domingo, 31 de maio de 2009

eles sabiam que estavam diante do inevitável, ainda assim ela fez questão que ficasse claro o quanto sentia por aquele momento, ainda que não tenha dito, ele compreendeu. ela sentia sono, vontade de fumar, e pouca disposição pra blá-blá-blás intermináveis, e do ponto de onde enxerga o mundo, nada mudou pra ela. apesar de gostar e de aproveitar afinidades, sabia dentro de si que ninguém é insubstituível. e era o que lhe proporcionava alguma calma. mas ela confessa: sentiu muito por viver aquilo. um ensaio de dor. ela que nunca foi apaixonante, por vezes não perdeu a oportunidade de subestimar a capacidade de alguns em sentir afeto pela sua pessoa. ela já fez uso do seu corpinho pra se sentir superior, mas a verdade é que ela fode com qualquer um. exceto com aqueles cuja proximidade de pensamentos e afinidades ultrapassa qualquer sentido de relação estabelecida de maneira sexual. esses são os que ela costuma fazer de idiota. pra esses ela nunca vai dar.

inevitável. era apenas as coisas que estavam no tempo. ou no espaço que se constituiu no tempo. as incansáveis voltas: o relógio, a vida ou um girassol. ele e ela. tudo ficou sintetizado no tempo. ela carregaria o peso das palavras. só um peso a mais. besteira qualquer. ela não é daquelas dispostas a pagar por coisas impagáveis. mas ela tolera decisões. embora no fundo ela saiba que quanto mais a gente cede, mais a gente terá que ceder, sempre.

ainda assim ela acha tudo engraçado. e viveu coisas suficiente pra saber um pouco dos desfechos inevitáveis. um pouco. quase nada, talvez. e não faz questão de ser platéia. menos ainda de ser personagem. ela contenta-se em existir.

e ela às vezes existe. ou se dissolve. quando em minha presença ela é calada ou vibrante. quanto a ele, ela concluiu: ele é um apanhado de datas, nomes, mil referências que ora são empolgantes, ora são coisa que não se pode classificar. e ela disse mais: ele não existe. não existe.

tudo nela ainda está por viver. à parte tudo que já foi vivido. ele apenas andou. ela caminhou até onde se despediram e separaram-se. ali uma porta permanecerá sempre aberta.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

sou uma boa ouvinte. sim, sou uma boa ouvinte e compreendo muito bem o sentido daquilo que me falam. o problema são os que falam. isso é um desabafo e é expressão da minha indignação, que alcança muitos níveis dependendo do que está em questão. antes de inciarmos é importante que fique claro: se quer conversar comigo, se quer me dar um conselho, se quer expressar sua opinião, parta do ponto de que não sou uma idiota. meio caminho andado: você parte do ponto que eu sou indivíduo capaz de escutar, interpretar e tirar conclusões. ótimo.

daí me surge uma ilustre visita e me diz: cuidado pra não ser massa de manobra!

acho engraçado: ninguém me chama de massa de manobra quando eu estou trabalhando pra sustentar os lucros de grandes empresários e banqueiros. e ainda querem me fazer acreditar que isso é 'nobre'! ninguém me chama de massa de manobra quando eu assisto televisão. só me chamam de massa de manobra quando eu faço greve. como se eu fosse uma idiota, estúpida ou ingênua a ponto de não saber caracterizar o que é manipulação! não só sei, como enxergo e digo: se eu estou numa luta é porque quero reparar uma injustiça que está claramente colocada. acho que é legítimo. acho que a direção das lutas sociais estão constantemente em disputa, mas quem decide os rumos que o movimento vai tomar, são os que fazem esse movimento: no caso, trabalhadores.

enfim, como eu disse, só um desabafo. no final das contas, para me entender, basta olhar pra esse humilde blog, onde não estão disponíveis campos para comentários. isso é proposital, obviamente e tem um motivo muito simples e fácil de explicar: POUCO ME IMPORTA A SUA OPINIÃO!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

ensaio sobre ele

não sei dele sequer o nome de batismo. o dia em que completa anos desconheço, mas deve ser num dia sempre lindo, de chuva ou de sol. creio que nasceu sob um signo de ar. mas é apenas uma suposição. se for, combinaria com o meu, que é signo de fogo. fogo que o vento espalha.

sei que é um garoto moderno, sei que guarda em si afeto por outro alguém. o que não é impedimento para que ele ocupe pensamentos meus, onde sempre estamos dividindo um cigarro, cantando 'nas curvas da estrada de santos', enquanto eu dirijo e ele ocupa o banco de passageiro do meu carro e com os vidros bem abertos e os dedos da mão direita brincando com o vento que passa veloz.

não conheço suas preferências, mas se eu tivesse uma televisão, o convidaria pra ver um filme no meu sofá. sem medo de errar, pois penso que ao menos um da minha humilde coleção será do seu agrado. e se não for, a gente passa na locadora ou corre pra um cinema.

preparo mil bons dias, dois mil boas tardes, um milhão de boas noites, todo acompanhados do meu mesmo sorriso gasto, das mesmas mãos sujas de tinta guache, disfaçadas com esmalte rubro. mas isso se não me queimassem as orelhas a mera possibilidade de um olhar seu em minha direção. orelhas que não queimavam assim desde a quinta série, quando de dentro do meu uniforme azul smurf, eu acompanhava o andar macio de um garoto do oitavo ano.

o nome dele é todos que eu posso imaginar, gabriel, leonardo, josé eduardo, joão henrique. às sete da manhã ele é tão lindo quanto às desessete e vinte, o que me faz concluir que ele dorme e desperta lindamente, todos os dias. como tem que ser.

há exatos dez dias sua figura não cruza meu campo visual e eu me encho de um medo esdrúnxulo dele ter mudado de cidade, de estado, de país, ou de horário de ônibus. e se ele se foi? e se morreu de tiro, de acidente de trânsito ou de overdose de heroína?

talvez ele também se pergunte por onde anda a menina de cara engraçada, tatuagem na perna, que o olha pelos cantos dos olhos. pouco provável. deve estar aquecendo-se em algum corpinho macio de moça. a moça com quem divide um cigarro depois.

domingo, 24 de maio de 2009

ela é feia!

mas ele gosta dela e não de mim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

olho clínico pra uma certa palavra

agora a mágoa já passou e no final das contas eu nem me magoei tanto assim. porque o bicho que te rói não sou eu. são os seus próprios medos que enxergam ameaças onde simplesmente elas não existem. claro que não argumentei com tudo que me vomitou na cara. porque simplesmente não existem. hoje sou eu. amanhã será quem for. o bicho que te rói não sou eu. achei especialmente curiosa a parte em que você falou do meu 'blog cheio de aspirações literárias'. nunca pensei que um monte de bobagens pudesse ter uma denominação tão bonita. você não vai acreditar mas eu pensei seriamente em extinguir toda essa aspiração literária pra sempre. somente para acalmar a fúria do seu coraçãozinho ciumento.

acho que não. ficarei na minha como você me sugeriu. eu e minhas aspirações literárias que incluem ou excluem a palavra buceta dependendo da minha disposição.

aliás, ficar na minha é a minha especialidade!

foi só um desabafo. a verdade é que eu te amo e te admiro por você ser o primeiro fruto de uma história que é nossa. mas eu te amo só por isso. no mais você é detestável.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

as folhas repentinamente não se agitavam mais. mesmo aquela que estava prestes a se soltar do galho e deixar-se levar pelo vento do outono, segurou-se no último momento: eles chegavam. ela de vestido roxo, ele com o tênis all star de sempre: vermelho, cano alto. era a melhor hora do dia, quando eles se encontravam, abraçavam-se longamente antes de deitar no velho banco sob o ipê. que ainda não está florido todo de roxo [como o vestido dela, hoje]. eram exatos quarenta minutos, o tempo que ocupavam um com o outro. sempre ali, protegidos do sol, observados pela árvore. se chovesse, eles ficavam em pé, dividiam o mesmo guarda-chuva, chegavam respingados e gelados, mas sempre com calor nos olhares. aproveitavam o momento um sonhando com o corpo do outro, enquanto conversavam sobre as tarifas aéreas, o futebol de domingo, as comidas preferidas, os filmes que fariam juntos, o colete dele, o esmalte dela, o novo livro do chico buarque, as recordações de infância. afinal o que queriam era estar a sós: na sombra da árvore, ou no quarto dela, onde nesse instante uma lâmpada queimou-se. e alguém no prédio da frente pensou que ela apenas foi dormir. mas ela ainda se toca, mesmo quando frio e silêncio. ela respira por ele. e em algum lugar no mundo, ele espera que amanhã chegue logo, para que ela repouse a cabeça no seu colo e fale dos gatos. enquanto as árvores param pra ouvir e depois espalham histórias por aí.