quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

no lugar do sol

"eu não pensei que fosse sério"

era só o que a cabeça dele conseguia pensar.

como entender?

ela disse que viria e veio, ela disse que ficaria pra dormir e ficou, ela lavou os cabelos com shampoo de maçã verde e ele teve desejos de saboreá-la. ela consentiu. ela disse ser muito só e manteve por bastante tempo seu olhar perdido entre seus próprios dedos e o movimento que o vento produz nas cortinas. ela teve sede, ele trouxe água. não? algo alcóolico? tudo bem.

ela cuspiu palavras e ele as engoliu. ela chorou no seu abraço e ele afagou, ela adormeceu se despedindo e nunca mais acordou. ela não foi pra lugar algum, não criou asas, não virou anjo, não morreu nem viveu. ficou ali deitada, tão pálida, a cabeça inclinada sobre o ombro, os braços moles como uma boneca de pano velha.

o lençol ainda está com cheiro de maça verde onde ela encostou a cabeça molhada. ela foi pintar uma flor no lugar do sol. ele não viu. e nem poderia.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ainda não passou, mas vai passar.

porque a gente fica sempre assim meio sem achar o jeito certo, sem saber se deixa tudo que vai dentro transparecer ou se solta uns palavrões e segue a vida. tem momentos que não passam, ainda quando já passaram.

'não gosto de fazer ninguém querer riscar o seu passado'

a gente nunca sabe se a reação é proporcional, exagerada ou aquém, a gente só sabe que mexe, que cutuca, que se a gente forçar um pouquinho até parece dor. mas não é.

o acaso tem peripécias que deixam a nossa vida um pouco mais confusa. desnecessariamente, já que viver não passa de um monte de coisas absurdas que vão acontecendo sucessivemente e as quais sobrevivemos. ou não.

isso estava programado para ser externizado há pelo menos uma semana atrás. mas o tempo, o amor, a preguiça, os risos intermináveis, as compras natalinas, as cervejas, as cachaças, as drogas, as crianças, as roupas sujas, a lavanderia, as roupas limpas, as unhas coloridas, o carro, os apartamentos por visitar, nosso próprio apartamento e toda a bagunça que ele é capaz de conter, adiaram o momento. tudo isso. e um pouco mais, porque não falei dos almoços em família, dasfestinhas e confraternizaçõeszinhas.

pois é. tudo isso. mas foi tempo suficiente, coisas suficiente para me fazer desligar, tirar as palavras do foco da vida, mudar de assunto, virar a página e transformar tudo em piada.

a gente vai continuar rindo, eu continuarei ameaçando ele de morte. mas se foi dor, foi das vagabundas, porque já passou.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

da série: que presente escolher?

aos indecisos, imprestáveis, incapazes e desprovidos de sensibilidade para escolher um presente de aniversário:



o mundo precisa de mais bicicletas. bem aqui. vai, coragem!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

parece verdade

a vida não é um sonho porque não tem açúcar e nem recheio de creme, mas eu insisto em levar a vida dormindo. de noite e de dia. ai, e como é bom dormir pra sempre, mais cinco minutinhos ou mais cinco horinhas. acontece que tem sempre alguém pra me acordar. sempre tem alguém querendo falar qualquer coisa maldita que na minha opinião poderia esperar.

me arrancar do meu sonho. tem gente boa em fazer isso. não sei se agradeço ou se mato: contemplar a vida vai me matar de fome e eu tenho medo de passar fome. ou se tem um cachorro ou se tem um gato, eu NUNCA poderei ter os dois porque moro em apartamento. ser incapaz de guardar dez minutos da porra do dia para ler-me. minha bunda não é a mais gostosa nem do meu quarteirão.

quero dormir. quero ser uma princesa disney. quero chorar de rir. quero fazer desaniversário. quero passear.

e quero-te. mesmo que querer-te seja uma ofensa à língua portuguesa, mesmo que te sufoque, te aperte e te arranque os pêlos que não convêm. te querer ainda é sonho e eu ainda estou dormindo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

dentro de casa

subi as escadas e hoje faz calor. meu jeans sai do corpo com dificuldade e tudo fica pelo curto caminho entre a porta e a cama, abro a janela. nos meus planos um banho, mas a cama me chama, os livros que acabei de comprar me chamam, a preguiça me convence. deito-me nua, cubro-me com uma toalha, tenho mais pudor nas ausências.

ele vem de elevador, beija-me rapidamente, liga o ventilador, dobra e guarda o edredom que só está sobre a cama porque mesmo com todo o calor que o inferno é capaz de produzir, eu não consigo dormir descoberta. ele guarda as minhas roupas, os meus papéis, pendura a minha bolsa, tira o jeans, põe uma bermuda, me pergunta se as coisas possuem utilidade com a intenção de jogá-las fora, mas eu não guardo coisas apenas por serem ou não úteis.

eu comprei livros, mas não lavei a louça. ele senta-se na cadeira, escolhe um dos livros e começa a ler. eu quero um abraço mas não quero pedir, não quero demonstrar carência. pego o coelho de pelúcia, presente de meu pai, minha companhia de quando eu era só. obviamente ele não reconhece o meu desejo por ter seus braços envolvendo meu corpo. a não percepção não seria um problema, há coisas que basta dizer, mas nem sempre as palavras encontram formas de sair da boca, e não fosse o fato de eu não ter resistido em destilar uma ponta de sarcasmo ele não teria vindo até o banheiro quando eu levantei e decidi ir ao banho, já que nada me restava por dizer ou fazer.

eu já estava molhada, pela porta de vidro trasparente do box ele me perguntou o que se passava. abri a porta e o abraçei. molhei o chão, ele não gosta quando eu molho o chão porque sabe que eu não vou secar. agradeço por saber que o que ele odeia em mim são as minhas coisinhas espalhadas, uma coisa tão material. ele não odeia meus desejos fora de hora, nem minhas oscilações.

seus braços estavam quentes, era só o que eu queria. o calor do abraço.

domingo, 28 de novembro de 2010

mesmo sozinho

foi o que tocou no almoço de ontem. a comida ontem estava deliciosa. o almoço de hoje foi pedra misturada com culpa. ontem era nando reis 'não vou ficar pensando se tivesse sido o contrário...' hoje foi pedra virando bicho e me roendo por dentro: aline, o que você fez?

- não sei, coisas.

eu odeio pessoas que insistem cruzar a minha história. eu odeio ainda sentir afeto por pessoas que estão cagando pra mim. eu me odeio profundamente.

'esse silêncio é paz...'

o bicho já comeu minha carne e o meu caráter. amanhã acordarei com um buraco na barriga por onde o bicho saiu enquanto eu dormia. ele me rói de dentro pra fora. pra onde você vai, aline?

- não sei, lugares.

preciso me costurar de ternura. preciso de retalho, de migalhas. porque agir às vezes vem antes do pensar. mas só funciona quando o que resta não são vítimas.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

eu não levei uma tijolada na cabeça

eu já não sei das coisas que te motivam teu ficar ou teu partir. eu sinto falta daquele velho desejo de apenas permanecer. de quando nos basta sentir o tempo passar.

esse amor tranquilo é o que eu quero. e posso conviver com meus conflitos, com meu desejo de estar quando não estou e de não estar quando o que sou é só espera. não sei conviver com o fato de que nem sempre serei a primeira escolha. será o trabalho, o compromisso, ou uma trégua com os amigos. até que um dia será apenas a não vontade de voltar pra casa. e no outro não sei o que será.

porque sou tola e vivo de expectativa. porque meus devaneios ultrapassam a realidade e me confundem. porque tartarugas, besouros e bebês deixados de barriga para cima não conseguem se movem e ficam agitando braços e perninhas inutilmente, coitados. não posso deixar de pensar tristemente neles assim, tão indefesos.

nem que eu tivesse vivido mil vezes eu não saberia as respostas. mas eu nunca vivi essa vida e eu só queria que você me ajudasse. não é depressão. mas com a proximidade de completar mais uma primavera posso justificar com inferno astral e não mais como tpm como no resto do ano.

eu nunca saberia as respostas, eu só sei perguntar. essa vida me deixa burra e sem inspiração. essa vida é uma droga.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

não vai passar

mesmo se o seu telefone parasse de tocar e o filho da puta que tenta insistentemente falar contigo enfim desistisse de estabelecer diálogo através do seu celular que, por fim, eu desliguei e impedi os outros de me irritarem com o toque polifônico bastante irritante, na minha opinião. foda-se. mesmo assim não passaria, porque de alguma forma eu vou e me deixo ir por caminhos perigosos. eu e as vozes preferidas.

era pra ser uma escrita sobre as peripécias do amor, mas logo na primeira linha está a expressão 'filho da puta' o que, por si só, já destrói qualquer traço de romantismo. se alguma verdade ainda salva eu só posso dizer que não gostaria de sentir. quero dizer, com toda a sinceridade que pode existir nesse meu coração imprestável, que eu queria que passasse.

sair foi a minha fuga. e não poderia existir melhor lugar para uma mulherzinha despeitada ir numa sexta-feira a noite. fui. fiquei pouco. trouxe comida pra casa.

não por acaso a música é a que me faz chorar, trilha sonora do filme que me faz chorar. obra-prima.

se há uma coisa desprovida de qualquer sentido em existir são essas palavras. porque você, onde estiver, está pensando carinhosamente em mim. certamente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

um

e passará tão depressa que eu sei e já me sinto feliz em saber que falta apenas um punhadinho de horas e você chegará e encontrará a casa vazia.

eu chegarei depois, aflita pra te contar sobre o dia e a noite. você me ouvirá, demonstrará interesse e vai me beijar na boca cada vez que eu fizer uma pausa.

como eu te esperei. seria um tremendo exagero dizer que esperei como esperam os pingüins(verificar trema). ainda assim esperei, te imaginei e te trouxe até aqui, te desmontei, montei novamente e dormimos no mesmo embalo. uma espera quebrada em partes, mas uma saudade ainda inteira.

eu pedi que você voltasse logo pra casa. você virá quando for a hora. e a hora já está quase chegando.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

quatro

te encontrar, te olhar, te ouvir. você se surpreendeu por eu ser lembrada aí nesse lugar que não é o nosso. ela lembrou o número do quarto e sorrindo disse que sentiu minha falta. eu me senti como que em casa, você disse que eu sou muito legal e de alguma forma isso me fez sentir admirada por você.

eu fui e no caminho comecei o livro. com título e subtítulo. talvez vire um novo blog, se eu puder me dedicar a ele. escrever me consumiu por vinte minutos. então eu parei. é que aquela tristeza que me sussurra ao pé do ouvido as palavras que desfio já não estava sentada no meu ombro. ela não se importa em dar lugar a euforia de estar perto de te encontrar.

você tomou o lugar das palavras, o lugar da minha tristeza, dos meus ais. te amar ora é doce, ora amargo, meus olhos te miram com melancolia só pra ouvir o cochicho baixinho de uma palavra triste e bela, dizê-la a você e sentir seu beijo na minha testa.

o calor vem chegando. e com ele, você.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

oito

o barulho que o computador faz parece o de uma máquina de lavar roupas. só falta ele se mover pela casa. preencho o vazio com barulho mas poderia ser com música. as minhas ou as suas. talvez a do first kiss, não sei. todas as coisas espalhadas e eu só penso que daqui vinte e quatro horas vou correr para você.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

dez

sorriu sem ter achado graça em nada. apenas por não ter algo melhor para retribuir. apenas porque dentro da cabeça a disposição das palavras sempre muda e cada vez que diz a mesma coisa, diz de forma diferente. não ser entendida cansa. se explicar também. abdicar das palavras ditas. emudecer.

lembranças. quente ou frio, antigo ou recente, faz rir e chorar, vale ouro. guardar a lembrança pra além da memória. olhar, mirar, ver, enxergar, perceber, sentir.

eu poderia ser helena, macabéa, maria bonita ou sinhá vitória. mas se eu fosse, como poderia ser amada por você?

domingo, 17 de outubro de 2010

doze

- estou morrendo de saudades. vem pra cá de novo?

- você quer mesmo que eu vá?

- quero

- (emocionou)

sábado, 16 de outubro de 2010

baby, eu queria ir nesse avião...

treze

chuva, parabéns pelo dia dos professores, um bombom. o mundo é só água e eu também chovo. uma dúzia de abraços guardados com meus velhos planos.não mudaremos de rumo e apesar dos planos desfeitos como eu me orgulho de você. você disse que está com saudades. eu nasci com saudades de você.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

quatorze

passou um vento breve, viraram-se muitas páginas. eu saí da nossa toca, coloquei a cara na rua. por onde vou me perguntam, querem saber de você e então eu me lembro. você volta e o dia é só nosso.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

[005] dias com ele

foi como toda menina imaginou que seria: aquela hora que a gente chega e ele está lá esperando com o mais lindo dos sorrisos e o melhor de todos os abraços. é assim que deveriam ser todos os encontros. a mais curta caminhada torna-se cheia de significados simplesmente porque estamos de mãos dadas. eu queria nunca mais soltar a mão dele. queria que as mãos dele, as duas estivessem aqui para apertar as minhas.

a gente chorou e riu e os dias passaram quentes, calmos, cercados de caos e beleza, de pessoas queridas e de outras que desconhecemos.

nos amamos como duas crianças tolas e é o nosso jeito de tocar a vida. sorriu pro dia e sorriu pra mim todos os dias.

sonhei com um emprego de salvar baleias e acho que a nossa vida pede um pouquinho mais de mar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

vinte e dois

amanhã vai virar hoje e amanhã eu te verei quando ficar de noite.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

vinte e três

muito choro, muito sono. uma viagem de ida e volta até rio claro. duas horas pra ir e mais duas pra voltar. no caminho o telefone toca, o ddd é 81. número alto pra um ddd, eu acho. fala rápido que o minuto custa caro, mas tanto a dizer... os cigarros que sempre dividimos e toda a poesia que dividir um cigarro pode conter.

e como quem nunca se esgota estive com ela. ela e suas lindas frases inspiradas em caio fernando. ela de óculos vermelho como um coração. ouvir, entender, compreender e retribuir. te lembrar me alivia, e mesmo nessas horas, em que as pessoas se mostram simples e belas, envolvidos pela alegria triste do que é uma vida. mesmo que seja uma vida dormida em quartinhos de empregada. só. a solidão e mais seis dúzias de garrafas. dentro delas gotas da casa que um dia terá. sua. é a doçura que ainda existe no mundo. eu sinto e mesmo que eu não diga, você entende.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

vinte e quatro

meu socorro hoje foi o aconchego familiar. minha mãe, minha irmã, meus sobrinhos. no carrossel, segurando a gigizinha pra não cair literalmente do cavalo, eu lembrei dos capitães da areia. 'é da hora ser criança, né?' foi o que a carlinha me disse e a gente ficou uma na outra buscando aquela nostalgia boba de irmãs que cresceram grudadas.

pensando nele. a casa, a pia suja, descer o lixo. eu cortei os cabelos, pintei minhas unhas de cor-de-rosa e finalmente encontrei e comprei um chapéu que cabe na minha cabeça grande! não sobrarão coisas por fazer até ele voltar... amanhã já é quarta! por deus, a semana voa e daqui três dias eu vou cair no seu abraço e vai ser tão bom.

ele lá longe com a tal dor nas costas. eu comprei vitaminas com cálcio para os ossos dele. usei o celular alheio e foi tão bom quando se completou a chamada e a voz dele perguntando 'gata?'

estamos sempre juntos quando passa o caminhão que recolhe o lixo. hoje ele não está, mas mesmo assim o caminhão passou. eu olhei pela janela os homens que correm atrás do caminhão, que jogam o lixo pra dentro e levam sabe-se lá pra onde. pra ilha das flores, talvez. desde menina eu sempre achei que em toda cidade existia uma ilha das flores, como a de jorge furtado, mas que na verdade nem é dele. e eu não estava de todo enganada. e olhar as pessoasme faz querer ficar perto, conversar, saber de onde vêm, o que fazem, sobre os filhos, o que comem. e eu me encho de sentimentos instintivos e coletivos pelas pessoas que não conheço.

meu mundo se amplia, o mundo é muito grande e sou eu só nesse apartamento. eu e a lembrança de quando eu te encontrar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

vinte e cinco páginas

o lugar que ele ocupa em mim sempre foi um lugar de palavras. antes eram só letras, juntas, inúmeras, palavras soltas que eu, porcamente, fazia que se combinassem. e elas ainda estão aqui, embora mais raras, mais vagas e menos melancólicas. ele ocupou o lugar das palavras, vira e mexe ele some com elas e me deixa assim, sem palavras. porque elas gostaram de dividir seu lugar com ele e como se deram bem às vezes ele e as palavras se escondem de mim.

nunca reclamaram do lugar que ocupam na minha vida. nem ele, nem elas. às vezes brigam entre si, mas a verdade é que ele gosta das minhas palavras e elas são caprichosas em se mostrar pra ele. elas confessam, gostam e preferem ficar guardadas e saudosas porque sabem que o que existe no lugar delas é um amor. e é uma delícia confessar que quando não estou fazendo palavras estou fazendo amor.

e não por acaso, hoje eu voltei. porque ele bateu asas e partiu do meu ninho para ares mais quentes. ele voltará e novamente as palavras irão repousar no meu recreio. mas por ora, por esses vinte e cinco dias, contando os quatro em que partirei eu também pra perto dele, serão as palavras que ficarão no lugar dele. vinte e cinco saudades, vinte e cinco carinhos. meu pouco de alívio.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

silêncio e afago

ele não faz idéia do peso das minhas lembranças, mesmo assim eu o convenci! das coisas ditas ou escritas eu não sei qual delas exatamente tem sua carga de razão, tudo é no fundo um simples sentir e dizer. falar, escrever, apagar, rasgar, queimar, fumar e beber. o meu blá blá blá de sempre. mas em alguma coisa existia um certo sentido e era exatamente essa coisa que eu não sabia dizer.

há coisas que para dizer eu preciso calar. é o meu silêncio cheio de suspiros ou o desastre de te contar dores do passado enquanto estávamos na melâncolia de um fim de domingo com futebol. são as minhas lágrimas causadas por sensação de rejeição infantil ou a solidão de me sentir longe de casa que são motivos pra sentir alívio quando na sua companhia. as palavras me ajudam a dizer, mas as fotografias não tem voz e elas também falam.

o encanto a gente guarda num vidro e põe na prateleira. cada vez que olha pra ele sente tudo de novo. encanto. inquietações só tem razão de existir se não há para elas solução. meus medos, meus anseios, minha angústia não precisam de respostas. só precisam existir porque me inspiram e não me deixam esquecer que eu tenho uma história só minha, num mundo onde tudo se nivela por baixo e o que parece mais óbvio insiste em querer parecer o mais correto, eu ainda sou alguém e viver ainda faz algum sentido. eu só não sei dizer qual é.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

pôr-de-sol

já passa da hora que ainda não chegou. mastigo um chiclete sem gosto, só borracha. o silêncio grita porque mais uma vez eu desisti. ou nem foi uma desistência, apenas a opção consciente de ficar. não que falte chance ou momento ou disposição para um possível correr atrás do prejuízo, tem aquelas horas que não dá pra adiar. em nós sempre sobra tempo pra mais um beijo, um abraço, um sorriso. ou os três juntos, o que é ainda melhor.

o dia também vai perdendo o gosto e vai ganhando saudades. uma saudades daquelas quente, cor-de-laranja, que arde sem queimar. e quando as cores se vão, quando anoitece ainda é só você.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

lá longe tem o coração de mais alguém

eu olhava mas não via, eu ouvia mas não escutava, eu me irritava com o exterior que me fazia abandonar meu pensamentos e retornar à realidade tão cheia de estímulos visuais e auditivos que não me deixavam sentir aquele calor breve que cada lembrança traz. enquanto a minha memória tentava inutilmente isolar os momentos de seus contextos, e quanto mais eu relembrava, mais distantes eles se tornavam e por vezes eu duvidei que eles de fato tivessem acontecido ou eram frutos da minha mente confusa.

não, não são frutos da minha mente: são invensões de um ser que habita a minha cabeça. de um deles porque aqui dentro mora muita gente.

o tempo ou o acaso não costumam favorecer encontros. embora encontros possam acontecer assim, como que por vontade própria. mas normalmente eles necessitam do que a gente conhece por disposição. eu aprendi a lidar com distâncias e com ausências irremediáveis. todo momento tem uma canção, toda canção lembra um momento. há momentos em que caberia todas as canções do mundo. há canções em que cabem todos os momentos. mas o fato é que qualquer lembrança, vivida ou inventada não mais vai me doer, não me machuca mais, porque a vida segue e ela não gosta de me esperar.

os ponteiros nunca mais mudaram de direção. é porque o tempo encontrou seu caminho. e de alguma forma eu também encontrei o meu. eu sei por qual caminho quero ir e onde ele possivelmente me levará.

há coisas que cruzam meu caminho. mesmo vivendo-as nem todas fazem parte da minha história. nem todas eu quero que vire passarinho ou que construa ninho no meu peito. e se meu coração fosse gaiola, a portinha nunca ficaria trancada e meus passarinhos voariam todos quando quisessem e pra onde quisessem. estariam sempre livres... principalmente de mim.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

algum lugar

e o tempo segue desbotando as lembranças. e eu não sei viver de expectativa. e a vida já tratou de virar tantas páginas.

terça-feira, 20 de julho de 2010

mais cedo

alguma coisa caiu no chão do apartamento de cima e me fez despertar. eu sempre me queixo da falta de tempo para sentar e desfiar palavras, mas o barulho da coisa caindo no apartamento de cima me fez lembrar: hoje é o terceiro dia que passo praticamente sozinha dentro dessa casa, olhando a chuva pela janela, abrindo e fechando a janela, me incomodando com o cheiro de cigarro e tendo todo tempo do mundo a disposição para escrever merda qualquer e 'publicar postagem'.
não foi a falta de tempo que me afastou mas o excesso dele. tempo para ver filmes, tempo para desejar e te esperar chegar, tempo para me perder no seu abraço e tempo para viver uma vidinha bem mais ou menos, mas que dá um considerável salto qualitativo quando se coloca em questão a perspectiva de futuro. salto qualitativo: quando as coisas quantitativamente vão se acumulando até chegar o momento do salto de qualidade. Engels, lembra? o tal do salto... se não lembrar, tudo bem! não foi isso que eu quis dizer.
alguém cheio de verdades nos disse sobre egoísmo. eu admito e confesso que preciso dele. talvez você ainda pense naquela liberdade toda, em embriaguez(s)(verificar palavra) acompanhada de atitudes impulsivas e ressaca moral. eu me contento com os nossos carinhos, e isso não é renúncia, é objetivo. objetivamente tua mão me satisfaz, me arranca risos e suspiros, me afaga mesmo quando meus cabelos estão despenteados e cheios de nós. não, não é nós de nós dois, são nós plural de nó, aquele que dá no estômago naquele instante decisivo, entre o olhar, desejar e beijar, mas não é disso que eu tô falando, mas de uma cabeça cheia de cabelos e cheia de nós.
o interfone toca. devaneio breve. hora de acordar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

tranquila, apenas tocando a vida

não haveria calma longe daquele riso doce. eu não encontrei no mundo uma razão para voltar, não encontrei o conforto seguro e necessário para permanecer, não encontrei flores espalhadas no caminho mas isso não me fez desistir de seguir.

minhas perspectivas que nunca foram assim tão cheias de certezas, são cada vez mais infiéis, escapam de mim, me abandonam, se deixam trocar por uma outra qualquer cheia de possível felicidade que logo se dissolvem, mudam de forma, de cor e logo são outras, cada vez mais novas e cheias de vontade própria. meus anseios me fogem do controle.

um milhão de palavras e a inútil cobrança interna de fazê-las vivas. josé saramago morreu numa sexta-feira e eu chorei ouvindo beethoven, por me sentir a última pessoa do mundo a receber a nota do falecimento. meu consolo é um número de telefone que sempre me atende. sua pronta disposição desperta uma coisa boa no meu coração, mas não é por ela que eu o amo. eu nunca amei um número de telefone e acho que nunca amei número nenhum.

o que eu amo são beijos na testa. não sei por qual motivo eles me dão um sensação de aconchego, como quando abro a caixa de fotografias de minha mãe. todos nós estamos lá: irmãos, avós, sobrinhos, vizinhos, papai, primos e tios que eu não conheci. alguns cães também estão lá. os melhores passeios, natal e dia das mães que é quando a gente ainda se sente mais família.

eu ainda corro pela casa, ainda tenho gesso no braço. algo sempre insiste em me chamar de volta, alguma coisa que faltou viver. por vezes me inclino a desfiar nostalgias. um piano na sala e a 9º sinfonia que mal me recordo o primeiro acorde.

o presente, a realidade objetiva, o materialismo. beethoven era de sagitário. amanhã mais um de nós morrerá e não será saramago. ninguém morre duas vezes.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ela se foi e eu não entendi o porquê. Estávamos nus e aconchegados como sempre ficávamos, depois de um sexo ótimo como sempre era. Ela deu um último trago e disse qualquer coisa sobre fotografias e prazos e se despediu tão indiferentemente que meu coração gelou. Ela se foi arrastando suas sandálias baixas e nem me deu tempo de achar ridículo o seu andar. Ela caminha tão deselegante, tsc.

Eu fiquei com seu último passo, seu último girar de chaves, seu último palavrão tão registrados que essas meras lembranças materializam a própra pessoa dela.

Eu não a quero todos os momentos, eu não a quero diariamente, eu apenas quero que ela se disponha a satisfazer o meu desejo de tê-la presente até o ponto que eu decida quando pegar o carro e deixá-la em casa, ou sair eu para uma tarefa qualquer, existente ou não. Uma decisão que sempre foi minha e ter o controle me fazia seguro.

Mas hoje, foi ela que fez valer suas vontades, levantou-se, saiu e me deixou ainda desejoso da sua companhia, do seu riso alto, das suas unhas nas minhas costas. Ainda não decifrei o significado de sua atitude, mas desconfio que isso quer dizer que ela é quem irá escolher quando voltar e me vem um presságio de que ventos novos começam a soprar e a mudar as coisas de lugar. Novidades não me assutam, mas ela mexe comigo de forma curiosa, sinto desejo de retomar o controle pela força. Mas ela me deu um último olhar com olhos dóceis, como na primeira vez que ela disse que me amava e eu precisei de duas semanas para processar e retribuir. Ela me mirou docemente e eu desisti de força-la a ficar. E que bom que ela se foi, porque de alguma forma ela sempre volta, e volta melhor.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

quando de madrugada eu giro a chave e ainda sem sono me vem uma certa sensação de vantagem. os que dormem estão sempre em condição mais frágil. desconcerto o silêncio com amenidades sobre o meu dia, sobre a minha noite, sobre a minha vida. entre frases desconexas de quem não pretende acordar ele só pede que eu chegue mais perto. me embalo no calor da cama e do corpo dele, pego carona no seu sono e vou para longe, pra dentro de mim.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

pelo simples consolo, ainda que distante, de te saber existente e convivermos

quarta-feira, 28 de abril de 2010

mais tarde...

sempre que eu o leio desconfio que existem segredos nas suas asas que eu não sou capaz de registrar, embora estejam evidentemente estampados. ele sempre vem com as mãos carregadas de memórias nossas e não são memórias qualquer, serão sempre doces lembranças, das quais nós nunca precisamos esperar que virassem passado ou nos enchesse de saudades para que víssemos beleza nelas. são belas desde quando foram presente e assim permanecem enquanto são passado e lembrança.

Ele as mantém entre seus dedos e sempre que as dispersa é com doçura e calor. eu, embora relutante, guardei-as numa caixa bonita, para que sejam cada vez mais minhas. sempre que ele brinca com elas desde lá, aqui dentro a minha caixinha se abre e o dia fica mais quente. o calor é a sensação mais aconchegante que existe.

a gente é os lugares por onde a gente caminha, cada passo a frente significa um caminho mais amplo e mais coisas que registramos e que nos constituem. e ele, como ninguém, sabe por onde deixar seus passos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

adoro quando os sentimentos oscilam e vão da paixão ao desespero, da mágoa ao afeto, do prazer à dor. adoro saber que estando eu viva tudo muda e que mesmo o meu amor sendo honesto, às vezes entra em conflito com a verdade, é mutável e inconstante, assim como meu humor. porém sempre será o amor meu melhor lado. confesso que sou completamente apaixonada pelo que há de mais imprevisível e surpreendente. apaixonadamente sigo procurando encanto nos acasos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

hoje eu sei a falta que faz. o abandono não significa que tudo por aqui perdeu o meu amor e não é à toa que eu guardo tudo pra mim. tentar recomeçar me parece um tanto forçado, mas é fato que as coisas podem principiar ou se acabar a qualquer momento. posso fazer disso uma regra, ou simplesmente continuar.

hoje eu deveria ter coisas importantes para fazer. mas no meio desse dia cinza fodido eu vi uma nuvem cor-de-rosa e agora eu não tenho mais medo de o encanto não existir. ele existe. e em mim ele está em lembrança de areia quente, de asfalto e muitos passos, na memória de conversas longas e confusas. e ele não há de se desfazer, pois de tudo é só o encanto que eu quero guardar. o que for efêmero eu deixo pra lá.

quem sabe um dia eu não entro num avião e vou espalhar meus ais em outra freguesia. eu queria mesmo era ser livre de mim mesma. ser tão segura quanto eu tento ser. poder ir embora antes de ser decepcionante. quem pouco me conhece deveria dar-se por satisfeito. eu mudei a cor dos meus cabelos e agora eles não combinam com a minha pele. meu irmão disse pra eu tomar um sol que melhora. mas aqui nem tem praia e eu não frequento clubes. pena.

sinto saudades da minha casa. sinto falta das minhas coisas espalhadas. me culpo por ser estúpida e impulsiva. mas não me culpo por ter acreditado no amor. e se não agora, um dia eu terei com quem dividir o que eu guardei pra você, bebê.

às vezes eu queria que as coisas ficassem estáveis pelo menos por algum tempo, não muito. mas tudo insiste em mudar. é bom, mas não é fácil.

domingo, 4 de abril de 2010

sobre o amor próprio e a inexistência

Só o que existe é a incrível capacidade de se diminuir. Claro, porque o mundo e a natureza e as circunstâncias e deus não te fizeram bom o suficiente para cativar, comover, merecer.

Tudo parece ser superior, embora beire a cretinice de tão comum. Não há beleza demais, nem gestos, nem roupas que eu gostaria de ter, nem coisas que eu gostaria de ser. é sem-graça e destemperada. é tudo normal, mas por um instante parece tão maior, tão mais bonito, tão mais perfeito, tão mais envolvente e interessante. Daí bate aquela sensação de coisa pequena, de falta de virtudes, de falta de beleza. O carro que não se tem, a universidade que não frequentou, os lugares que não visitou, as línguas que não falou, as coisas que não se proporciona.

e quando uma única circunstância coloca a possibilidade de ser humilhantemente desgraçada, você enxerga como a única chance de se sentir maior, mais segura, a dona da situação. a única chance de sair do abismo que é pensar e sentir.

Eu sei, você sabe, se não fosse intensa eu nem sentiria. Se as minhas razões não fossem sentimentais já estaríamos fodendo muito por aí. Mas quando eu sinto me dói de tal maneira, quando as portas se fecham, quando as palavras se calam, quando minha cabeça pende e encosta num vidro engordurado qualquer de um coletivo imundo, eu só consigo sentir dor. A dor de um passado que me pesa, de um presente que eu não controlo e não dou conta e de um futuro sem perspectivas além de nós dois.

eu poderia e acho que deveria te escrever num papel de carta, numa folha bonita, com adesivos de ursinho que compramos juntos. mas o desespero é meu e a decepção é tudo que eu posso causar. Sou a não superação de expectativas. Sou o contrário das expectativas. Sou um desastre literário e só você me lê.

obrigada.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

eu lembro cada momento.
trancados, pelo asfalto ou na areia.
e só me faz bem lembrar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eu sempre gostei de brincar de me esconder e sempre acreditei que fechar bem apertado os olhos faria com que não fosse encontrada. Não me importo em passar despercebido pela sua vida, a página que se destina a mim na sua história não passa de uma folha sem registros. Algumas pessoas possuem a incrível capacidade de se tornarem invisíveis e propositalmente não se fazem notar, como já disse certa vez o Gabo e eu acredito nele.

Todos os dias você esvazia a mente e se esvazia de mim. Isso não é a exata representação da verdade, porém é aqui dentro de mim que as coisas se inquietam, se movem, trocam de lugar e volta tudo a ser só amor. Essa vida que aos poucos se define é feita de escolhas que fiz e depois abandonei pelo caminho. É feita de uma saudade imensa e de versos que eu escrevia e não escrevo mais, porque a capacidade de ser poética eu nunca tive e tudo que eu já poetizei não passa de merda.

Então, um pouco do que sobrou de uma vida remendada me chama e eu sem muita disposição perco tempo e energia demais idealizando-me, porque minhas expectativas sobre os outros é nula e todas as outras recaem nas minhas costas e elas pesam, mas nem sempre, porque certas mãos quando se unem as minhas fazem tudo parecer mais exato, mais razões não sentimentais que eu chego a acreditar que eu não sou tão ruim assim.

E o que me assusta é esse meu jeito de deixar tudo meio solto na vida, essa falta de perspectiva. Não consigo e eu nem poderia me entregar a fazer mais e mais planos e a te incluir neles pra depois eu deixá-los como deixei a tantos outros e como todos que eu ainda deixarei. E se eu não sorrir com a sua chegada? e se o tempo for ainda mais implacável e me revelar uma idiota? se é que já não revelou e eu aqui divagando. Eu tenho essa minha mania de só sustentar um ideal enquanto não tenho um motivo convincente para abandoná-lo. Enfim, só confirmaria a pessoa horrível que eu devo ser. Essa vida só terá um fim e no fim nada me espera, eu sei. Viver é difícil demais. Por que ninguém me avisou que era assim?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Não há nada mais decepcionante que decepcionar a si mesmo. O que tem um peso bem maior quando não dá nem pra se iludir. Eu sei exatamente onde eu errei, sei das minhas deficiências e já sabia muito antes de tudo começar, porém agora com o desfecho das coisas eu me sinto preguiçosa, irresponsável e incapaz. Eu tentei, mas definitivamente não tenho talento, não tenho disposição e não quero. Eu queria, mas excluindo toda a dedicação que eu deveria ter tido. Não importa, meu objetivo não é 'vencer na vida'. Aliás, eu não tenho metas ou ponto de chegada, eu apenas vou. Mas não posso negar que não existe sensação pior que a ter que dividir com os outros o seu fracasso.

E não preciso repetir, eu sei que vestibular não prova nada, sei como argumentar politicamente os métodos exclusórios do sistema de ensino universitário. Ok, mas eu não quero. Eu só quero me lamentar.
Despertou e foi Solidão a primeira coisa que viu quando abriu os olhos. Perdidos por um caminho confuso, feito de noite suja e de asfalto estavam seus planos pro futuro, suas idéias sobre o mundo, seus achismos, tudo misturado na lembrança de ontem. Se pelo menos houvesse chuva ajudaria a limpar a maquiagem que escorria dos olhos. Pouco importa, só mais uma noite ruim e já passou. Faz um mês que ele se foi.

Já não pensava nele, não cultivava esperanças de uma conversa franca, de abrir o coração e após comovê-lo com suas tolices dormirem abraçados naquela melancolia pós-reconciliação. Dele só sobrou a camiseta emprestada e a foto que milagrosamente voltou à porta da geladeira. E não era ruim, ele já sabia que não era só mais um, o que mais ela poderia dizer? Não tinha motivos para se prolongar, nunca arrastou pendências para manter vinculos. Ela odeia isso. Ele apenas se cansou dela e se foi. E ele não era só mais um, era ele.

Definitivamente, para ela não importava as rugas que o tempo colocava na cara do amor, ela conhecia, desejava e por consequência amava cada uma delas e suas razões. Mas não fazia nem das suas recordações uma prisão. Ela não está nesse mundo para reviver coisas. Ela só vive o que é novo.

Ele não voltaria, todos nós sabíamos e ela não é diferente de nós. É uma garota comum. Embora às vezes, quando ouve passos pelo corredor, imagina suas botas pesadas marcando o andar tão desigual. Se ao menos lhe arrancasse um suspiro pareceria mais poético, mas ela reconhecia cada porta quando essa se fechava às suas costas. E cada porta fechada é passado. Não destranca e não abre mais.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

singulares

Mais um dia singular. Assim decidi porque estava com dificuldade de construir plurais. Não que me falte noção do coletivo, mas a tecla 'ésse' do teclado não está funcionando e só deus sabe o quanto é difícil escrever assim! E não é apenas o 's', o 'chis' e o 'dáblio' também não funcionam mais. Como pra tudo na vida dá-se um jeito, cá está esse meu papo-furado.

Há muito eu já não acredito em milagres. A capacidade de ver magia nas meras coincidências, essa eu já perdi. Ontem eu chorei e foi por pura falta de encanto na vida. Você quis me tirar para uma última dança, eu respodi com a cabeça que não. Você sabe, pessoas como nós não dançam.

Eu não sei o que te afastou do meu quintal, talvez meus devaneios tolos sobre família e um quarto no sótão. Talvez pela minha queda por entorpecentes. Talvez por me ver berrando e jogando coisas pela casa... foi o meu descontrole, ou não. Não importa. É tudo tão leve quanto o ar. se desfaz na boca como o seu biscoito preferido. Eu suportei teu julgamento, não que ele fosse expressão da verdade, só por ser eu alguém com a paciência escassa quando o assunto é me justificar.

Não me justifiquei e você ficou com o seu julgamento e com tudo que considera tão seu. Eu fiquei com a minha tolice, com a minha mochila e com a sua distância. Fiquei com o silêncio pois é nele que encontro comigo. Cega e confusa, mas ainda inteira.