sexta-feira, 30 de maio de 2008

todo tempo do mundo

seguem-se lentos os dias e as horas
seguem-se calmos os meses e os anos
o tempo tem seu próprio tempo
o tempo se desenha uma marca em meu rosto
não se incomoda com minha espera
não se perturba com minhas unhas roídas
faz que não me nota
eu, distraindo-me com minhas agulhas
o tempo caprichoso passeia entre os móveis
espanando a poeira da paciência
não se comove com as flores já secas
já não pondera
divide comigo o sofá e mais um cigarro

e eu disfarço, faço um charme
como mais um bombom
troco de canal, troco a pilha do relógio

eu e o tempo

o tempo e minha espera

quanto tempo ainda pra mim?
o tempo não tráz o vento que tráz a minha sorte
o tempo se faz de curto mas é imenso e eterno
me acompanha mas não me guia
seguimos no vazio
se me perco ele me encontra
sempre
e não me deixa esquecer
se faz memória, me tráz lembrança
o tempo segue
eu sigo
como quem vive um tempo
e se morre no outro

quinta-feira, 22 de maio de 2008

descrição de um sonho

se me perco onde te encontro
e é lá que nasce o dia
onde dorme meu medo dos espelhos
de onde me chama
uma menininha com franja
a filha que um dia terei

e me fala com sua vozinha calma
que eu morrerei no seu parto
me sorri com olhos rasos como os meus
olhos de criança feliz
que dorme em meu colo
brinca nos meus sonhos
de dentro do espelho brinca com meu medo

foi assim que eu a vi
linda e sorridente
de pé ao lado da minha cama
ou me olhando pelo buraco da fechadura
me pedindo que deixasse acesa a luz
num sonho antigo e confuso
em que não sabia
que naquela hora eu não dormia

terça-feira, 20 de maio de 2008

pelo caminho

não saberia dizer se é possível ser feliz simplesmente contemplando a vida , mas ao menos torna mais amenas as tristezas que me invadem.

a tempos abandonei o conceito de felicidade e fiz dele apenas um termo que exprime um estado de 'sentir-me bem'. não faço da felicidade meu ponto de chegada, e muito menos o ponto de partida! nunca ouvirá de mim a frase 'eu quero ser feliz' ou 'eu era feliz e não sabia.'

é piegas e todo mundo sabe! (piegas é dizer piegas!) os cáras que escrevem auto-ajuda estão cansados de dizer... a beleza está nas coisas simples e grandes! e mesmo que eles não dissessem ainda assim acredito que me comoveria coisas como uma amizade que temos oportunidade de resgatar.
de repente me invade aquele velho sentimento. nostalgia. eu revivo confidências, bagunças, descobertas compartilhadas e percebo o quanto tantas coisas mudaram! e mais ainda, conto o tempo e me assusto com quantos anos minha memória consegue alcançar.

e é engraçado. e assustador. será que o tempo realmente passa rápido demais? será que a vida é curta? ou será que a vida da gente é que é tão louca e cheia de coisas que nem dá tempo de lembrar de pessoas queridas que partilharam nosso caminho e depois seguiram por outros?

enquanto se está vivo não se pode dizer que a vida é curta ou longa sem relativizar.

não sei. não encontro forma de expressar, e eu me sinto horrível por isso! gosto de saber o que dizer sobre as coisas.
e embora tenha uma vida cheia de trabalho e de tarefas, sinto constantemente vazios. espaços que não se preenchem com palavras, nem que eu tivesse espaço e escrevesse eternamente, ainda assim faltaria tantas outras coisas que minha memória não alcança, pessoas que já fui, coisas que já fiz, sentimentos que vivi e estão espalhados pelo caminho que já trilhei e pelo que ainda irei trilhar e apesar de concondar que estabeli prioridades e descartei coisas, em se tratando de relações humanas, sejam elas quais sejam, não se pode assumir posição de culpa, já que não se trata de estrada de mão única.

odeio a sensação de falar demais por não ter nada a dizer.

mas pouco me importa, também.

importante mesmo é ter sossego e um cachorrinho dormindo no seu colo!

sábado, 17 de maio de 2008

sem propósito algum

'em cada beijo seu, em cada estrela no céu, em cada flor no campo, em cada letra no papel...'

em dias como hoje eu me sinto um vão. um vão de pensamento onde cabe tudo que eu insisto em guardar.

um corpo cansado, que se entrega ao trabalho pra não se entregar a apatia. e uma mente sem parafuso, dispersa, que se diverte com qualquer distração.

a parte boa é que me bate uma saudade não sei do que, e tudo que eu olho, tudo que me passa pelos sentidos tráz um tanto de lembrança de algo ou de alguém. e essas lembranças colocam no meu rosto olhares vagos, sorrizinhos bôbos, surtos de melancolia desmedida... e não é tpm!

a verdade é que estou às voltas com uma porção de sentimentos novos e uns outros antigos que ainda me perturbam! o mais foda é não saber exatamente o que fazer com eles!

ora, basta não fazer absolutamente nada! pelo menos é mais seguro! evita-se certos desastres! que nem vale a pena entrar em detalhes!

nem é complicado, mas é tentador: é medo e desejo. é vontade e culpa. é solidão e desassossego. é saudade e ódio. é amor e angustia. é alegria e afliação. tudo misturado num corpo aparentemente 'grande' mas pequeno demais pra me suportar. talvez não seria se não fosse a inquietação de quem vive se perguntando e se questionando sobre si e o resto!

do meu outro lado mora a minha paz... esforço-me em enxergar o mundo com um tanto de otimismo e retribuo ao mundo meus sorrisos... o que me resta de calma! não precisa ser muito, mas precisa ser constante... alguém ainda espera por mim, alguém ainda me olha com olhos de esperança e eu prossigo!

prossigo buscando o equilibrio entre a criança incorrigível e curiosa e a mulher calma e corajosa! com memória, e muito boa por sinal! agora com um desejo a mais e consequentemente com uma dúvida a mais... com um medo a mais...

desejo esse sobre o qual eu gostaria de discorrer um pouco mais ainda, mas que não o farei pra nçao arriscar-me a cair no ridículo de declarações gratuitas de afeto e permanecer na posição de 'motivo da piada de alguém'. até porque eu já falei demais.

agora não sei!

talvez continue com meus monólogos sentimentais, e vazios de coerência.

ou talvez me mostre e viva por algo e por alguém... talvez mais leve e mais feliz!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

ainda sobre silêncio e outras palavras

eu adoraria tem algo de muito interessante pra dizer. algo que te prendesse a atenção por alguns minutos. ou segundos, que fosse. mas dentro de mim tudo que eu encontro é profundo silêncio. nem as canções que sempre povoaram meus pensamentos. um vão de coisas mudas e ao meu redor eu tudo faço emudeçer.

aciono o mute do mundo e de todas as coisas. não há palavras nem sons que me expressem agora. não há o que me faça lembrar de você e do teu abraço. coisas irrelevantes tomam teu lugar e me distraem sem me prender...

nem um olhar que encontra o meu, se parece com o teu quando me olha. porque os teus olhos de menino me lembram coisas boas que já passaram... abriga sensações de infância e saudades e é neles que eu queria encontrar todos os sons que calaram. é neles que eu queria despertar desse sono de apatia que dormiu os meus sentidos.

não faz diferença se eu te fiz saber que eu gosto de você... não há diferença entre o que não é e o que poderia ter sido. esse estado de contemplação em que me encontro me cala e cala o meu redor... mas canta em você, ri em você, e vem de você algum prazer em te querer...
como se não houvesse distância, não houvesse nada entre os silêncios e os ruidos... onde não encontro palavras e tudo permanece por dizer.

terça-feira, 13 de maio de 2008

grito e silêncio

'têm certas coisas que eu não sei dizer'

sim, esses meus silêncios são propositais. são momentos em que passeio de um a outro por pensamentos nem sempre conclusivos ou importantes. descanso. numa canção ou numa cantiga, num filme sem sentido sobre sonhos e realidade. revejo cenas que nunca vivi, e continuamente as modifico e modifico as fálas e os olhares. mas os finais permanecem sempre perfeitos e à minha maneira.

me vejo daqui três ou quatro anos, morando com um cantor uruguaio, e imagino o olhar dele no meu todas as manhãs e de como eu retribuiria a ele e eu nunca deixaria de achá-lo o ser existente mais perfeito que a natureza foi capaz de trazer a vida e seria sempre grata por aquele sorriso.

todas idiotices de uma mente fértil que facilmente se rende a máxima do amor platônico e um coraçãozinho vulgar que quer ser conquistado.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

por que você?

'óleo queimado, as vigas na areia, a lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos. por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas'

tenta encontrar, entender e depois saber explicar motivos, certamente não me fará deixar de pensar... mas talvez me alivie coisas que preparei e cuidei pra ti, mas que você nunca saberá...

o que é uma pena...

porque eu adoro me imaginar de mãos dadas com você vendo um jogo do nosso time...

porque você tem lindos olhos de criança. e porque eu enxergo teus olhos em todo lugar...

porque te olhar me faz sorrir e apesar de me fazer pensar mil coisas, você me tira a fála.

e se eu calo é porque quero calar num beijo...

porque teu beijo é calma tempestade, teu hálito não tem gosto de nada e ainda assim é gostoso... e quando você me beija sem pedir eu me sinto desprotegida e isso é tão bom.

porque você tem os dedos mais bonitos que eu já vi, e tuas unhas roídas são lindas e eu poderia amá-las quanto mais teus dedos permanecerem entre os meus...

porque me incomoda teu silêncio, porque tua voz desafina, porque te olho e não cabe em mim a incerteza de que não pode ser só isso, que pouco te importa o que eu sinto, que pouco te importa por onde eu vou agora...

e mesmo os porques me parecem indecisos e me parecem poucos os motivos e superficiais demais. mas são meus motivos, são minhas razões, é o que me faz às vezes pensar que eu poderia enlouquecer sem se notar e você permaneceria perdendo seu tempo a oferecer-se prum mundo que não sabe te notar como eu te noto...

muito mais que um garoto míope de cabelos bagunçados...

pra que você saiba, que ainda que não presente, um dia eu te quis contente...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

despedida

'sonho parece verdade quando a gente esqueçe de acordar...'


pro coração um bem-amar, um pôr-de-sol, uma bicicleta.
a tua pele cor de mate e o vento a agitar teus cabelos e tuas idéias.

se brincas num sonho que nunca dorme, nem acorda. permanece com vivas cores que a realidade já não desbota.

no meu olhar já gravou tua imagem.

não importa as fronteiras que rompem teus pés, segues intacto numa lembrança de violão na mão me fazendo rir, trocando palavras, inventando versos que agora levaste pra longe de mim.

se fosse eu poeta te faria uma rima, te entregaria todas as canções e se tu fosses verdade e não mentira, se fosse realidade e não invenção eu poderia piscar agora e tudo existiria!

exato, preciso, tocável, seguro, frio e real como uma pedra branca que caiu do bolso furado de um sonho qualquer. sonho de um amor não amado e de um coração que quer ser conquistado

sexta-feira, 2 de maio de 2008

lindo como um dia de chuva

'mesmo ausente é doce sua falta'

porque a lembrança de pessoas que têm o meu afeto, faz as coisas naturais serem sempre mais belas.
as nuvens pesadas e baixas, o cheiro da chuva, o frio que consola e me faz pensar em abraço.

e abraço é ninho.
e meu coração é gaiola de um passarinho.
e nem todos os moletons do mundo têm o aconchego do teu laço amigo.

um filme em preto e branco.
a audrey e o gregory em roma.
meias coloridas e batata frita.
e você por aí. oferecendo teus olhares e sorrisos a quem sequer os nota.
enquanto os poupa da minha presença. a minha presença que tem apreço por teus olhos rasos e infantis.
e enquanto predominar a ausência sigo olhando a chuva, contando as gotas, medindo o vento, molhando os pés.
e até que se sequem novamente e que seja enfim mera lembrança.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

o meu posto

por nando reis

sinto muita saudade
essa é a verdade
não te vejo a metade
do quanto quero lhe ver
se eu te vejo a metade
mais eu sinto saudade
essa é a verdade
quanto quero lhe ver

quando a gente se fala
quando perco a fala
eu te ouço e não falo
o que eu quero dizer
estou te amando de novo
e o quarto lugar
pro meu posto
já me deixou feliz

hoje em outra cidade
amanhã na cidade
eu te ligo de tarde
você termina de ler
você me liga de tarde
já pra outra cidade
hoje eu durmo mais tarde
você não para de ler

pois ficou resfriada
pos seus pés em sandálias
de manhã sem a praia
pôde compreender
que está me amando de novo
e encontra o lugar
no seu gosto e se sente feliz

e o medo, o peso, o pesadelo, o segredo e o sossego
que o desejo por um beijo pôs pra fora
e o desejo durante tanto tempo só deseja mais desejo
deseja que o desejo seja feito agora

dia 1º de maio
não sei porque me distraio
passou alguém perfumado
quase que eu posso lhe ver
ribeirão, madrugada
todo mundo lá em casa
o mundo é muito mais água
do que eu posso beber

antes só suco de lima
hoje também o de pinha
quanto você imagina
que ele possa querer
ficar amando de novo
nesse outro lugar
o seu posto
diferente e feliz?

e o medo, o peso, o pesadelo, o segredo e o sossego
que o desejo por um beijo pôs pra fora
e o desejo durante tanto tempo só deseja mais desejo
deseja que o desejo seja feito agora

bom jantar, meus amigos
amanhã é domingo
hoje eu fico sozinho
pra poder lhe escrever
que estou amando e com sono
acho que vou me deitar
no meu posto
eu me sinto mais feliz