quarta-feira, 29 de outubro de 2008

elas

elas são daquelas de guardar no pote. conservá-las no formol, só pra não ver se perder a doçura que elas têm.

a gente já deixou nosso verão pra mais tarde, por causa dos namoros bem sucedidos ou não, dos tcc's, das pilhas de trabalho atrasado, das roupas pra passar, da falta de grana e tudo mais. sem falar no oceano, no lá distante do oriente, que abriga uma parte nossa. ainda sim, elas se agarraram na boléia do mesmo caminhão onde eu já vinha soltando minhas frases por esse mundo.

engraçado pensar que conheci a cada uma num momento distinto. e nós nos unimos, o tal do santo bateu e tudo aconteceu e ainda acontece! não por mera conveniência, mas porque somos incrivelmente afins! poderíamos nos detestar, era um risco. mas elas são singelas e sinceras nos atos, nas emoções e mais, cada uma a sua maneira traz uma pureza de coração.

amigas presente, ausente, no quarto, nos telefonemas nas horas inoportunas, no japão. amigas dos origamis, acampamentos na praia, festas na unicamp, cigarros divididos, madrugadas no carteado, promessas de lamber o chão da bolívia! dos trocadilhos toscos com nomes: um tal de almirante, né?

amiga de contar o dia mais importante, de dizer exatamente o que eu tava pensando e eu dizendo 'sim! sim! é isso mesmo!'.

dessas amigas que fazem a gente se sentir esperta e madura. ou palhaça e infantil.

dessas que valem ouro.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

rest in peace

aqui repousa uma mulher.

bebeu, fumou e fodeu com qualquer um.

'que a terra lhe seja leve'

domingo, 26 de outubro de 2008

antes fosse

antes fosse tudo verdade e tudo por aqui fosse de fato quente, colorido e musical. hoje só me acompanha o silêncio. silêncio demais. daquele que preenche todos os espaços e não sobra espaço pra nem uma canção. o mais assustador é que demorei pra me dar conta dele. só percebi o silêncio que dançava entre meus pensamentos e o resto do mundo quando veio da janela entreaberta o som de crianças brincando de bola lá fora. daí veio de mim um ruído de voz e eu me lembrei 'não pronunciei palavra hoje'. nada se verbalizou. como que teimosamente, voltei aos livros e li tudo em voz alta. a voz saiu de mim desafinada e sem sentido propagando-se no vazio de mais um dia só. mas espantou pra longe a onda do silêncio que me afogava. encheu o quarto de vibrações sonoras e fiquei feliz por ouvir minha própria voz.

quase sempre eu não enxergo, só quando me toma de assalto aquela velha nostalgia. algumas coisas por aqui ainda são belas. e se não são agora, serão. e a beleza que visita essa minha casa é daquelas que faz coração apertar. daquelas que espalha a saudade quase que sem motivo.

saudades de tudo. até das tempetades. saudades do teu abraço, chérie. e ela não vem sozinha, traz consigo a angústia em te esperar, tua não chegada. minha recusa em ver-te partir. vem acompanhada do parênteses em que vivi coisas que não me lembro e não me esqueço. a fé nessa vida, que voltou um dia não sei como nem de onde. essa vida que tomei as rédeas ainda que sem um rumo. mas que segue e é por você!

as coisas belas que restaram é a minha insistência em lembrar de ti todos os dias e é a tua insistência em repousar dentro dos meus olhos cada vez que eles se fecham. todas as palavras que me constituem são tuas.
de que me vale ser filho da santa, chico?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

o que eu diria?

poderia fazer mil juras e gritá-las ao vento.
ou contar o meu segredo: 'a magia está no momento'.
falaria sobre o tempo, que o céu se coloriu de nuvens,
que as nuvens acabarão em signos,
versos e rimas pra te impressionar.

talvez fosse monólogo em silêncio
te pedindo pra partir ou implorando pra ficar.
talvez dissesse dos aromas, do cheiro das frutas
da lembrança de maresia ou da solidão dos sonhos
explicaria que a luz no horizonte são lamparinas
que não se rasgou o véu da noite.

o que dizer?
melhor calar. ou ainda um cantar.
teorizar o lógico e o confuso. correr os olhos no mundo,
permanecer a esperar.
melhor dizer nada, que nada adiantará.
não direi que amo. e nem que nunca hei de amar.

uma trégua

'aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
como aceito o frio excessivo no alto do inverno —
calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
e encontra uma alegria no fato de aceitar —
no fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.'

alberto caeiro

quanto falta pro verão?

não há nada mais aconchegante que o calor!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

meio implicante...

assinale a melhor definição sobre ela:

[ ] 'é uma imatura!'

[ ] 'isso é inferno astral!'

[ ] 'tá na tpm, e/ou com falta daquilo'

[ ] 'é uma coitada!'

[ ] 'lamentável!'

[ ] 'vsf fdp!'

[ ] todas as anteriores

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

futebol

faz tempo que eu ensaio pra vir aqui falar sobre futebol. falar como eu sempre me senti quando vou lá, onde tudo é verde e branco. onde eu já vivi momentos lindos e felizes e onde também chorei, praguejei, roí unhas, jurei nunca mais voltar e nunca cumpri.

pra mim, nunca ganhei nada lá. perder, eu já perdi. um pé de tênis, que eu joguei no arrogante luis fabiano, quando ele ainda jogava pelo são paulo f.c. mas não acertou! droga!

alguém já disse que futebol é a coisa mais importante entre as coisas desimportantes. há quem considere essa cultura futebolística algo irritante. eu concordo que a vida da maioria das pessoas não é um mar de rosas, e acho totalmente compreensível que muitos tenham como único momento de lazer e de descontração ver o time entrar em campo. acho, aliás, muito bonito a capacidade que as pessoas têm de ser felizes quando estão naquele transe coletivo de torcida quando canta, bate palmas e vibra!

o que é lamentável é a corrupção entre certos clubes e árbitros, que a gente sabe que acontece. o meu time, nesse exato momento está sendo descaradamente roubado, lá em aracajú... maldita série c! é um desrespeito por torcedores, que amam e se dedicam a vida toda a um clube, um símbolo e vêem tudo ser usurpado e o clube se afundar em dívidas e em derrotas, derrotas, derrotas. é muitíssimo triste essas coisas!

mas a gente não se entrega, não desiste, faz promessa, chora de alegria e de dor. a verdade é que não dá pra falar em futebol sem cair na máxima de que brasileiro, de um modo geral, é apaixonado por tudo aquilo. e eu não poderia me excluir. amo na vitória e na derrota, sempre!

mesmo pras coisas 'irrelevantes' é bem verdade: uns precisam de resultados, outros precisam de auto-afirmação, mas alguns só precisam de paixão! =)
tudo me assusta. eu queria dizer que não, que estou preparada, ou que tenho certeza que dessa vez estou no caminho mais certo. mas não dá. eu só quero que as coisas aconteçam. cansei de mastigar pedras que nunca poderei engolir.

eu me lembro exatamente do dia em que decidi: 'pra mim, chega! não dá mais'. era uma segunda-feira, ela pediu licença e entrou na sala timidamente. o menino vinha atrás. eu que já conhecia a mulher, suspirei baixo, já sabendo que teria que utilizar de todo o meu poder de argumentação para convencê-la de que toda aquela burocracia burra era muitíssimo importante e que ela deveria ficar em 'casa' e seria chamada quando a bondade 'divina' assim desejar.

não havia casa, não havia bondade. havia apenas ela ali na minha frente, e o menino brincando com qualquer coisa no canto da mesa. durante o discurso da mãe, por vários momentos me desviou a atenção o brincar do menino. era um menino muito bonito, teria entre sete ou oito anos e parecia um indiozinho de cabelos lisos e uma 'janelinha' nos dentes da frente.

despejei, não sem contrariedade, todas as coisas que eu já havia dito tantas vezes. minha vontade de sacudir aqula mulher pelos ombros e lhe dizer que ela estava sendo enganada foi tão grande que suspirei novamente. atualizei seus dados mecanicamente, como havia sido orientada a fazer. eu era ali como gado. nós tr~es, talvez. um pequeno rebanho obediente.

ela já ia despedindo-se, quando me lembrei de um pedaço de bolo que estava na minha gaveta. chamei a mulher e o menino de volta. era um bolo simples, de chocolate. estendi ao menino a pequena travessa com vários pedaços. ele a olhou, virou-se para a mãe e então para mim e perguntou: 'tia, o que é isso?' . eu não sei explicar o que aconteceu. só sei que senti um arrepio e de repente um nó na garganta, daqueles que não dá pra desatar. tinha tanta doçura e tanta sinceridade no questionamento do menino, e ao mesmo tempo me pareceu tão absurdo que uma criança de sete anos, nunca na vida tenha experimentado um bolo de chocolate, que eu chorei. diante da mulher e do filho. respondi a sua pergunta. pedi que levasse para casa a travessinha toda. e prometi que todas as vezes que ele fosse até lá eu lhe daria um pedaço de bolo de chocolate.

fui duramente repreendida. até mesmo onde achei que encontraria compreensão. e eu soube que minha hora havia chegado. eu senti muito medo. de esquecer o que é a empatia. de ver tantas coisas absurdas a ponto de um dia achar tudo comum, achar que é tudo assim mesmo. de nunca mais ter o direito de me indignar com esse mundo doido. pior, eu tinha medo e ainda tenho, de odiar meu trabalho e odiar as pessoas com as quais estabeleço essas relações. naquele dia eu soube que aquele não era o meu caminho. hoje reconheço que foi uma decisão covarde. e não tento me justificar. fui covarde e verdadeira comigo mesma.

ainda carrego comigo o peso dessa decisão e sei que eternamente me perguntarei se foi acertada ou não. ainda mais agora que um novo caminho vai se constituindo. lentamente, porque eu não tenho pressa. e não tenho medo do futuro e nem de morte precoce. minha mãe sempre me disse que ninguém morre na véspera. e eu sempre respondi que os suicídas, sim. eu e minhas respostas revoltosas.

ainda tive oportunidade de servir bolo de chocolate ao menino. poucas vezes. mas sempre que me lembro desse dia, imagino o menino experimentando todos os bolos do mundo. morando numa casinha de doces, como a da bruxa, na história de joão e maria. a casa que todas as crianças deveriam ter.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

outro lugar

[elder costa]


cê sabe que as canções são todas feitas pra você
e vivo porque acredito nesse nosso doido amor
não vê que ta errado, tá errado me querer quando convém
e se eu não estou enganado acho que você me ama também

o dia amanheceu chovendo e a saudade me contem
o céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem
vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
e eu já to molhado, to molhado de esperar você aqui

amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar
andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar
igual a um beija-flor, que beija-flor,
de flor em flor eu quis beijar
por isso não demora que a historia passa e pode me levar

e eu não quero ir, não posso ir pra lado algum
enquanto não voltar
não quero que isso aqui dentro de mim
vá embora e tome outro lugar
talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
amor, meu grande amor, estou sentindo
que esta chegando a hora de dormir

rascunho colorido

se as luzes quiserem anoitecer
e um grito vier de dentro e não quiser calar
como aquele antigo medo do escuro
leia o que eu escrevo! é para você!
cante aquela canção que faz recordar alguém
e lembre-se da fadinha amiga
cantando e dançando na areia
como num sonho nosso
como as cores que não desbotam
das flores mais perfumadas
pelo caminho que não tem fim
pois termina e sempre recomeça, eu sei!
num novo coração que virá
e trará sempre essa mesma alma!

clichê

sim, eu compreendi tudo que você me disse. cada argumento, todos os seus motivos e como se nunca tivesse acontecido, eu me coloquei no seu lugar. hoje faz uma semana e finalmente o ar parece mais ameno e a sua ausencia é cada vez mais melancólica e menos desesperadora. domingo fui ao cine paradiso, o cine clube que você não gosta. assisti um belo filme e você estava comigo. como da primeira e única vez que fomos lá e você reclamou que as poltronas não eram tão confortáveis e que a sua tevê era maior que a tela de projeção. você também reclamou do filme, eu me lembro bem. mas eu não achei ruim. achei graça nas suas queixas. voltei pra casa caminhando e pensando como seria bom caminharmos de mãos dadas numa noite quente como aquela. eu senti que amo muito a sua presença. eu não sei o que move o mundo, desconfio que seja uma magia qualquer de deus. e deve ter um calorzinho como o teu nela.

enquanto se seguem esses dias lentos e iguais, tento buscar dentro de mim as respostas que antes eu buscava em você. como as coisas que eu nunca soube dizer mas você sempre soube entender. e mesmo que eu não consiga me ver quando fecho os olhos, eu consigo te ver. daqui um ano ou dois, colocando um anel de noivado no meu dedo enquanto eu durmo. ou na hora do almoço, tentando comprar o meu bife por um real, por que você já comeu todo o seu. e eu posso imaginar as pessoas que nós seremos e onde nós estaremos. e o meu coração seria sempre o seu lugar. o lugar pra onde você sempre poderá voltar.

domingo, 19 de outubro de 2008

não precisávamos dormir, e na verdade nem queríamos. exaustas e felizes, brincado de fazer anéis de fumaça com o cigarro que dividíamos enquanto esperávamos minhas roupas se secarem.

a chuva nos encontrou despreparadas, mas nem por isso nos apressamos. ela me convidou pra um banho, temendo um resfriado. aceitei prontamente. o banheiro dela era um cubículo anexado a um quartinho maltratado. já era noite e ela acendeu uma luminária de tecido colorido, o que aqueceu as paredes, o armário, o porta-retratos e a nós.

nos despojamos das roupas molhadas e entramos no banho juntas. pela falta de espaço ela aproximou seu corpo magro ao meu. em algumas partes nos tocamos levemente. lembrei-me do tempo em que éramos meninas, de nossas descobertas partilhadas. ela sempre foi esguia. aos doze queria ter mais peito, mais bunda. nessa época ela me chamava de burra por esconder entre moletons e camisetas minhas saliências que já destacavam-se aqui e ali.

pedi que me deixasse ensaboá-la, ela consentiu. cobri-lhe de espuma, massageei suas curvas discretas como se fosse ela minha criança. beijei-lhe os ombros, as costas, os dedos e tudo quanto minha boca alcançou. senti o gosto dela misturado com água quente. ela ficou ali quietinha como sempre foi. buscamos o velho colchão e ali permanecemos entre nossas lembranças e buscando uma na outra qualquer coisa que nos prendesse a outros tempos.

beijei-lhe os olhos e eles também eram meus. senti uma pena daqueles que vagam por aí pela noite. mas chegava a ser uma pena de alegria. eles não a conheciam! era só a menina e eu.

de roupas já secas fiz o caminho de volta ao meu posto. fará falta a mim a água e a luz quente do quarto estreito. eu era dela. e eu já sabia disso.

abril despedaçado

agora é tu que vai avoá, tonho!



















sábado, 18 de outubro de 2008

o que fiz eu de tão bom, pra que a vida acreditasse que eu te merecia?

um respiro...

'sou seu mas eu não posso ser. sou sua mas ninguém pode saber. amor, eu te proíbo de não me querer.'

a vida tem sempre mil e um rumos, só para nos dificultar as opções.
e se a gente nasce, engatinha, pisa o pé no chão e um dia voa, também nessa lida a gente um dia se encontra. em caminhos que nem sempre são os nossos, nem sempre inteiros, por vezes aos pedaços. mas existe nesse mundo lugar onde a alma descansa e esse canto há de ser meu e seu, cada qual onde for. ainda que seja você só gentileza e ternura e eu um selvagem, tenho fé que teremos futuro. e no futuro não precisa ter ninguém. só aqueles que hão de estar, simples e despropositadamente. só precisa existir pôr-de-sol e pronto!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

me encontra

o tempo vai passando como sempre, na mesma pressa de sempre. eu não tenho perna pra acompanhá-lo. vou um pouco atrás. tem hora que acelero o passo pra gente caminhar lado a lado. às vezes no caminho aparece uma flor. e elas são tão raras. ou uma borboleta, ou uma nuvem baixa e eu paro um instante. e ele lá de longe, já fazendo a curva me pede pra acelerar. tudo bem, vai indo que eu já te alcanço!

um dia, ele distraiu-se também, e esqueceu de me mandar correr. eu fiquei pra trás. quando me dei conta, tentei alcançá-lo e quando o fiz já não era o tempo. dei de cara comigo mesma! como que sem acreditar pisquei e olhei novamente. sim, era eu! e todos os dias que eu vivi passeavam dentro daqueles olhos que eram meus, mas não estavam grudados na minha cara.

desdenhei por um momento: é uma cópia falsificada e mal feita. some daqui!

mas eu ali permaneci. baixei os olhos, mirei o chão, em minha companhia queria ficar. senti empatia naquele meu gesto. era tão meu. só poderia ser eu mesma. sorri pra mim, percebendo retribui o meu sorriso. ficamos ali, eu e eu. sorrindo uma para a outra. e era uma alegria que nos invadiu. porque não éramos espelho. éramos duas. e poderíamos ser muitas mais. e descobrimos o encanto.

o encanto é receber um sim como resposta sem ter feito perguntas.

sonetinho

ele me encontrou hoje enquanto eu não o procurava e trouxe consigo toda a saudade dos dias em que ficou esquecido...
mal escrito, é bem verdade! mas suportável pela carga sentimental! =)

sigo vivendo, me morrendo, renascendo
olhos cerrados mentem pra não dormir
buscando algo, querendo tudo, e nada tendo
bocas soltas e frescas morrendo de rir

um susto mudo e um nariz vermelho
outros versos escondidos no colchão
espirais girando e meu medo de espelhos
uma nota musical, uma bola de sabão

eu sorrindo, eu chorando, eu sem chão
só mais um verso, uma canção pra te ninar
uma descrença, sua falta e um sempre não

fez-se certeza, fez-se verdade, era o mar
que me inunda coas águas tristes da razão
um gato cego ou um cãozinho pra afagar

em 02.03.2007


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

comentário meu

gostei tanto que desconfio que nem fui eu quem escreveu! um dia aí, em algum lugar por aí:

'ela não é uma boa menina! deixou pra mim algo que sempre me faria lembrar seus olhos de pomba! e não me desfiz do seu agrado... ao contrário, plantei-o dentro de mim, pra que continue me machucando... gosto dessa dor que as raízes da menina me causa.'

caqui

delicadeza e fruta vermelha

lábios, peles, olhares, sons

e um cheiro doce de caqui.

há sentido que a palavra não explica.

há palavra que se cala sem sentido.

rodopia, menina! que a boneca é de pano!

domingo, 12 de outubro de 2008

gato félix

esse eu dedico a ela! pois seus métodos de abordagem, sempre inspiradores, estão bem registrados no meu caderninho! =)

ela seguia tranquilamente pelo corredor de produtos de limpeza. sabia que estava ali a procura de algo que não se lembrava o que era.

desinfetante, não. sabão em pó, não. aaaah, mas é claro: anti-mofo! obrigada, memória!

virou-se contente pra depositar no carrinho o produto tão necessário quando deu de encontro com a figura do moço. a primeira coisa que viu foi a calça amarela, xadrez com preto. subiu mais um pouco. camiseta, pele negra, dread's nos cabelos. olharam-se por dois segundos, e seguiram cada qual feliz em sua aventura de ir às compras numa linda manhã de sábado.

ela olhou pra dentro do seu carrinho:

nossa, parece que vou alimentar meia duzia de gordos! chocolates, biscoitos, batata frita, coca-cola, pães, queijo e o tal anti-mofo. preciso de algo saudável... huum... palmito?

mais meia hora de passeio e lá vai ela pelo estacionamento, com sua compra que só será paga dali trinta e cinco dias. bendito cartão de crédito. enquanto acomoda as compras no porta-malas do veículo emprestado, no carro ao lado, executando a mesma tarefa, o moço de calça xadrez. ele a olha e sorri. e não é qualquer sorriso. ele sorrindo parece o gato félix! negro, com aquele sorriso enorme e muito branco. ela retribui, se divertindo com a lembrança que o sorriso do moço lhe trouxe. sem saber exatamente o motivo ela estabelece diálogo:

'puxa, mas eu achei muito bonita a sua calça.'

'obrigado...'

é, o moço não quer papo... terminada a tarefa, ela não satisfeita, volta-se novamente ao seu 'vizinho de vaga de estacionamento de supermercado':

'moço, agora você tem que dizer que também achou a minha saia bonita!'

'...' [sorriso de gato félix]

ela liga o carro, manobra e sai rindo-se sozinha.

'mas que puxa! tudo tem que explicar!'

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ciranda, cirandinha...

lembranças do dia mais bonito... =)

'para dançar ciranda
juntamos mãos com mãos
formamos uma roda
cantando uma canção...

minha ciranda não é minha só,
ela é de todos nós
ela é de todos nós
a melodia principal quem guia
é a primeira voz
é a primeira voz...

essa ciranda quem me deu foi lia
que mora na ilha de itamaracá...'


'ô, cirandeiro, cirandeiro ô,
a pedra do seu anel brilha mais do que o sol...

mandei fazer uma casa de farinha
bem maneirinha que o vento possa levar
ô passa sol, passa chuva, passa vento
só não passa o movimento do cirandeiro a rodar...

ô cirandeiro, cirandeiro ô,
a pedra do seu anel brilha mais do que o sol...'

esfinge

não quero te decifrar,
prefiro que me devore!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

perdão

perdoa-me, meu bem
por todos os meus 'nãos'
por ter roído as unhas da tua mão
por me afogar nas tuas bebibas
por deixar-te só em nosso passeio.

perdoa-me, meu amor
se o nosso filho já nasceu morto
se há angústia demais nessa espera
se não te surpreendo na chegada.

imploro que compreenda
meu ciúmes
minha inveja
meu rancor
meus pés sempre frios
e as mãos sempre acesas

perdoa pela minha alegria
se não faço silêncio
se não sofro contigo

não me justifico, querido
entendo que se vá
enquanto ainda é noite
se te ofendem meus delírios não castos
não lhe pedirei a benção
é meu pecado andar torto nesse mundo reto
e esse pecado não tem perdão.

gente importante!

'a próxima vez que me encontrar com o pedro, falarei que conheço uma menina que ama os filmes do irmão dele!'

sim! sim! isso! quando eu crescer quero conhecer gente importante assim!!!

na terra do nunca!

ela: tia, onde mora a sua mãe?

eu: numa casa bonita lá longe... tem que pegar ônibus...

ela: hum... e onde mora o seu pai?

eu: ... o meu pai??? acho que ele mora lá no céu... [resposta idiota!]

ela: ah é??? [breve silêncio... olhinhos para cima] igual o peter pan, tia???

eu: sim, querida... [cantando] 'pense numa coisa bem boa, que num instante você voa... '

ela: [risadinhas...] mas tia, fala pra ele tomar cuidado, senão ele cai de lá!!!

eu: =)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

o mesmo,
desde o princípio das coisas

e muitos outros
enquanto durar...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

nota do autor

ainda bem que eu conservo essa minha mania de enxergar alguma poesia em viver. não me esforço por parecer indiferente, pois a indiferença já passou, assim como muitas coisas passarão [e eu passarinho!] =)

ainda há o que fazer. além de pensar no que se partilhar com o mundo através de coisas que digo. existe toda uma vida, uma história, muitos caminhos. não existo a partir do que me mostro. muito mais, eu acredito. meu mundo não é esse aqui.

e eu acho que as coisas são bonitas, apenas. às vezes penso que elas ultrapassam o sentido de beleza. algo como sublime.

sublime. palavra que eu nunca soube definir. só depois que aprendi que algo pode ser belo além do que é belo. muito mais que belo, sufocante em existir. desconfio que se não conheci, cheguei bem perto.

ainda bem que algumas pessoas ainda se auto-afirmam. assim não me sinto a única.

passado. ainda bem que existe a lembrança. ainda bem que existem frases soltas de qualquer canção antiga que nos justifica quando falta o que dizer. pura vaidade, eu sei. a gente deveria se envergonhar disso!

as coisas bonitas seguem me distraindo. não penso nelas como coisas minhas. não quero possuí-las, garanto. são coisas do mundo. e se não me faço entender, tampouco tentarei entender para além desse meu cérebro de noz. meus devaneios bastam-me.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

eu te esperava. e no mundo só existia a minha espera. todo o silêncio em volta e mais nada. meus joelhos juntos. as mãos repousadas sobre eles. nada me distrai. não livros, não canções, não agulhas ou tintas. uma espera consentida. mastigava cada momento de te esperar. sentia o sabor da tua ausência, como se você inteiro coubesse no espaço interno da minha boca. mastigava e engolia. quando a boca vazia, te ruminava.

eu te esperava. e havia prazer na espera. quando você chegasse, toda aquela alegria se converteria em confusão. meus olhos não saberiam em que parte te olhar, minha palavra não saberia o que te dizer. hesitaria em te tocar, talvez por medo que se desfizesse entre minhas mãos em poeira de pensamento. te entregaria uma das flores estampadas no meu vestido e diria apenas: por deus, como eu te esperei!

te esperei todos os dias antes de te conhecer. te esperei como esperei pela chuva nos dias quentes e pelo sol nos dias de chuva.

você veio com olhos de ave. pousou no meu recreio, juntou as folhas. eu quis te prender. meu coração é gaiola, eu já disse. coração gaiola, peito ninho. você assutado, bateu suas asas. mas ainda voa em circulos e eu te acompanho daqui de baixo, até quando o sol não me ofusca os olhos. e eu peço: por favor, não me cegue. eu preciso vê-lo. quero vê-lo.

não sou busca. sou apenas espera.

sábado, 4 de outubro de 2008

é muito umbiguismo da minha parte, eu sei. como se eu te obrigasse a saber todas as coisas que simplesmente despejo ou vomito por aqui e não só aqui mas em todos os cantos há detritos do que eu era. e eu era uma garota feliz, que um dia amarrou uma bomba ao estômago que fatalmente me explodiu e espalhou meus pedaços por esse mundo. meu sangue corre ainda por veias que não as minhas. agora, em cada canto em que me encontro, me toma de assalto a angústia de querer juntar-me de novo em uma só. de tanto me procurar por aí me canso a ponto de sentir sono e me faz achar que eu quero dormir. não quero. posso simplesmente me jogar na cama e ficar ali, só existindo enquanto um braço meu grita na boca de um cachorro na rua: socorro! tem alguém me roendo. eu posso escolher e escolhi estar aqui. ou talvez eu só acredite muito nisso, mas a verdade é que passaram-se quase vinte e cinco anos [de sonho e de sangue e de américa do sul...] e essa verdade não dá pra poetizar, pra disfarçar, pra ignorar. e eu nem me lembro por qual motivo estou aqui. deve ser por qualquer teoria que eu inventei pra justificar uma vida de merda e que não convence ninguém. mas sei bem que dentro da gaveta não tenho um diploma. que a faculdade virou do avesso tudo que eu gostava e achava correto e achava justo, mas ainda posso tentar mais uma vez. me sinto um pouco senil. mas não desisto dessa idéia. não mesmo. não agora.

embora pareça que sim, eu não desperdiçei esse tempo todo. eu produzi. trabalhei muito. porque escolhi [???] receber todos os meses um boleto que garanta meu lar, doce lar. mas muito mais do que isso, eu me permiti. aprendi, experimentei, voei, representei, conheci, desisti, reconsiderei, li, assisti, aplaudi e recebi aplausos e algumas flores [obrigada, obrigada!]. ainda sou bonitinha e com algum esforço eu ainda consiga dividir algo com alguém, quando não sentir mais medo do que possa vir a ser o 'nós'. quando tiver extrema necessidade de dizer coisas produzindo sons com a voz e não dizer com os dedos como faço. tenho que me lembrar de sempre falar. colocar uma música e cantar junto, em voz alta. não me esquecer do som da minha voz. quem sabe um dia terei diplomas, mas não decidi se ficarão em molduras na parede, como troféu da minha não-burrice. ou se ficarão amarelando num envolope pardo em alguma gaveta. talvez sirvam pra alimentar traças amigas. e as inimigas também.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

eu não sou poeta. o relógio desperta às cinco e quarenta e cinco com salsa cubana. meu bom humor pra coisas cotidianas é deprimente! a cortina aberta. o sol entra de sola e grita: levanta, vagabundo! já vou. pulo da cama. com o pé esquerdo. na verdade não me lembro se era o esquerdo ou o direito. foram três ou quatro horas de sono sem sonhos. o despertar dos justos. bolei um enquanto passava o café. deixa esse pra mais tarde, pra quando eu precisar dormir. vinte minutos. é o tempo entre a cama e a rua. a cama e o resto do mundo. tranquei a porta e pensei: 'eu bem poderia ter uma rede na sala.' 'mas você não tem uma sala.' 'ah, é verdade. esqueci!'

não sou poeta. eu deveria escrever um livro. deveria alugar uma sobreloja, numa ilha no caribe. qual? qualquer uma. eu só preciso de uma janela, uma máquina de escrever, café, charutos cubanos e eu tenho um romance inteiro aqui dentro da minha cabeça. preciso conferir o resultado da loteria. acho que ganhei. não tenho tempo de comemorar. não posso me atrasar.

transporte coletivo. a hora alegre do dia. ui... olha o traseiro daquela neguinha! ela desce logo do busão, droga! com suas sandálias estilo tamanco carnavalesco. gostosa!

cobrador, vou cochilar. me chama quando for hora de saltar. diabo de vida desinteressante. agora me sento com minhas tarefas e o dia passa. como a banda cantando coisas de amor.

por que eu não nasci poeta?

porque se fosse poeta, você seria muito chato.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

breakfast at tiffany's

ela: oh, querido! eu me casaria com você por dinheiro agora mesmo! você se casaria comigo por dinheiro?

ele: agora mesmo!

ela: ainda bem que não temos dinheiro!

ele: [suspiro profundo...]