segunda-feira, 30 de junho de 2008

a última vez

um dia acordou muito mais cedo que costumava acordar. levantou-se e ficou sentado à mesa com aquele olhar que eu já conhecia: longe... muito longe.

o mesmo olhar vago que no início me incomodava tanto, mas que eu sabia que não adiantava perguntar e me convenci que realmente não era nada.

quando coloquei diante dele o copo com o café sem açúcar de sempre, ele voltou 'de lá', de onde nasce o dia, tomou seu café num só gole e só disse: 'eu prefiro eu só'.

me deu um beijo na testa, como sempre. e saiu pela porta de sempre.

pra nunca mais.

e eu fiquei ali, sentindo ainda entre minhas pernas seu sêmen da última vez.

agora eu quero chorar...

eu sabia que aquele olhar queria dizer alguma coisa. o que será?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

o que agora só ficou no pensamento

adoro viagens imaginativas... todos os dias são de sol!

até pode haver chuvas, desde que seja pra molhar um beijo. ou então que nos encontre sós, aconchegados um ao outro somente a admirá-la.

no plano das minhas idéias é proibido chover quando esqueço o guarda-chuva, quando estou menstruada, quando uso sandálias baixas ou ainda quando corto os cabelos!

tenho um plano! vamos viver pra sempre no plano das idéias perfeitas!

materialmente, minha viagens, minhas esperas, minhas histórias bonitas foram todas distorcidas, mal interpretadas, ignoradas ou simplesmente desprezadas.

falha de comunicação, problemas no teletransporte, o que for...

mas a verdade é que todas as deliciosas idéias que passeiam pela minha mente perdem um pouco do sabor quando aplicadas à realidade... às vezes por excesso de espectativa, às vezes por ingenuidade, ou ainda pela insistente mania que as cores têm de desbotar quando saem da imaginação! e por último, mas não menos frequente, pela intervenção de algum ser desprovido de qualidades que me cativem.

isso talvez faça de mim uma idiota sonhadora, personagem patetica de um mundo paralelo cujo único habitante é alguém que não se desprende de mim...

se o mundo é água, eu me afogo... o que eu bebo é mar, é praia...

terça-feira, 24 de junho de 2008

passa

pouco me importa. eu não entenderia mesmo.

distraio-me. eu não insisto.

não aguardo o momento oporturno pra sair de cena. o momento oportuno já passou da hora.

fica daí que eu fico de cá. se convém, a gente até negocia uma troca.

se não rolar, pouco me importa.

eu digo, e não sem alguma propriedade, que o que vale é levar uma vida leve...

verdade não fundamentada, porém experimentada. e estamos todos no mesmo barco... a diferença está nas acomodações...

portanto, mexa-se! dança a valsa vienense! faz-me rir um bocado.

e depois me ofereça algum aconchego.

que a graça tem que estar em alguma coisa. viver não pode ser só isso aqui. e se for, que seja então de mansinho... devagar...

não me venha com essa pressa! não me venha com tanta indignação... eu já senti do que esse mundo é capaz!

e sei que ninguém tá aqui de brincadeira.

só eu!

eu só vim aqui pra brincar!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

estrabismo

ela tinha os olhos tortos...

ele não sabia explicar direito, mas os olhos dela tinham algo esquisito. não era exatamente vesga, mas um olho se movimentava diferente do outro e parecia que enquanto um se movia o outro permanecia parado.

certamente ela já notara o pequeno defeito do seu olhar. ele não se lembrava dela o olhando nos olhos.

era isso! ela não desviava o olhar porque mentia, fingia, ou por desinteresse.
era timidez! ela tinha medo que ele percebesse que ela era levemente e estranhamente estrábica!

agora estava tudo explicado! por isso ela trepava de olhos fechados. logo também não estava pensando em outro.

ele caiu em si! como fora ingênuo! tantos anos de convivência e tanta desconfiança, tanto ciúmes!
e, ora, ela era uma mulher comum!
uma estúpida mulher comum, que pagava em dia seu aluguel, que colecionava secretamente romances de banca de jornal, que fumava cigarros baratos, que se divertia com desenhos animados, que se embriagava com duas ou três latinhas de cerveja, que pintava as unhas de cor-de-rosa cintilante, que alugava filmes e devolvia sem assisti-los.

apesar disso ele a achava bonita! e já se acostumara ao cheiro de fumo misturado com o do dolce & gabanna que ela ganhara do irmão no aniversário.... perfume cheiroso! combinava com ela, apesar dela nunca usá-lo e dizer que não era chegada em fragâncias. o que costumava irritá-lo bastante! que tipo de mulher não usa perfumes?

a verdade é que ela tinha algo de andrógeno, e às vezes parecia mesmo um homem com aqueles malditos tênis encardidos e as calças curtas... mas, e justamente por isso, ela nunca arrumaria um amante! nenhum outro homem enxergaria qualquer beleza naquele olhar vesgo, nos cabelos sem corte, nas unhas curtas e quase sempre sujas de massinha de modelar.

sentiu-se culpado!

ela o amava! ela tinha vergonha dos olhos tortos! e do aparelho! por isso não o encarava e por isso não mostrava os dentes quando sorria.
agora tudo fazia sentido...

e ele quis voltar atrás...

- merda! por que diabos eu fui matar a vadia?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

com vontade de voltar

tudo me espera. e eu me sinto sempre na obrigação de suprir essa necessidade, mesmo que ela seja apenas paranóia minha e no fundo todas as coisas permanecerão, ou mudarão, independente da minha intervenção, da minha presença...

resumindo, o mundo e as coisas estão cagando montes pra mim! mas ainda prevalece um instinto de cuidado e zelo pelo que me cativa.

por mais que me forçe, meus braços me traem e seguem abrindo-se num abraço onde deveria caber todos que eu quero por perto. mas não cabem... e muitos se perdem. uns contra a minha vontade, e eu me culpo por permitir que se vão... e por vezes esqueço que trata-se apenas de caminhos que seguem... e é inevitável que as pessoas passem por mim e eu por elas, mesmo que essas não me deixem nada ou não levem nada de mim.

minhas pernas me desobedecem e seguem me levando a uma porção de lugares idiotas onde eu não deveria estar... atrás de coisas e pessoas dispensáveis e alegrias rasas. e eu me esforço por parecer sociável e admirada pelo meu redor, e quando me canso, finjo-me embriagada e vou embora!

embora sempre presente e dedicada, ainda assim não me distraio, não me envolvo, não me entrego e se o faço é sempre com ressalvas. e já me acostumei com essa minha esquisitice... eu bem gostaria de ser mais empolgada! de demostrar interesse, de sentir ansiedade! comer mil bombons, fumar dez maços de cigarro, enquanto aguardo.

a questão é que não faço questão... quando penso em dedicar algum pensamento, em aguardar, logo me preenche uma outra porção de coisas... e fica pruma outra hora... e incrivelmente isso também surpreende a mim... me incomoda a ausência daquela velha euforia...

domingo, 15 de junho de 2008

que diferença faz?

um espelho quebrado em mil pedaços,
um não sei quantos anos de azar,
uma lâmpada queimada,
uma meia furada,
um casaco fora de moda,
um prato de azeitonas azedas,
um livro monótono,
uma duzia de contas atrasadas,
um gato não castrado,
um beijo não retribuido,
um relógio cujo ponteiro caminha no sentido inverso,
um tempo confuso,
um pensamento não escrito,
um presente não enviado,
um amor não declarado,
uma sobremesa vomitada,
um cabelo engordurado,
uma voz desafinada,
uma valsa mal dançada,
um amigo sem rosto,
uma boneca de louça quebrada,
uma unha inflamada,
um cachorro cego,
uma doença sem nome,
uma cerveja não gelada,
uma cama fria,
um time que só perde,
uma foda ruim,
algumas confissões,
outros arrependimento,
um origami,
muitos origamis,
e tantas outras coisas... tudo igual.

domingo, 8 de junho de 2008

memória

'o esforço pra lembrar é vontade de esquecer'

em dias como hoje tua lembrança me visita. lembranças de coisas nem sempre vividas, às vezes apenas momentos que nunca sairam do imaginário, que nunca existiram, mas que ainda assim, e por isso mesmo são perfeitos!

dias como hoje não têm nada demais. dias de sol e céu claro. daqueles que dá vontade de deitar na grama pra olhar as poucas nuvens que o vento arrasta sem dificuldade. e eu o fiz.

propositalmente esperando que aquele momento trouxesse ao meu domigo perfeito um pouco de melancolia. porque um pouco de tristeza e saudades suas tornam tudo em volta ainda mais bonito... e eu descobri! me agrada e faz bem essas pequenas tristezas. e de alguma forma eu as procuro nas coisas mais irreleventes como uma abelha que se afoga numa lata de coca-cola.

porque me inspira e me traz a esse momento. e esses meus momentos de pequenos desabafos e suspiros tímidos fazem parte daquilo que eu entendo por felicidade. um estar pleno e em paz onde me mantenho mas às vezes me perco.

e se me perco, sei por onde me buscar e se encontro me desagrado... e não me emendo! ainda sou um amontoado de sentimentos. ainda por nomear, organizar, especificar. com etiquetas legíveis.

terça-feira, 3 de junho de 2008

por favor, salve o meu dia!

são mutas coisas que fazem meus dias valerem a pena...

e nem são tão surpreendentes, mas podem até ser!

às vezes acontece todos os dias, às vezes é inesperado, mas sempre tráz em si uma borboleta que bate asasas em meu estômago!

e não passa despercebido, e se passa, nem assim perde seu valor!

e quanto vale? isso está nos olhos de quem vê!

um olhar e um aceno daquele lindo desconhecido. um telefonema da minha mãe. o vento que balança uma camiseta num varal, e nessa camiseta a estampa da minha banda preferida.

peanuts na tv no domingo de manhã. um beijo bem estalado acompanhado de um sorriso doce de criança. um palavrão que sai sem querer carregado de desabafo. um doce deixado pra você acompanhado de um post-it de bom dia.

um joelhinho ralado. lágrimas forjadas mas que jamais serão tratadas com desdém. um barrigão e a próxima sobrinha se mexendo lá dentro. dividir uma cerveja. um miado manhoso do meu gatinho. a canção perfeita que me faz viajar no tempo.

e são tantas coisas, que eu escreveria eternamente, que me fazem parecer infantil e sentimental, que têm um certo jeito de nostalgia.

e são. sentimentos da minha memória, como li em algum lugar certa vez...