sábado, 24 de outubro de 2009

"Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."

Caio Fernando, porque às vezes, quase sempre outros dizem melhor que eu, apesar de eu saber o que há pra se dizer e como quero que me entendam. Se fosse uma esquina qualquer e eu tivesse oito anos e um metro e vinte de altura: todas as esquinas são do tamanho do mundo, todos os cruzamentos são imensos, olho para cima e os postes de energia com seus fios são monstruosos. Hoje, nem tanto, mas ainda quando olho para o céu alguma coisa sei que acontece comigo e é uma sensação de miudeza... é um mundo de gigante e uma criança eu sou. Te digo e você há de entender, não é à toa que você já ocupou o seu lugar, é que você me causa a mesma sensação que me causavam as esquinas e não se trata de uma queixa, porque tudo que me traz o que já é meu, me desperta inclinações adormecidas e vai deixando esse meu peito ninho mais quente e aconchegante. E é por você. Que bom.

domingo, 18 de outubro de 2009

Hoje eu sei dessa minha tristeza. Essa que de mim não se separa, que é dos meus muitos impulsos o que menos controlo e do qual não posso me desfazer. Minha tristeza é minha raíz e eu não passo de uma árvore velha. Não avanço, não saio do lugar porque me prende à terra. Meu caminho é para cima, para sempre. minha tristeza não se renova como as minhas folhas, não conta as estações, quem faz assim são as minhas alegrias. Todas elas passam por mim, me afagam, me cativam e me deixam. É assim que é e eu sempre me acostumo. Gosto das pequenas alegrias passageiras, gosto do que me prende à qualquer infância, gosto de gritar quando um mundo de água cai fortemente sobre mim e não me afoga. O mundo já me sufocou muito antes. Respirar não existe. E essa apnéia me enche de pensamentos de morte. E eu penso nessa morte porque me comove a sensação egoísta de perda que ela traz. Gosto de chorar mortes que ainda não aconteceram, gosto de chorar minha própria morte. Sei que ainda viva sou ausente. Sei que frequentemente troco a companhia dos meus afetos pelo prazer individual, que é momentâneo mas que também é afeto, calor e tem sua beleza, embora sejamos nós assim tão imperfeitos. Eu suporto conviver com o peso de ter feito escolhas. O que não suporto é a idéia de uma vida longa sem aqueles que escolhi pra partilhar essa vida comigo. Possivelmente será pra sempre o que me fará mais triste, que deixará meus olhos com esse ar de cansaço e preocupação, foi como disseram que eles são. Meus olhos nunca brilharam e eu nem acho isso tão ruim.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

não me troco nem por um e nem por vinte. eu escolhi uma vida que não se limita. de nada faço questão. abro mão fácil e sem melancolia. me divirto com colchões de molas. só meu pai sabia como me tirar pra dançar. ele ainda é o homem da minha vida. eu nunca esqueço uma palavra que cortou meu coração. eu não esqueço minhas palavras que cortaram outros corações. eu fuji de casa e vou voltar pra casa. os meus filhos sempre foram meus, embora ainda não sejam. eu gosto de parecer expansiva e cordial. é bom ter com quem dividir os meus silêncios também. minha infância foi triste mas já passou. isso é uma certeza e um alívio. eu sou uma azeitona e tenho caroço. nada é mais bonito que suspirar timidamente. eu não sou amelie. não mesmo. eu estou viva e não me escravizei. gosto do que é forçadamente casual. eu não sei se forçadamente existe. eu sou sinhá vitória de graciliano querendo ser audrey hepburn. chico buarque nunca cantou meu nome. porém a canções que tem meu nome é a mais linda do mundo. eu sou ridícula. eu acredito e construo. eu crio diálogos incríveis dentro da minha cabeça. flertar com a mentira e romper com as verdades. eu quero que o mundo ferva. eu adoro falar cu. eu quero que as pessoas partam. eu quero partir. despedidas são mais bonitas que encontros. eu prefiro as rupturas. sou tão banal e volúvel. eu já quis mudar alguém. o que é imbecibilidade? eu gosto de limonada mas prefiro dançar de saia. eu acho a indiferença o máximo. eu respondo com sorriso amarelo a conselhos idiotas e dispenso previsões. eu vou ter um filho porque escolhi ter um filho. eu não me importo com o que você pensa. escrever em primeira pessoa me faz sentir importante.


e daí?