quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

por ir

eu já fui espera, mas hoje me sinto como uma discreta lembrança. em muitos momentos me transportei a ela, revivi de olhos fechados o desbotar amarelado de sua pele sem bronzeado, a denúncia pálida de que a muito ela não é beijada pelo sol e nem sob o sol.

já me incomou os silêncios, já vi um fundo escuro no mar dos seus olhos e mesmo assim eu mergulhei. já senti meus pés se elevarem alguns palmos do chão enquanto me abraçava e não era uma sensação, você realmente me ergueu durante aquela dança e me beijou mais um beijo como qualquer outro, mas que de todos os beijos foi o que mais registrei. o que me beijou para além dos meus lábios e  é o gosto que me vem a boca quando penso que ser beijada e perder o chão, para mim é muito mais que uma metáfora.

já não posso exagerar no vinho e isso já me parece castigo suficiente. ela só buscava ter o melhor de dois mundos, o que por si só não é um pecado tão terrível e em alguns momentos não me parece sequer pecado, apenas um desejo besta de viver algo cotidiano e belo ou apenas uma forma de  acostumar-se melhor com os espelhos, ver nos seus olhos refletidos alguma história que valesse a pena ser contada de forma poética, e não apenas a constatação de que o que os espelhos nos mostram é o oposto do que as pessoas nos dizem e que a física óptica não passa de uma maravilhosa ilusão e a mentira pode derivar-se de um imenso afeto.

ela quis permanecer e não houve adiante, pelo menos não nessa direção. o querer ainda é importante e não tem nada a ver com o necessário. as nossas necessidades não passam de adaptações. ainda há esperança e ela está na vontade. são nossas ganas que nos movem e foram elas que me levaram a viver o que eu vivi com você.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

se me tivesse sobrado uma ponta de cinismo, eu fumava.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"hoje eu não estava nada bem mas a tempestade me distrai..."

mesmo quando não há sol, todos sabem quando é dia.
nunca mais eu lamentei o clima. já não penso no trágico. que queime o inferno ou que congele o meu sangue. que as inundações me encontre com os bolsos cheios de pedras. o calor só me incomoda quando ausente. quando frio eu busco o aconchego de pessoas, esquento nos seus os meus pés.

meu tempo eu desperdiço junto com tudo que é meu. o nada já me ensinou: desperdiçar é aproveitar quando se trata dos meus próprios vazios, das minhas quietações, do meu ócio.
aqui, enquanto o vento arrasta nuvens e balança as cortinas, só quem eu quero. só quem me querer.