quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

aniversariar

um ano parece tanto tempo quando se dá conta que Oliver Sacks já morreu.





sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

mirante da lua

pouco a pouco a lua se avolumou na nossa frente e impacientemente tua mão soltou-se da minha, como se num instante se desfizesse todo o seu medo de altura. "quanto tempo vai demorar ainda?" você perguntou e eu mirei para fora e para baixo e avistei muito pequeno o homem que trocava peças do motor da máquina. não respondi. 

não tínhamos mais pipoca e refrigerante. minha ideia subir na roda gigante, insisti como criança e você concordou com apenas uma volta, mas daí... 

tentei te distrair com suposições sobre a vida das pessoas que distantes, pequeninas circulavam lá embaixo pelo parque. as vozes nos chegavam num murmurio sem sentido, misturando gritos e risos com o barulho do vento. teu olhar sorriu com a minha graça. mas no fundo destes olhos rasos senti um tanto dessa pena, dessa dó que te faz atribuir a mim um afeto desinteressado que não se preocupa em me ceder uma ou duas vontades, mas sem nunca arder. 

meu lenço voou por descuido e eu choraminguei pois aquele era de seda pura. você me beijou na boca com lábios doces ainda um pouco grudentos de maçã do amor e com dedos macios me tocou por baixo da minha saia. 

tudo ficou por um momento suspenso no ar, meu lenço de seda se prendeu no galho de uma sibipiruna. aquela cadeira no alto da roda gigante, nosso mirante da lua, desfeito num segundo quando o motor com um impulso barulhento voltou a girar.