quarta-feira, 6 de maio de 2009

as folhas repentinamente não se agitavam mais. mesmo aquela que estava prestes a se soltar do galho e deixar-se levar pelo vento do outono, segurou-se no último momento: eles chegavam. ela de vestido roxo, ele com o tênis all star de sempre: vermelho, cano alto. era a melhor hora do dia, quando eles se encontravam, abraçavam-se longamente antes de deitar no velho banco sob o ipê. que ainda não está florido todo de roxo [como o vestido dela, hoje]. eram exatos quarenta minutos, o tempo que ocupavam um com o outro. sempre ali, protegidos do sol, observados pela árvore. se chovesse, eles ficavam em pé, dividiam o mesmo guarda-chuva, chegavam respingados e gelados, mas sempre com calor nos olhares. aproveitavam o momento um sonhando com o corpo do outro, enquanto conversavam sobre as tarifas aéreas, o futebol de domingo, as comidas preferidas, os filmes que fariam juntos, o colete dele, o esmalte dela, o novo livro do chico buarque, as recordações de infância. afinal o que queriam era estar a sós: na sombra da árvore, ou no quarto dela, onde nesse instante uma lâmpada queimou-se. e alguém no prédio da frente pensou que ela apenas foi dormir. mas ela ainda se toca, mesmo quando frio e silêncio. ela respira por ele. e em algum lugar no mundo, ele espera que amanhã chegue logo, para que ela repouse a cabeça no seu colo e fale dos gatos. enquanto as árvores param pra ouvir e depois espalham histórias por aí.