segunda-feira, 24 de agosto de 2009

mambembe

eu não vejo a hora...



No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Mendigo, malandro, muleque, mulambo bem ou mal
Cantando
Escravo fugido, um louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu
Cantando
Dormindo na estrada, no nada, no nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
ela escolheu morrer. como se escolhesse um doce numa vitrine, ou os sapatos que usaria naquele dia. por ser sempre caprichosa em suas escolhas decidiu que seria morte de parto. ela sabia e nos disse que não foi escolha espotânea, ela sonhou mais de uma vez com olhos infantis que lhe diziam: vai morrer de parto, mãezinha. e ela pensou nas diversas formas de se morrer e decidiu que se não fosse de parto não morreria nunca.

andando e arrastando os pés juntamente com todo o peso da coisa que carregava, ela sorria satisfeita com a certeza que não passaria o momento. dor. uma senhora se aproxima com olhar suplicante, voz baixa: moça, arruma dois reais pro ônibus. ela não registra: me desculpa, senhora, não tenho.

procurou onde se sentar e sentou-se não foi por não suportar a dor que a criatura inquieta e ansiosa por sair de dentro dela lhe causava, foi somente por negar-se a morrer em uma mesa fria onde lhe arrancariam a tal criatura. para ela separar-se da vida que se constituiu ali dentro já era em si uma morte. o sol que brilhava forte já não aquecia mas queimava a sua dor. os prédios ao redor se aproximavam e se afastavam, passeavam pelo azul e ela acho isso bonito, embora não pudesse imaginar como e porque se moviam.

alguém disse qualquer coisa. um rosto desconhecido, mais um ou dois rostos e algumas vozes. ela já não sabia quem era ou onde estava mas sentia que o que escorria do seu ventre por entre as pernas era vermelho e foi o que atraiu aquela confusão de imagens e sons de pessoas que se moviam ao seu redor e que não sabiam o que fazer com a menina que sangrava e sorria. tomaram-lhe nos braços quando ela já não podia mais escolher. um espetáculo à luz do dia refletido no sangue que ficou pelo chão. uma luz imensa e muito mais intensa a cegou mas ela ainda escutava todos os ruídos ao redor. não se preocupou em manter-se por mais tempo, se entregou calmamente à luz que se converteu em escuridão. ainda ouviu de algum lugar uma vozinha estridente que chorava alto quando de dentro dela se desprendeu. e tudo silenciou.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

piegas é dizer 'piegas'

eu não me lembro exatamente o que deveria vir aqui. era qualquer coisa que eu disse enquanto ele queria dormir e eu queria conversar. não me lembro, só me lembro que o título seria esse e que nós rimos deliciosamente enquanto o sono o levava e eu inutilmente tentava mantê-lo interessado nas minhas baboseiras. 'coloca isso no teu blog', foi o que ele disse. eu lhe contei uma história. uma das que está em algum lugar aqui, sobre pessoas que trepam ou morrem ou trepam e morrem, não importa! o fato foi que ele me pediu uma história, portanto não se encontrava no direito de reclamar pelo conteúdo e pela pobreza de argumentos da narrativa.

um mês. é só amanhã, mas eu não quis esperar e assim parece uma desobediência à formalidade de esperar a data em si. nós não vivemos muitas coisas juntos, não fomos amigos de infância, não choramos abraçados uma perda minha ou dele. a beleza está no porvir, e estará quando o provir chegar. se o mundo fosse um jardim, ele seria a minha flor preferida e talvez estivesse tatuado na minha perna. isso é piegas, mas é menos do que dizer piegas. é que me falta um jeito meu pra lhe dizer, um jeito bonito e feito de açúcar, a minha única forma de ser doce, uma vez que sempre fui amarga. sim, eu sempre reconheci a dor e não me poupei. eu deixaria que ele partisse se ainda fosse cedo. mas não é cedo nem tarde, é o momento. o melhor deles. em que eu queria escrever coisas corriqueiras e inventar histórias, mas só me vem uma inspiração: a dele, do seu sono partilhado e suas mãos indecisas. amo.

sábado, 1 de agosto de 2009

quando ele dorme a noite fica mais leve e as cores mais amenas.