nesse cabelo salgado
mar fazia

quarta-feira, 9 de março de 2016

penso e logo penso.
apenas
existo por muito mais coisas
que os meus pensamentos
não penso muito
então preciso ser um pouco mais.
sou apenas
sou alguém

querida

a noite está quente e hoje eu vou sair. de vestido curto e colado, cabelo solto e batom. sou alta mas vou de salto. quero dançar e beber. quero flertar com um lindo desconhecido e encostar nele quando passar por perto. quero um homem cheiroso e de dentes bonitos pra ficar de conversa mole, vamos fumar juntos do lado de fora, talvez beijar. se me cansar dele, quero dançar com outro, jogar meu cabelo de lado, exibir minha nuca, deixar suar.

hoje a noite dormirei fora ou vou trazer alguém pra cá. quero a companhia de alguém que talvez ainda não conheça. a gente pode se divertir, mas tem que ser quem eu escolher. eu saí pra procurar um homem. me vesti pra provocar um homem, mas tem que ser o homem que eu querer. 

não quero experimentar bebidas que sem o meu consentimento alteram o meu estado de consciência e me fazem menos resistentes a uma violência qualquer. não quero ser forçada, não quero murros no meu rosto. não quero minha pele ferida e meu sangue se espalhando por tudo. 

quero uma noite louca e consentida e eu posso querer. quero viver pra querer. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

aniversariar

um ano parece tanto tempo quando se dá conta que Oliver Sacks já morreu.





sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

mirante da lua

pouco a pouco a lua se avolumou na nossa frente e impacientemente tua mão soltou-se da minha, como se num instante se desfizesse todo o seu medo de altura. "quanto tempo vai demorar ainda?" você perguntou e eu mirei para fora e para baixo e avistei muito pequeno o homem que trocava peças do motor da máquina. não respondi. 

não tínhamos mais pipoca e refrigerante. minha ideia subir na roda gigante, insisti como criança e você concordou com apenas uma volta, mas daí... 

tentei te distrair com suposições sobre a vida das pessoas que distantes, pequeninas circulavam lá embaixo pelo parque. as vozes nos chegavam num murmurio sem sentido, misturando gritos e risos com o barulho do vento. teu olhar sorriu com a minha graça. mas no fundo destes olhos rasos senti um tanto dessa pena, dessa dó que te faz atribuir a mim um afeto desinteressado que não se preocupa em me ceder uma ou duas vontades, mas sem nunca arder. 

meu lenço voou por descuido e eu choraminguei pois aquele era de seda pura. você me beijou na boca com lábios doces ainda um pouco grudentos de maçã do amor e com dedos macios me tocou por baixo da minha saia. 

tudo ficou por um momento suspenso no ar, meu lenço de seda se prendeu no galho de uma sibipiruna. aquela cadeira no alto da roda gigante, nosso mirante da lua, desfeito num segundo quando o motor com um impulso barulhento voltou a girar.