quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Despertou e foi Solidão a primeira coisa que viu quando abriu os olhos. Perdidos por um caminho confuso, feito de noite suja e de asfalto estavam seus planos pro futuro, suas idéias sobre o mundo, seus achismos, tudo misturado na lembrança de ontem. Se pelo menos houvesse chuva ajudaria a limpar a maquiagem que escorria dos olhos. Pouco importa, só mais uma noite ruim e já passou. Faz um mês que ele se foi.

Já não pensava nele, não cultivava esperanças de uma conversa franca, de abrir o coração e após comovê-lo com suas tolices dormirem abraçados naquela melancolia pós-reconciliação. Dele só sobrou a camiseta emprestada e a foto que milagrosamente voltou à porta da geladeira. E não era ruim, ele já sabia que não era só mais um, o que mais ela poderia dizer? Não tinha motivos para se prolongar, nunca arrastou pendências para manter vinculos. Ela odeia isso. Ele apenas se cansou dela e se foi. E ele não era só mais um, era ele.

Definitivamente, para ela não importava as rugas que o tempo colocava na cara do amor, ela conhecia, desejava e por consequência amava cada uma delas e suas razões. Mas não fazia nem das suas recordações uma prisão. Ela não está nesse mundo para reviver coisas. Ela só vive o que é novo.

Ele não voltaria, todos nós sabíamos e ela não é diferente de nós. É uma garota comum. Embora às vezes, quando ouve passos pelo corredor, imagina suas botas pesadas marcando o andar tão desigual. Se ao menos lhe arrancasse um suspiro pareceria mais poético, mas ela reconhecia cada porta quando essa se fechava às suas costas. E cada porta fechada é passado. Não destranca e não abre mais.