quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

fragmentação

acordei e soube que já era dia alto, mais de dez da manhã, pela luz que atravessava a persiana e desenhava listras na parede. ela não estava mais no quarto, mas pela sua presença que sempre faz os lugares e as coisas vibrarem sabia que estava pela casa, embora absolutamente silenciosa. é provável que estivesse na sala e foi onde primeiro a procurei. não estava. fui ter com ela na varanda e estava estendida de bruços sobre um colchonete desses infláveis, para acampamentos forrado com lençol branco. vestia apenas a calçinha de biquini preto e fui feliz em perceber que apesar de tanto tempo distante do mar, ela conservava uma certa 'morenisse' que lhe caía muito bem e que destacava-se pela brancura do lençol. lia algumas folhas de caderno destacadas e reconheci a letra como sendo a minha, entre rabiscos, frases que escrevi e desisti, algo se constituira e ela segurava as folhas com a mão direita e com a esquerda um cigarro desses aromáticos e enjoativos que ela tanto adora. uma fivela marfim prendia caprichosamente a franja para que não caísse nos olhos e apoiada sobre os cotovelos, ao perceber minha presença, ela não desviou os olhos que percoriam a folha em zigue-zague, apenas disse, num tom meio rouco, produzido, possivelmente pela posição de seu tronco elevado e o pescoço esticado: 'não estou entendendo nada. me explica?'

achei graça do seu pedido. sempre achei que autores nunca sabem explicar suas obras, e os que o fazem possuem no mínimo um ego-inflante como um balão de gás nas mãos de uma criança gorda, e são tão certos de sua genialidade que não percebem a ridícula situação de tentar explicar o que já foi por ele dito, registrado e possivelmente publicado. bastava-lhe rasgar sua obra, deletá-la, usá-la como fogueira em noite fria, limpar a bunda quando, eliminando seus excrementos e de súbito, se visse sem o papel adequado para realizar sua higiene. enfim, bastava a tão sábia criatura que desprezasse suas idéias e palavras e as escrevesse novamente, de forma que os simples mortais, como a doce menina estendida na varanda os pudesse compreender e fizesse a ela algum sentido. de que vale a arte que não se explica por si só?

apenas sorri e respondi: 'não há o que explicar. foram feitos pensando em você. são para você.' ela sorriu e me olhou, enfim, como se desdenhasse e pensasse 'ele diz isso para todas.' o que era uma inverdade. eu só disse que eram para ela para que me mirasse como naquela hora. para que se virasse no colchão e eu pudesse ver seus seios, o desenho caprichoso da sua cintura, sua pinta na barriga, os seus joelhos ossudos dobrados e o vão entre suas pernas. esgotaria minha veia literária, escreveria o pior dos romances, um fracasso em estilo e criatividade, para que ela permanecesse naquela pose. e jamais me faria entender. ela jamais entenderia.
'se leila diniz fosse moça por esses dias, certamente teria um blog e não chocaria ninguém! embora ela jurasse que sim...'

presentes

os melhores presentes nunca chegam na data que são esperados. por vezes vêm nos dias mais inoportunos. não adianta, o melhor presente não virá no dia mais colorido, no dia do nosso aniversário. claro que os presentes de aniversário sempre são bons, bonitos e têm a 'nossa cara'. claro que foram comprados ou fabricados ou preparados com o carinho e cuidado e com o pensamento em nós. só isso já faz deles algo muito nosso e muito bem-vindo. claro que nem sempre são presentes com forma física completamente sólida, mas até aquela voz do outro lado invisível, trouxe pra cá, pra dentro uma cor de nostalgia.

mas eu penso cá pra mim que os melhores presentes são os que ofertamos a nós mesmos. o que contruímos todos os dias do ano, embrulhamos, enfeitamos com fita colorida, olhamos para nós mesmos e dizemos: isso é pra você! [hoje eu me permito até os mais idiotas clichês, foda-se!]no meu caso, apesar das pequenas crises, foi bonito e especial o dia em que completei vinte e cinco primaveras. foi um bom dia. o 'promova seu aniversário' rendeu momentos de alegres e sinceros sorrisos.

mas o dia seguinte trouxe consigo um céu nublado, uma visita especial e o meu presente. um presente que eu preparei meio as pressas, sem a certeza que eu iria gostar. um presente que veio e ainda virá, pois costituí-se de etapas. o presente que pude espalhar com quem me acompanhou desde a idéia, os primeiros preparos, as dúvidas, os apegos no passado, os medos do futuro. espalhei entre os que realmente importa dividir o que quer que seja nessa vida! aqueles que permitem-se partilhar. foi engraçado perceber algumas caras espantadas, gritos de entusiamo e aqueles olhares de orgulho bobo e inútil, mas que eu não dispensei, ao contrário, aproveitei-me deles! confesso que eu mesma em certos momentos, em muitos deles pra ser sincera, duvidei que esse presente chegaria e pode ser que não chegue por completo, mas vem chegando devagarinho, no seu tempo, e na verdade já me fez imensamente feliz o quanto ele me permitiu até agora. caso ele não chegue, o momento felicidade já chegou e eu soube vive-lo sem o prender, assim como não quero prender a nada nem a ninguém. quero que ele venha, quero sentir de novo aquele frio e aquela sensação de incrédulo. quero estar lá, embora eu saiba e acho que já disse: estar lá não fará de mim alguém melhor do que sou! mas eu quero, porque foi bom demais. quero que ele venha sempre nos dias errados, assim como vêm os banhos de mangueira nos dias quentes e coloque sorrisinhos na minha cara. e que venha com fitas e com cartão: com carinho, de eu para mim!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

mudança

eu não pensava em me mudar. não esse ano. estava até que já conformada com o meu dois por dois, já conseguia até fazer alguma ginástica, dançar em cima da cama como o ney matogrosso 'onde está você, meu amoooor? eu preciso de um pouco de calooor!' não era a casa dos meus sonhos, até que pra quem achou que não sobreviveria, eu estava bem a vontade.

daí o telefone tocou, era quarta-feira. do outro lado ela me disse: você vai adorar. algumas pessoas nos conhecem, mas por mais que nos conheçam, nunca nos conhece mais do que nós mesmos. pois é, cada um sabe de si, mas ela soube compreender o pouco do que me mostrei e dessa vez ela acertou.

não precisei ver a parede pintada de lilás, embora seus palpites estivessem fundametados na dita parede. antes de girar a chave eu vi na varanda dois ganchos pregados um em cada pilar de forma diagonal e na mesma altura. uma rede. bastou-me. não precisava ver mais nada. sim, a parede lilás é linda. a cozinha é linda, o banheiro é lindo e agora eu poderei ter uma rede!!!

sexta feira, tudo par dentro da caixa. telefonema: mãe, amanhã vou pegar as minhas coisas que estão guardadas aí. 'mas você vai se mudar de novo???'

vou. 'mas você parece cigana!' é... acho que eu sou mesmo!

sábado de manhã, tudo dentro das caixas, dentro do carro e pronto! uma hora depois eu passeava pela feira e a rede nova já está na varanda. 'se a rede é maior do que o meu amooor não tem quem me prooove!'

previsão para as férias: passar horas deitada na rede, lendo, ouvindo canções, fotografando o céu, brincando com o cirilo.

sim, agora poderei trazer o cirilo. mais um lugar, mais uma vez. novo de novo. novamente. outra vez.

é isso aê!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

crise criativa?

sim, eu tenho! são tempos de dizer pouco. nem tão esotérica assim, mas me diverte sempre essa história de inferno astral. eu posso ser azeda, melancólica e chatinha o quanto quiser. não sou eu! é o inferno astral. todo ano a mesma história. ai, como eu sou repetitiva e cansativa. outro dia, num desses papos sobre essas baboseiras astrológicas alguém me disse pra relaxar. que idade importante mesmo não são os vinte e cinco, mas os vinte e nove porque aos vinte e nove o planeta saturno estará exatamente no mesmo lugar no espaço em que estivera no dia em que eu nasci. daí eu me lembrei da canção: 'e aos vinte e nove com retorno de saturno, lálálá... nãnãnã...'

foi divertido esse papo, não é a todos que eu canso muito fácil. acho que na verdade é mais a mim mesma. não dispenso a solidão e às vezes eu prefiro encontrar com as pessoas uma de cada vez e conversar até as coisas se esgotarem e aproveitar os silêncios e preencher os vazios. encontros sociais que ultrapassam o número de três ou quatro pessoas me desgastam. ainda assim eu não desisto da idéia de ter uma vida social menos ordinária. quando tudo me irrita eu me finjo bêbada e vou-me embora. não abro mão de aproveitar companhias, não abro mão de curtir ausências.

então agora eu já sei que os vinte e cinco não são nada mais que a continuação dos vinte e quatro. que os astros no céu estão de acordo que idade importante mesmo são os vinte e nove! os anos são só uma forma de contar e organizar o tempo. sou imatura, confesso. sou uma meninaque não queria crescer, que não queria estudar, que não queria trabalhar, e ainda não quero! não posso dizer que sou plena e realizada, até porque nunca estabeleci metas muito ousadas ou bem pré-definidas! eu escolhi viver com um pouco mais de leveza, de desprendimento e disposta a encarar as responsabilidades que essa vida implica.

cansei de me justificar. pela primeira vez na vida eu quis ter uma idade acima da que tenho. queria ter vinte e nove. só para enlouquecer. só para ver o que acontece com saturno e com os outros planetas. e como estarei lá. sem a cara que eu tinha, ainda serei imberbe, porque nunca terei a barba que não é minha. [droga!]

dificilmente voltarei aqui para escrever sobre coisas relevantes, de fato. pelo menos até esses vazios de pensamento passarem. se é que um dia eu escrevi alguma coisa relevante na vida. teve ter alguma coisa perdida por aqui, no espaço físico das coisas que me rodeiam. então, buscarei por elas, coisas que escrevi aos quatorze anos e fingirei que escrevi ontem. só para parecer que é novo. só para parecer que sempre tenho novidades. embora tudo continue estático sob o vermelho do céu.

venha com o vento. faz do vento movimento. voltarei quando voltar de saturno. adeus.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

mais um presenteeenho




aceito fácil, hein? meu pézinho de cinderela é tamanho trinta e oito!

aliás, aproveitando, você sabe qual é a unidade de medida que determinam a numeração dos sapatos?

eu sei que meu número é trinta e oito, mas trinta e oito o quê? pois bem, uma vez me disseram na escola, não me lembro quem. não aprendi quase nada na escola, mas eu me lembro: são grãos de cevada! pé tamanho trinta e oito = trinta e oito grãos de cevada!

clap! clap! clap! obrigada, obrigada!

agora chega de palhaçada e vai comprar minhas sapatilhas do pequeno prícipe!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

aline

'et j'ai crié, crié, aline pour qu'elle revienne'

etimologia (origem):
é um variante do nome feminino adeline (adelina). é de origem alemã.

a raiz germânica do nome é 'adal', que significa 'nobre'.
mas o marcante é o sufixo '-line', que também vem do germânico 'lind' e significa 'doçura'.

contrariamente ao que se possa pensar, aline não é o feminino de alain (alan), mas é o diminutivo antigo de adeline, comprovado principalmente no mundo rural europeu, desde o século XVII. o sucesso do nome aline tornou-se discreto e constante desde 1.600.

fonte

porque o meu nome se perdeu.
porque o meu nome agora é o teu.

domingo, 30 de novembro de 2008

presentinho




máscara de dormir da holly golightly! um luxo!

pela bagatela de quatorze dólares!



meu aniversário está chegando! acessem o fredflare e providenciem, seus imprestáveis!

sábado, 29 de novembro de 2008

certeza é o chão de um imóvel

mas eu prefiro as pernas que me movimentam! ^^

eu descobri...

de onde ele rouba o brilho infantil dos olhos que me olham agora. mas não posso dizer porque é um segredo que não é meu, não posso revelar. só posso contar que de todas as alegrias que me costituem, a alegria de sabê-lo existente é a que agora me faz contente. eu não sou das que romantizam, nem das que fogem. sou só uma folha solta que um dia vai se colar novamente ao galho. repito: não romantizo. ao contrário, prefiro as razões. procuro levar num embalo macio e gostoso as lembranças e não tento nem quero viver novamente. não quero que o tempo volte. só quero que prossiga sem esforços, assim aproveito-me da distância pra desafogar sorrisos perdidos entre suspiros que me fazem tão bem. repito: sorrisos me fazem tão bem. eu não me perdi, não sou mais criança, embora isso nem sempre fique explícito. já aprendi o caminho de volta pra casa e aprendi a fazer de onde estou o meu lugar, seja lá onde for e como for. mentira, estou aprendendo. mesmo no feio, busco enxergar o belo pelo puro prazer de ver além do que se vê. só pra fazer um verso depois. e esse verso já teve mil formas, mas nunca parece de acordo. uma hora vai ficar bom, do meu gosto. é um versinho só. um dia canto pra você.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

desfecho

[...] um - boca na barriga, língua na barriga arrepio. boca nos seios, dentes no seio, sangue, gritos.

dois
- mão esquerda no ar, mão esquerda no rosto, força. travesseiro, dor. não há mais gritos.

três - faca. ponta e cabo. a jugular. ponta, cabo, ponta, cabo. muito sangue.

agora sim o pau endurece. mete nela enquanto a carne ainda fresca.

- feliz dia dos mortos, pequena.




em 02 novembro 2008

tudo suporto

menos arrogância

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ônibus

parado próximo ao poste pintado de azul e branco, ele agita freneticamente o braço esquerdo. com o direito segura um guarda-chuva estampado com hibiscos amarelos. o veículo reduz velocidade até parar, a porta se abre mecanicamente, ele entra, sacode o guarda-chuva de uma forma assim charmosamente desajeitada [desculpem-me, não encontrei no meu vocabulário limitado um termo mais adequado ao gesto]. eu reparo. hibiscos são minhas flores preferidas. gosto de lírios e de anturios, desses últimos principalmente pela forma, mas tenho apreço especial pelos hibiscos. ele vai até o cobrador, paga dois reais e trinta centavos e fica ali em pé. eu desligo o 'walkman' [na verdade uma dessas maquininhas modernas de ouvir música, mas eu gosto de usar termos que estão em desuso]justamente no momento que jorge drexler ia dizer 'con las luces de la aurora, junto a tus sandalias planas que compraste aquella vez en salvador de bahía'. eu adoro essa parte da canção, mas foi bastante providencial que eu deixasse de ouví-la naquele momento. assim que me livrei dos fones de ouvido o cobrador diz ao moço desajeitado 'não vai passar a catraca?' o moço me olha, sentada num banco reservado a obesos [não é ironia], no lado anterior a catraca e diz ao cobrador 'preciso passar?' sim, ele me olha, apesar do batom novo, que era pra ser rosa, como de penélope cruz no cartaz de volver, mas é roxo e não combinou com a minha pele, mas combina com minhas calças roxas. o cobrador, obviamente não se dá o trabalho de responder o questionamento do moço, uma vez que esse já procura um assento e sem olhá-lo diretamente eu percebo que ele usa tênis listrado e os tênis estão ensopados, assim como a barra da calça. percebo também que ele se senta exatamente atrás de mim, de forma que ele tem uma visão privilegiada da parte posterior da minha cabeça e dos meus cabelos maltratados, cheios daqueles fiozinhos quebrados que insistem em arrepiar quando o tempo está úmido como estava nesse dia. olhei para baixo, um fio de água escorria pelo chão vindo de trás, possivelmente do guarda-chuva de hibiscos.

não saberia com precisão, mas foi muitíssimo rápido, ele cantarolou 'tu boca roja en la mía, la copa que gira en mi mano' virei-me ao mesmo tempo que me xingava mentalmente de muitos nomes por não ter escolhido o batom vermelho naquele dia, que é muito mais bonito que o roxo. 'estava agora mesmo ouvindo essa música' ele sorriu sem mostrar os dentes 'jorge drexler é ótimo.'

de repente e muito alto: ei! pode parar aqui! vou descer! e eu: moço, é só apertar o botão. 'qual??? o laranja???' sem esperar resposta ou agradeçer levanta-se, aperta o dito botão, espera a parada seguinte e desce abrindo o guarda-chuva de amarelos hibiscos, que só nessa hora eu reparo está com uma haste quebrada.

esse batom deve ser uma coisa assim assustadora.

trecho

- eu não sei nada

- eu te ensino a saber, mas não a sentir. não sinto nada, já faz algum tempo.



[ou qualquer coisa assim]

terça-feira, 25 de novembro de 2008

'se você disser que quer eu digo que quero também. se você disser que não, minha nêga, eu volto no primeiro trem!!!'

domingo, 23 de novembro de 2008

amor da minha vida...

eu já disse o quanto sou feliz quando estou lá, onde tudo é verde e branco. eu também já disse que felicidade pra mim não é ponto de chegada, muito menos de partida. é a simples sensação de sentir-me bem em determinadas ou indeterminadas situações. sendo assim pouco me importa que não consigo ter uma existência economicamente estável, muito menos emocionalmente estável. pouco me importa que existem mil coisas a fazer antes de zerar o ano, foda-se que falta menos de um mês pros vinte e cinco e não sei o que fazer com eles. a única coisa relevante que me faz imensa e absurdamente feliz hoje, agora, é você, guarani!

você que frequentemente me faz chorar de tristeza e de raiva, mas quando me faz sorrir nem me lembro de quando me faz sofrer. você que é um e que sempre é muitos, que me enche de orgulho com suas conquistas. pode cair o céu em chuva e me molhar até o pensamento, eu continuarei cantando pra você, porque eu nunca deixei de acreditar! e seguirei acreditando, porque agora o pior já passou! que bom!

não é fácil te amar. quem te ama é paciente, teimoso, persistente, abnegado, maluco. sou tudo isso e te amo. em qualquer divisão, entre trinta, vinte mil ou entre trezentos torcedores, eu sempre estarei lá!

que bom foi te ver entrar em campo, ver nossos onze guerreiros honrar tuas cores e tua história. estou feliz por você e por nós, guarani! não me esquecerei de hoje... são essas alegrias que a tantos pode parecer insignificantes, e pouco me importa o que parece aos outros, que faz minha vida mais leve, mais colorida. e as cores da minha vida hoje são verde e branco! e verde e branco é o meu coração!

sábado, 22 de novembro de 2008

black book

se calarem os 'poetas', falarão as pedras!


do lugar mais improvável, o verso mais lindo do mundo:

'beija-me com os beijos de tua boca, pois melhor é teu amor do que o vinho'


can 01:01

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

clichê cinematográfico

eu tentei. mas precisava vir aqui e dizer. então eu vim e vou dizer, assim sem nenhuma necessidade desejo necessidade vontade. é só essa mania de querer me expor. essa é a grande verdade: eu gosto de me aparecer.

tem horas que eu paro tudo que estou fazendo e volto em pensamento praqueles dias. nós dois naquele lugarzinho, aquele azulejo antigo, aquele azul que me lembrava a cozinha da minha mãe, quando tínhamos fogão, mesa e geladeira azuis e o quanto fomos felizes lá na cozinha. mas não era sobre a cozinha que queria falar e nem sobre como nos irritava as oscilações do ar-condicionado. é que ao contrário das minhas preces as horas passaram e eu tive que ir embora, mesmo querendo ficar. o que ele não sabe é que hesitei absurdamente e antes de descer por aquele lance único de escadas tosco pensei em voltar, bater de leve na porta, esperar que ele abrisse e lhe abraçar assim bem apertado de um jeito que eu não costumo abraçar. quase do jeito que ele me abraçou enquanto a gente dançava num outro dia e foi tão bom.

enfim, eu só pensei, não voltei e não lhe abraçei com meus braços porque me pareceu que não teria muito sentido e pode ser que as razões ficassem sentimentais demais e daí deixa pra lá... mas pensando agora com meus botões, até que teria sido uma cena bonita... poderia vendê-la pra algum filme. mas ela já deve existir em algum filme. eu já vi isso em algum filme, só pode! aliás, de tanto pensar, acho que teria sido bem clichê.

mas a verdade, e o único motivo dessa baboseira toda é só pra deixar registrado, que aqui tem pra ele um abraço guardado. e não é um abraço qualquer, desses que a gente distribui todos os dias. é daqueles que querem se desmanchar em ser abraço e só. assim como as coisas que partilhamos deixam de ser um pouco nossas, esse abraço não é meu. esse abraço é dele. sendo assim não posso assegurar por quanto tempo ficará um abraço aqui guardado. não sei nada sobre abraços, se têm prazo de validade essas coisas. mas cuidarei dele. até arrumei uma caixa só pro abraço, pra que não precise se dividir com as outras coisas que trago na velha caixa. é uma caixa nova e escolhi pra ela um laço azul que lembra o mar, diferente da outra que tem laço lilás como as paredes do meu primeiro quarto. mas isso nem importa. o que importa é que enquanto estiver o abraço bem guardado em sua caixa, ele poderá vir e recebê-lo quando quiser, puder ou precisar e se quiser, puder ou precisar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

o lado bom

deve existir. se existem por aí tantas coisas, abelhas, redemoinhos, guitarras, deuses e pato donald também existe. existe papai noel quando é natal, mesmo que de mentira, mas existe. existe mil mãos, uma de cada jeito, tamanho, cor e disposição. existem os seres que repousam ao pé do meu ouvido e passam horas a sussurar palavras que nem sempre entendo, mas registro. e sobre tudo que existe há coisas pra se dizer a respeito. dizer bem, dizer mal, e mesmo quando cala ainda assim, diz. diz que vem e que ficará por mil anos, diz que os ventos que te trazem são doces e sopram sempre nas noites de verão. porque são esses os ventos bons, que ajudam a secar e refrescar a pele.

diziam em outros tempos que uma carta sempre deve conter novidades. isso quando ainda eram escritas as cartas. elegância nunca foi o meu forte e eu gastava horas me desmanchando sobre as páginas na esperança que de repente, da ponta do lápis brotasse uma novidade qualquer: estou grávida, nosso filho nasceu morto, troquei sua coleção de tampinhas por uma codorna, sou uma filha da puta e escrevi um livro sobre uma mulher que comeu uma barata. não só por esse, mas muitos outros motivos, entre eles a falta de destinatário, as cartas permanecem inacabadas e não enviadas.

falando em destino, e em coisas que existem, eu digo: o destino não existe. diferentemente do inferno astral e de outras baboseiras dessa natureza porque o inferno astral não só existe, como é quente e colorido. ele é como que uma indignação com o mundo por ele continuar a girar nesse mesmo embalo enquanto você está ficando velho. tudo em volta te olha e sorri, sem abrir os lábios e diz apenas: pouco me importa. pronto! logo você que nunca dorme, passa a se entregar aos lencóis por doze horas ininterruptas, tendo sonhos totalmente nítidos e bizarros e passa o dia rindo sozinha lembrando os tais sonhos enquanto devora um pote inteiro de sorvete de limão com bastante leite condensado.

enfim, fracasso é a própria demolição moral de qualquer pessoa, já disse o gabo alguma vez em algum lugar que eu nem sei onde. resta aos fracassados a digna humildade, que sempre foi a virtude dos incompetentes, como eu. eu até posaria nua se isso tivesse alguma relevância pra quem quer que seja, mas nem isso. as pessoas ainda gostam de mim e isso existe em alguns momentos e inexiste em outros. mas as pessoas definitivamente não querem me ver pelada. mais propriamente elas amam querer saber meu desempenho nisso ou naquilo, daí se sentem bem em ter me ofertado alguma atenção como se eu ficar falando e falando e falando da minha vida, dos meus mortos e dos meus caminhos tortos, fosse assim, tudo que eu precisava naquele momento. e às vezes elas estão certas. essa necessidade existe. mas nem sempre. as pessoas são pretenciosas. eu sou pretenciosa. mas não muito. minha insegurança não me permite sentir assim, muito genial. e os fatos estão aí pra me lembrar que é assim que é mesmo.

sigo em silêncio. não que eu não tenha o que dizer. queria tanto dizer coisas pra te impressionar, queria tanto falar por horas e horas e horas, te contar toda a minha vida imprestável, desde a minha primeira lembrança, o primeiro filme que eu vi no cinema, meu primeiro amor platônico, todos os medos, da vez que quebrei o braço, da vez que quebrei a perna, a primeira vez que eu vi o mar. mas quando estou com você, tudo me parece sem importância, tudo parece bobo demais, minhas nostalgias parecem apenas idiotices de garota do interior, e eu até tento me lembrar alguma coisa bacana que aconteceu outro dia, mas quando eu abro a boca só sai merda. daí eu me calo. daí eu fica querendo de volta a minha cabana embaixo do abacateiro. mas o abacateiro nem existe mais porque as raízes dele fizeram cair o muro e gastamos muito dinheiro para refazer o abacateiro e arrancar fora o muro. oops! digo, refazer o muro e arrancar fora o abacateiro. porque o que é de concreto sempre foi mais importante. sigo em silêncio e só.

e é nesse estar só, sempre aqui, sempre por tantas horas que eu queria dividir contigo algum dia. não muitos, alguns. mas eu queria que existisse. não como o frio, porque esse não existe. é apenas a ausência de calor. e eu fico pensando existe existe existe. não existe.

sábado, 15 de novembro de 2008

nossa dor

ela bem sabe e também há tempos já percebi que essa dor não é daquelas que passa com duas ou três doses e um baseado. por isso, principalmennte por essa capacidade que o doer tem de ser linear e constante, nos mantínhamos fielmente agarrados a nossa dor, com todo cuidado para não dispersá-la entre uma alegria boba qualquer e outra, não deixávamos que essa se espalhasse pelo ar como poeira de pensamento.

as vezes, quase sempre, ela me procurava na madrugada. vinha com aquele choro baixinho, entrava sem pedir por entre o cobertor, dizia não conseguir dormir lá no seu canto sozinha, que sentia medo por senti-lo ainda tão presente no vazio silêncioso das noites de pouco sono.

eu a recebia sem perguntas e confesso que até anseava por suas visitas noturnas. para beijar-lhe as lágrimas quentes e abraçadas ainda libertava-a da camisola e fazíamos tudo bem lentamente.

eu também sofria, porque mantinha em segredo meus ciúmes de macho e sabia da facilidade dela em retribuir com carícias doces qualquer atenção que lhe fosse ofertada. ainda assim, esforçava-me por não imaginar as outras mãos que sempre lhe tocavam todas as noites em que ela não aparecia.

minha pequena! ainda recordo o delicioso azedume de seu hálito quando de manhã. e eu respirava o ar que saia por sua boca calma. beijava-a nos lábios e ela nunca despertava. me aproveitava e insistia pelos ombros, braços, dedos, ventre e ela só sorria de olhos ainda fechados quando eu alcançava com meu rosto por entre suas pernas.

era um despertar sempre colorido, durante o dia as horas pareciam vagar como que entre os mortos. eu morria a cada amanhecer quando precisava deixá-la sentindo sozinha seu corpo esfriar pela cama. eu era morto até reencontrar-me com sua presença afogada em lágrimas a cada madrugada.

era a dor que necessitávamos. que nos justificava. mas não só isso. porque nela e em mim, fatalmente a dor doía.

os sonhadores



toda petição é um poema, todo poema é uma petição

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

causa y efecto

jorge drexler

estaba dejándome estar
oyendo el tiempo caer
en los relojes de arena

mirando un instante partir
y otro llegar
pensando en tu amor

tu amor que viene y que va
siguiendo las estaciones
tu amor es causa y efecto de mis canciones

la vida cabe en un clic
en un abrir y cerrar
en cualquier copo de avena

se trata de distinguir
lo que vale de lo que no vale la pena
y a mí me vale con que me des
poco más que nada
a mí me basta con una de tus miradas

pensando, estaba pensando
por la ventana de aquel bar
mirando a la gente afuera
ir y venir
y juraría que te vi


aunque sé que estás a un año luz de mí...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

meus lamentos

foi bom ir pra longe, mesmo que por alguns poucos momentos. essa semana não é nada fácil. prometi concentrar-me somente no essencialmente necessário, porém venho numa briga intensa com a dispersão. me culpo por estar aqui, perdendo tempo com internetices [como diria o sábio sr. clark].

de um lado, são só conselhos: fique tranquila. não seja preguiçosa. beba chá de melissa [a flor que tem nomede moça]. faça a sua parte. desligue o pc e vá estudar. almoçe adequadamente. leve chocolates. não leve água com gás. tudo bem, odeio água com gás!^^

do outro lado, são só expectativas: você vai passar. acredito em você. aposto dinheiro em você. vai e arrasa!

do lado avesso, contradição. do lado de fora o sorriso, aparentemente tudo em seu lugar. do lado de dentro, uma súplica por paciência, por sossego. um lamento contra a pressa!

pois bem, isso é ridículo. as pessoas são ridículas. eu sou ridícula. toda essa comoção e cuidado pela minha pessoa só aumenta potencialmente meu medo do fracasso.

logo eu! que me deixei convercer que esse era um bom caminho só por brincadeira e pra encerrar uma discussão chata. me inscrevi no último dia, ainda pensando em mudar de opinião e prometi fazer tudo sem pretensão. agora tô me esfolando e me enganando, achando que em uma semana passarei de pior aluna a geniozinho.

culpa das pessoas: imprestáveis! eu deveria ter feito segredo, se eu não fosse um desastre em guardar segredos meus e alheios também. não me basta minha própria patética expectativa preciso conter a expectativa de terceiros:

- e aí? o que você vai fazer se passar?

[hein?]

resposta idiota:
- sei lá... vou pintar o cabelo de azul e fazer uma tatuagem na bunda escrito: aqui a unicamp não mete

eita gente que me cansa. por isso eu fugi pra cá.

entre tantas outras, a pérola da semana: vai esperar chegar nos trinta pra ser mulher de verdade?

pior que ouvir isso é não ter resposta convincente... ainda bem que aprendi: na falta de argumento, mande um palavrão!

acho que nunca serei, se você bem quer saber. serei pra sempre de mentira.
não é necessário fechar os olhos
se somos assim tão capazes
de enxergar na escuridão
repousamos no nosso silêncio
cheio de palavras não ditas
as minhas, presas ao meu medo
em parecer cheias de apego
das tuas, não sei se saberei

a minha recusa não quis dizer não
talvez tenha sido ela
que me despertou do sono leve
me trouxe para o que é meu
onde me protejo e não me divido
onde disfarço meus impulsos em fazê-lo

o meu conforto é o segredo:
o encanto está no momento
em cada um deles
nos que preenchemos cada espaço
como se feitos sob medida

minhas razões insistem
e eu sigo justificando coisa qualquer
olho o chão. prefiro não ver
teus passos se perderem

apenas me esforçarei por não esquecer
dos momentos que nos constituem
no submundo dos imperfeitos e mal falados
onde me espalho fácil e não me emendo

não me perturba o calor em excesso ou a falta dele
me pertuba o passar, passar das horas

terça-feira, 11 de novembro de 2008

pazes

sabe aquela sensação de engolir alguma coisa sem mastigá-la?
pois é, depois de semanas ela passou. e eu não engoli o que estava engasgado, eu coloquei pra fora.

demorou...

primeiro bebi dois litros de suco de laranja. não desceu. três dedos na garganta forçaram o vômito mas o tal 'bolo' ainda me apertava o peito. bem no meio. de todas as sensações que me ocupam, essa certamente é a que mais me dói.

ela tem nome: nó no peito.

sem outra alternativa te procurei. sufocada, te procurei. quando meus olhos alcançaram os teus, ainda hesitei, quis voltar. mas não tinha jeito: subiu pela garganta fácil, como se nunca estivera preso, e despejei pela sua sala, quase acertei sua roupa nova.

foram tantas palavras. mágoas passadas, pedidos por perdão. você me disse que te fiz sofrer, senti teus olhos como os olhos de minha mãe quando me repreendiam. recebi teu abraço e teu beijo na minha testa, chorei. e o dia fez uma pausa pra que você me acolhesse. como se tivesse eu doze anos, como se ainda usasse o velho vestido xadrez.

disse que me adorava. não sei se de verdade, mas tua ternura me fez fraquejar e ser fraca naquela momento me fez mais forte. muito mais do que quando me vou sem olhar pra trás, muito mais do que quando ironizo meus sentimentos e digo que pouco me importa. foi como aquela velha sensação de proteção.

é bom te ter de volta entre os meus. de onde, na verdade, você nunca saiu. ainda há flores por colher no nosso caminho. e partilharemos delas que sempre são nossas.

obrigada! por me aceitar de volta e por ainda me querer bem.

domingo, 9 de novembro de 2008

é primavera, mas por aqui parece que é sempre verão.

onde se encontram todos os azuis e não só eles, mas todas as cores com as quais eu gostaria de pintar os meus cabelos, se elas não desbotassem tão fácilmente. e eu desconfio que desbotam de tanto olharmos pra elas.

a minha conclusão é que só devemos dormir depois de comer o mundo. engolir a terra e as criaturas. matar a sede de mar.

não há necessidade de imprimir marcas por aí, nem de registros que ultrapassem a memória. depositarei as lembranças na velha caixa e voltarei a enterrá-las. quem sabe dessa vez elas não brotem?

é primavera, mas por onde vão as flores?

não me prolongo. confesso, eu não consigo!

daqui pro fora de cena. mas eu volto pra contar os grãos de areia.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

uma palavra

imbecibilidade








pronto

terça-feira, 4 de novembro de 2008

pratos novos. uma duzia deles e são tão bonitos!

só me faria mais feliz que isso uma rede na sala. se eu tivesse uma sala.

sábado, 1 de novembro de 2008

castração

uma diz: vou praticar tiro ao alvo e exterminar todos os pombos da cidade!

outra diz: hahahaha! desencana! coitada das pombinhas!

uma diz: coitada das pombinhas é o meu pau!

outra diz: écooow! que mania feia que você tá de dizer isso! para com isso! nem um pau você tem!

uma diz: coitada das pombinhas is my balls!

outra diz: você é nojentaaa!!!

uma diz: ^^

faça por mim

crise criativa permanente.

um dia eu volto de lá
se não, faça no meu lugar

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

elas

elas são daquelas de guardar no pote. conservá-las no formol, só pra não ver se perder a doçura que elas têm.

a gente já deixou nosso verão pra mais tarde, por causa dos namoros bem sucedidos ou não, dos tcc's, das pilhas de trabalho atrasado, das roupas pra passar, da falta de grana e tudo mais. sem falar no oceano, no lá distante do oriente, que abriga uma parte nossa. ainda sim, elas se agarraram na boléia do mesmo caminhão onde eu já vinha soltando minhas frases por esse mundo.

engraçado pensar que conheci a cada uma num momento distinto. e nós nos unimos, o tal do santo bateu e tudo aconteceu e ainda acontece! não por mera conveniência, mas porque somos incrivelmente afins! poderíamos nos detestar, era um risco. mas elas são singelas e sinceras nos atos, nas emoções e mais, cada uma a sua maneira traz uma pureza de coração.

amigas presente, ausente, no quarto, nos telefonemas nas horas inoportunas, no japão. amigas dos origamis, acampamentos na praia, festas na unicamp, cigarros divididos, madrugadas no carteado, promessas de lamber o chão da bolívia! dos trocadilhos toscos com nomes: um tal de almirante, né?

amiga de contar o dia mais importante, de dizer exatamente o que eu tava pensando e eu dizendo 'sim! sim! é isso mesmo!'.

dessas amigas que fazem a gente se sentir esperta e madura. ou palhaça e infantil.

dessas que valem ouro.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

rest in peace

aqui repousa uma mulher.

bebeu, fumou e fodeu com qualquer um.

'que a terra lhe seja leve'

domingo, 26 de outubro de 2008

antes fosse

antes fosse tudo verdade e tudo por aqui fosse de fato quente, colorido e musical. hoje só me acompanha o silêncio. silêncio demais. daquele que preenche todos os espaços e não sobra espaço pra nem uma canção. o mais assustador é que demorei pra me dar conta dele. só percebi o silêncio que dançava entre meus pensamentos e o resto do mundo quando veio da janela entreaberta o som de crianças brincando de bola lá fora. daí veio de mim um ruído de voz e eu me lembrei 'não pronunciei palavra hoje'. nada se verbalizou. como que teimosamente, voltei aos livros e li tudo em voz alta. a voz saiu de mim desafinada e sem sentido propagando-se no vazio de mais um dia só. mas espantou pra longe a onda do silêncio que me afogava. encheu o quarto de vibrações sonoras e fiquei feliz por ouvir minha própria voz.

quase sempre eu não enxergo, só quando me toma de assalto aquela velha nostalgia. algumas coisas por aqui ainda são belas. e se não são agora, serão. e a beleza que visita essa minha casa é daquelas que faz coração apertar. daquelas que espalha a saudade quase que sem motivo.

saudades de tudo. até das tempetades. saudades do teu abraço, chérie. e ela não vem sozinha, traz consigo a angústia em te esperar, tua não chegada. minha recusa em ver-te partir. vem acompanhada do parênteses em que vivi coisas que não me lembro e não me esqueço. a fé nessa vida, que voltou um dia não sei como nem de onde. essa vida que tomei as rédeas ainda que sem um rumo. mas que segue e é por você!

as coisas belas que restaram é a minha insistência em lembrar de ti todos os dias e é a tua insistência em repousar dentro dos meus olhos cada vez que eles se fecham. todas as palavras que me constituem são tuas.
de que me vale ser filho da santa, chico?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

o que eu diria?

poderia fazer mil juras e gritá-las ao vento.
ou contar o meu segredo: 'a magia está no momento'.
falaria sobre o tempo, que o céu se coloriu de nuvens,
que as nuvens acabarão em signos,
versos e rimas pra te impressionar.

talvez fosse monólogo em silêncio
te pedindo pra partir ou implorando pra ficar.
talvez dissesse dos aromas, do cheiro das frutas
da lembrança de maresia ou da solidão dos sonhos
explicaria que a luz no horizonte são lamparinas
que não se rasgou o véu da noite.

o que dizer?
melhor calar. ou ainda um cantar.
teorizar o lógico e o confuso. correr os olhos no mundo,
permanecer a esperar.
melhor dizer nada, que nada adiantará.
não direi que amo. e nem que nunca hei de amar.

uma trégua

'aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
como aceito o frio excessivo no alto do inverno —
calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
e encontra uma alegria no fato de aceitar —
no fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.'

alberto caeiro

quanto falta pro verão?

não há nada mais aconchegante que o calor!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

meio implicante...

assinale a melhor definição sobre ela:

[ ] 'é uma imatura!'

[ ] 'isso é inferno astral!'

[ ] 'tá na tpm, e/ou com falta daquilo'

[ ] 'é uma coitada!'

[ ] 'lamentável!'

[ ] 'vsf fdp!'

[ ] todas as anteriores

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

futebol

faz tempo que eu ensaio pra vir aqui falar sobre futebol. falar como eu sempre me senti quando vou lá, onde tudo é verde e branco. onde eu já vivi momentos lindos e felizes e onde também chorei, praguejei, roí unhas, jurei nunca mais voltar e nunca cumpri.

pra mim, nunca ganhei nada lá. perder, eu já perdi. um pé de tênis, que eu joguei no arrogante luis fabiano, quando ele ainda jogava pelo são paulo f.c. mas não acertou! droga!

alguém já disse que futebol é a coisa mais importante entre as coisas desimportantes. há quem considere essa cultura futebolística algo irritante. eu concordo que a vida da maioria das pessoas não é um mar de rosas, e acho totalmente compreensível que muitos tenham como único momento de lazer e de descontração ver o time entrar em campo. acho, aliás, muito bonito a capacidade que as pessoas têm de ser felizes quando estão naquele transe coletivo de torcida quando canta, bate palmas e vibra!

o que é lamentável é a corrupção entre certos clubes e árbitros, que a gente sabe que acontece. o meu time, nesse exato momento está sendo descaradamente roubado, lá em aracajú... maldita série c! é um desrespeito por torcedores, que amam e se dedicam a vida toda a um clube, um símbolo e vêem tudo ser usurpado e o clube se afundar em dívidas e em derrotas, derrotas, derrotas. é muitíssimo triste essas coisas!

mas a gente não se entrega, não desiste, faz promessa, chora de alegria e de dor. a verdade é que não dá pra falar em futebol sem cair na máxima de que brasileiro, de um modo geral, é apaixonado por tudo aquilo. e eu não poderia me excluir. amo na vitória e na derrota, sempre!

mesmo pras coisas 'irrelevantes' é bem verdade: uns precisam de resultados, outros precisam de auto-afirmação, mas alguns só precisam de paixão! =)
tudo me assusta. eu queria dizer que não, que estou preparada, ou que tenho certeza que dessa vez estou no caminho mais certo. mas não dá. eu só quero que as coisas aconteçam. cansei de mastigar pedras que nunca poderei engolir.

eu me lembro exatamente do dia em que decidi: 'pra mim, chega! não dá mais'. era uma segunda-feira, ela pediu licença e entrou na sala timidamente. o menino vinha atrás. eu que já conhecia a mulher, suspirei baixo, já sabendo que teria que utilizar de todo o meu poder de argumentação para convencê-la de que toda aquela burocracia burra era muitíssimo importante e que ela deveria ficar em 'casa' e seria chamada quando a bondade 'divina' assim desejar.

não havia casa, não havia bondade. havia apenas ela ali na minha frente, e o menino brincando com qualquer coisa no canto da mesa. durante o discurso da mãe, por vários momentos me desviou a atenção o brincar do menino. era um menino muito bonito, teria entre sete ou oito anos e parecia um indiozinho de cabelos lisos e uma 'janelinha' nos dentes da frente.

despejei, não sem contrariedade, todas as coisas que eu já havia dito tantas vezes. minha vontade de sacudir aqula mulher pelos ombros e lhe dizer que ela estava sendo enganada foi tão grande que suspirei novamente. atualizei seus dados mecanicamente, como havia sido orientada a fazer. eu era ali como gado. nós tr~es, talvez. um pequeno rebanho obediente.

ela já ia despedindo-se, quando me lembrei de um pedaço de bolo que estava na minha gaveta. chamei a mulher e o menino de volta. era um bolo simples, de chocolate. estendi ao menino a pequena travessa com vários pedaços. ele a olhou, virou-se para a mãe e então para mim e perguntou: 'tia, o que é isso?' . eu não sei explicar o que aconteceu. só sei que senti um arrepio e de repente um nó na garganta, daqueles que não dá pra desatar. tinha tanta doçura e tanta sinceridade no questionamento do menino, e ao mesmo tempo me pareceu tão absurdo que uma criança de sete anos, nunca na vida tenha experimentado um bolo de chocolate, que eu chorei. diante da mulher e do filho. respondi a sua pergunta. pedi que levasse para casa a travessinha toda. e prometi que todas as vezes que ele fosse até lá eu lhe daria um pedaço de bolo de chocolate.

fui duramente repreendida. até mesmo onde achei que encontraria compreensão. e eu soube que minha hora havia chegado. eu senti muito medo. de esquecer o que é a empatia. de ver tantas coisas absurdas a ponto de um dia achar tudo comum, achar que é tudo assim mesmo. de nunca mais ter o direito de me indignar com esse mundo doido. pior, eu tinha medo e ainda tenho, de odiar meu trabalho e odiar as pessoas com as quais estabeleço essas relações. naquele dia eu soube que aquele não era o meu caminho. hoje reconheço que foi uma decisão covarde. e não tento me justificar. fui covarde e verdadeira comigo mesma.

ainda carrego comigo o peso dessa decisão e sei que eternamente me perguntarei se foi acertada ou não. ainda mais agora que um novo caminho vai se constituindo. lentamente, porque eu não tenho pressa. e não tenho medo do futuro e nem de morte precoce. minha mãe sempre me disse que ninguém morre na véspera. e eu sempre respondi que os suicídas, sim. eu e minhas respostas revoltosas.

ainda tive oportunidade de servir bolo de chocolate ao menino. poucas vezes. mas sempre que me lembro desse dia, imagino o menino experimentando todos os bolos do mundo. morando numa casinha de doces, como a da bruxa, na história de joão e maria. a casa que todas as crianças deveriam ter.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

outro lugar

[elder costa]


cê sabe que as canções são todas feitas pra você
e vivo porque acredito nesse nosso doido amor
não vê que ta errado, tá errado me querer quando convém
e se eu não estou enganado acho que você me ama também

o dia amanheceu chovendo e a saudade me contem
o céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem
vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
e eu já to molhado, to molhado de esperar você aqui

amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar
andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar
igual a um beija-flor, que beija-flor,
de flor em flor eu quis beijar
por isso não demora que a historia passa e pode me levar

e eu não quero ir, não posso ir pra lado algum
enquanto não voltar
não quero que isso aqui dentro de mim
vá embora e tome outro lugar
talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
amor, meu grande amor, estou sentindo
que esta chegando a hora de dormir

rascunho colorido

se as luzes quiserem anoitecer
e um grito vier de dentro e não quiser calar
como aquele antigo medo do escuro
leia o que eu escrevo! é para você!
cante aquela canção que faz recordar alguém
e lembre-se da fadinha amiga
cantando e dançando na areia
como num sonho nosso
como as cores que não desbotam
das flores mais perfumadas
pelo caminho que não tem fim
pois termina e sempre recomeça, eu sei!
num novo coração que virá
e trará sempre essa mesma alma!

clichê

sim, eu compreendi tudo que você me disse. cada argumento, todos os seus motivos e como se nunca tivesse acontecido, eu me coloquei no seu lugar. hoje faz uma semana e finalmente o ar parece mais ameno e a sua ausencia é cada vez mais melancólica e menos desesperadora. domingo fui ao cine paradiso, o cine clube que você não gosta. assisti um belo filme e você estava comigo. como da primeira e única vez que fomos lá e você reclamou que as poltronas não eram tão confortáveis e que a sua tevê era maior que a tela de projeção. você também reclamou do filme, eu me lembro bem. mas eu não achei ruim. achei graça nas suas queixas. voltei pra casa caminhando e pensando como seria bom caminharmos de mãos dadas numa noite quente como aquela. eu senti que amo muito a sua presença. eu não sei o que move o mundo, desconfio que seja uma magia qualquer de deus. e deve ter um calorzinho como o teu nela.

enquanto se seguem esses dias lentos e iguais, tento buscar dentro de mim as respostas que antes eu buscava em você. como as coisas que eu nunca soube dizer mas você sempre soube entender. e mesmo que eu não consiga me ver quando fecho os olhos, eu consigo te ver. daqui um ano ou dois, colocando um anel de noivado no meu dedo enquanto eu durmo. ou na hora do almoço, tentando comprar o meu bife por um real, por que você já comeu todo o seu. e eu posso imaginar as pessoas que nós seremos e onde nós estaremos. e o meu coração seria sempre o seu lugar. o lugar pra onde você sempre poderá voltar.

domingo, 19 de outubro de 2008

não precisávamos dormir, e na verdade nem queríamos. exaustas e felizes, brincado de fazer anéis de fumaça com o cigarro que dividíamos enquanto esperávamos minhas roupas se secarem.

a chuva nos encontrou despreparadas, mas nem por isso nos apressamos. ela me convidou pra um banho, temendo um resfriado. aceitei prontamente. o banheiro dela era um cubículo anexado a um quartinho maltratado. já era noite e ela acendeu uma luminária de tecido colorido, o que aqueceu as paredes, o armário, o porta-retratos e a nós.

nos despojamos das roupas molhadas e entramos no banho juntas. pela falta de espaço ela aproximou seu corpo magro ao meu. em algumas partes nos tocamos levemente. lembrei-me do tempo em que éramos meninas, de nossas descobertas partilhadas. ela sempre foi esguia. aos doze queria ter mais peito, mais bunda. nessa época ela me chamava de burra por esconder entre moletons e camisetas minhas saliências que já destacavam-se aqui e ali.

pedi que me deixasse ensaboá-la, ela consentiu. cobri-lhe de espuma, massageei suas curvas discretas como se fosse ela minha criança. beijei-lhe os ombros, as costas, os dedos e tudo quanto minha boca alcançou. senti o gosto dela misturado com água quente. ela ficou ali quietinha como sempre foi. buscamos o velho colchão e ali permanecemos entre nossas lembranças e buscando uma na outra qualquer coisa que nos prendesse a outros tempos.

beijei-lhe os olhos e eles também eram meus. senti uma pena daqueles que vagam por aí pela noite. mas chegava a ser uma pena de alegria. eles não a conheciam! era só a menina e eu.

de roupas já secas fiz o caminho de volta ao meu posto. fará falta a mim a água e a luz quente do quarto estreito. eu era dela. e eu já sabia disso.

abril despedaçado

agora é tu que vai avoá, tonho!



















sábado, 18 de outubro de 2008

o que fiz eu de tão bom, pra que a vida acreditasse que eu te merecia?

um respiro...

'sou seu mas eu não posso ser. sou sua mas ninguém pode saber. amor, eu te proíbo de não me querer.'

a vida tem sempre mil e um rumos, só para nos dificultar as opções.
e se a gente nasce, engatinha, pisa o pé no chão e um dia voa, também nessa lida a gente um dia se encontra. em caminhos que nem sempre são os nossos, nem sempre inteiros, por vezes aos pedaços. mas existe nesse mundo lugar onde a alma descansa e esse canto há de ser meu e seu, cada qual onde for. ainda que seja você só gentileza e ternura e eu um selvagem, tenho fé que teremos futuro. e no futuro não precisa ter ninguém. só aqueles que hão de estar, simples e despropositadamente. só precisa existir pôr-de-sol e pronto!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

me encontra

o tempo vai passando como sempre, na mesma pressa de sempre. eu não tenho perna pra acompanhá-lo. vou um pouco atrás. tem hora que acelero o passo pra gente caminhar lado a lado. às vezes no caminho aparece uma flor. e elas são tão raras. ou uma borboleta, ou uma nuvem baixa e eu paro um instante. e ele lá de longe, já fazendo a curva me pede pra acelerar. tudo bem, vai indo que eu já te alcanço!

um dia, ele distraiu-se também, e esqueceu de me mandar correr. eu fiquei pra trás. quando me dei conta, tentei alcançá-lo e quando o fiz já não era o tempo. dei de cara comigo mesma! como que sem acreditar pisquei e olhei novamente. sim, era eu! e todos os dias que eu vivi passeavam dentro daqueles olhos que eram meus, mas não estavam grudados na minha cara.

desdenhei por um momento: é uma cópia falsificada e mal feita. some daqui!

mas eu ali permaneci. baixei os olhos, mirei o chão, em minha companhia queria ficar. senti empatia naquele meu gesto. era tão meu. só poderia ser eu mesma. sorri pra mim, percebendo retribui o meu sorriso. ficamos ali, eu e eu. sorrindo uma para a outra. e era uma alegria que nos invadiu. porque não éramos espelho. éramos duas. e poderíamos ser muitas mais. e descobrimos o encanto.

o encanto é receber um sim como resposta sem ter feito perguntas.

sonetinho

ele me encontrou hoje enquanto eu não o procurava e trouxe consigo toda a saudade dos dias em que ficou esquecido...
mal escrito, é bem verdade! mas suportável pela carga sentimental! =)

sigo vivendo, me morrendo, renascendo
olhos cerrados mentem pra não dormir
buscando algo, querendo tudo, e nada tendo
bocas soltas e frescas morrendo de rir

um susto mudo e um nariz vermelho
outros versos escondidos no colchão
espirais girando e meu medo de espelhos
uma nota musical, uma bola de sabão

eu sorrindo, eu chorando, eu sem chão
só mais um verso, uma canção pra te ninar
uma descrença, sua falta e um sempre não

fez-se certeza, fez-se verdade, era o mar
que me inunda coas águas tristes da razão
um gato cego ou um cãozinho pra afagar

em 02.03.2007


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

comentário meu

gostei tanto que desconfio que nem fui eu quem escreveu! um dia aí, em algum lugar por aí:

'ela não é uma boa menina! deixou pra mim algo que sempre me faria lembrar seus olhos de pomba! e não me desfiz do seu agrado... ao contrário, plantei-o dentro de mim, pra que continue me machucando... gosto dessa dor que as raízes da menina me causa.'

caqui

delicadeza e fruta vermelha

lábios, peles, olhares, sons

e um cheiro doce de caqui.

há sentido que a palavra não explica.

há palavra que se cala sem sentido.

rodopia, menina! que a boneca é de pano!

domingo, 12 de outubro de 2008

gato félix

esse eu dedico a ela! pois seus métodos de abordagem, sempre inspiradores, estão bem registrados no meu caderninho! =)

ela seguia tranquilamente pelo corredor de produtos de limpeza. sabia que estava ali a procura de algo que não se lembrava o que era.

desinfetante, não. sabão em pó, não. aaaah, mas é claro: anti-mofo! obrigada, memória!

virou-se contente pra depositar no carrinho o produto tão necessário quando deu de encontro com a figura do moço. a primeira coisa que viu foi a calça amarela, xadrez com preto. subiu mais um pouco. camiseta, pele negra, dread's nos cabelos. olharam-se por dois segundos, e seguiram cada qual feliz em sua aventura de ir às compras numa linda manhã de sábado.

ela olhou pra dentro do seu carrinho:

nossa, parece que vou alimentar meia duzia de gordos! chocolates, biscoitos, batata frita, coca-cola, pães, queijo e o tal anti-mofo. preciso de algo saudável... huum... palmito?

mais meia hora de passeio e lá vai ela pelo estacionamento, com sua compra que só será paga dali trinta e cinco dias. bendito cartão de crédito. enquanto acomoda as compras no porta-malas do veículo emprestado, no carro ao lado, executando a mesma tarefa, o moço de calça xadrez. ele a olha e sorri. e não é qualquer sorriso. ele sorrindo parece o gato félix! negro, com aquele sorriso enorme e muito branco. ela retribui, se divertindo com a lembrança que o sorriso do moço lhe trouxe. sem saber exatamente o motivo ela estabelece diálogo:

'puxa, mas eu achei muito bonita a sua calça.'

'obrigado...'

é, o moço não quer papo... terminada a tarefa, ela não satisfeita, volta-se novamente ao seu 'vizinho de vaga de estacionamento de supermercado':

'moço, agora você tem que dizer que também achou a minha saia bonita!'

'...' [sorriso de gato félix]

ela liga o carro, manobra e sai rindo-se sozinha.

'mas que puxa! tudo tem que explicar!'

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ciranda, cirandinha...

lembranças do dia mais bonito... =)

'para dançar ciranda
juntamos mãos com mãos
formamos uma roda
cantando uma canção...

minha ciranda não é minha só,
ela é de todos nós
ela é de todos nós
a melodia principal quem guia
é a primeira voz
é a primeira voz...

essa ciranda quem me deu foi lia
que mora na ilha de itamaracá...'


'ô, cirandeiro, cirandeiro ô,
a pedra do seu anel brilha mais do que o sol...

mandei fazer uma casa de farinha
bem maneirinha que o vento possa levar
ô passa sol, passa chuva, passa vento
só não passa o movimento do cirandeiro a rodar...

ô cirandeiro, cirandeiro ô,
a pedra do seu anel brilha mais do que o sol...'

esfinge

não quero te decifrar,
prefiro que me devore!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

perdão

perdoa-me, meu bem
por todos os meus 'nãos'
por ter roído as unhas da tua mão
por me afogar nas tuas bebibas
por deixar-te só em nosso passeio.

perdoa-me, meu amor
se o nosso filho já nasceu morto
se há angústia demais nessa espera
se não te surpreendo na chegada.

imploro que compreenda
meu ciúmes
minha inveja
meu rancor
meus pés sempre frios
e as mãos sempre acesas

perdoa pela minha alegria
se não faço silêncio
se não sofro contigo

não me justifico, querido
entendo que se vá
enquanto ainda é noite
se te ofendem meus delírios não castos
não lhe pedirei a benção
é meu pecado andar torto nesse mundo reto
e esse pecado não tem perdão.

gente importante!

'a próxima vez que me encontrar com o pedro, falarei que conheço uma menina que ama os filmes do irmão dele!'

sim! sim! isso! quando eu crescer quero conhecer gente importante assim!!!

na terra do nunca!

ela: tia, onde mora a sua mãe?

eu: numa casa bonita lá longe... tem que pegar ônibus...

ela: hum... e onde mora o seu pai?

eu: ... o meu pai??? acho que ele mora lá no céu... [resposta idiota!]

ela: ah é??? [breve silêncio... olhinhos para cima] igual o peter pan, tia???

eu: sim, querida... [cantando] 'pense numa coisa bem boa, que num instante você voa... '

ela: [risadinhas...] mas tia, fala pra ele tomar cuidado, senão ele cai de lá!!!

eu: =)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

o mesmo,
desde o princípio das coisas

e muitos outros
enquanto durar...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

nota do autor

ainda bem que eu conservo essa minha mania de enxergar alguma poesia em viver. não me esforço por parecer indiferente, pois a indiferença já passou, assim como muitas coisas passarão [e eu passarinho!] =)

ainda há o que fazer. além de pensar no que se partilhar com o mundo através de coisas que digo. existe toda uma vida, uma história, muitos caminhos. não existo a partir do que me mostro. muito mais, eu acredito. meu mundo não é esse aqui.

e eu acho que as coisas são bonitas, apenas. às vezes penso que elas ultrapassam o sentido de beleza. algo como sublime.

sublime. palavra que eu nunca soube definir. só depois que aprendi que algo pode ser belo além do que é belo. muito mais que belo, sufocante em existir. desconfio que se não conheci, cheguei bem perto.

ainda bem que algumas pessoas ainda se auto-afirmam. assim não me sinto a única.

passado. ainda bem que existe a lembrança. ainda bem que existem frases soltas de qualquer canção antiga que nos justifica quando falta o que dizer. pura vaidade, eu sei. a gente deveria se envergonhar disso!

as coisas bonitas seguem me distraindo. não penso nelas como coisas minhas. não quero possuí-las, garanto. são coisas do mundo. e se não me faço entender, tampouco tentarei entender para além desse meu cérebro de noz. meus devaneios bastam-me.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

eu te esperava. e no mundo só existia a minha espera. todo o silêncio em volta e mais nada. meus joelhos juntos. as mãos repousadas sobre eles. nada me distrai. não livros, não canções, não agulhas ou tintas. uma espera consentida. mastigava cada momento de te esperar. sentia o sabor da tua ausência, como se você inteiro coubesse no espaço interno da minha boca. mastigava e engolia. quando a boca vazia, te ruminava.

eu te esperava. e havia prazer na espera. quando você chegasse, toda aquela alegria se converteria em confusão. meus olhos não saberiam em que parte te olhar, minha palavra não saberia o que te dizer. hesitaria em te tocar, talvez por medo que se desfizesse entre minhas mãos em poeira de pensamento. te entregaria uma das flores estampadas no meu vestido e diria apenas: por deus, como eu te esperei!

te esperei todos os dias antes de te conhecer. te esperei como esperei pela chuva nos dias quentes e pelo sol nos dias de chuva.

você veio com olhos de ave. pousou no meu recreio, juntou as folhas. eu quis te prender. meu coração é gaiola, eu já disse. coração gaiola, peito ninho. você assutado, bateu suas asas. mas ainda voa em circulos e eu te acompanho daqui de baixo, até quando o sol não me ofusca os olhos. e eu peço: por favor, não me cegue. eu preciso vê-lo. quero vê-lo.

não sou busca. sou apenas espera.

sábado, 4 de outubro de 2008

é muito umbiguismo da minha parte, eu sei. como se eu te obrigasse a saber todas as coisas que simplesmente despejo ou vomito por aqui e não só aqui mas em todos os cantos há detritos do que eu era. e eu era uma garota feliz, que um dia amarrou uma bomba ao estômago que fatalmente me explodiu e espalhou meus pedaços por esse mundo. meu sangue corre ainda por veias que não as minhas. agora, em cada canto em que me encontro, me toma de assalto a angústia de querer juntar-me de novo em uma só. de tanto me procurar por aí me canso a ponto de sentir sono e me faz achar que eu quero dormir. não quero. posso simplesmente me jogar na cama e ficar ali, só existindo enquanto um braço meu grita na boca de um cachorro na rua: socorro! tem alguém me roendo. eu posso escolher e escolhi estar aqui. ou talvez eu só acredite muito nisso, mas a verdade é que passaram-se quase vinte e cinco anos [de sonho e de sangue e de américa do sul...] e essa verdade não dá pra poetizar, pra disfarçar, pra ignorar. e eu nem me lembro por qual motivo estou aqui. deve ser por qualquer teoria que eu inventei pra justificar uma vida de merda e que não convence ninguém. mas sei bem que dentro da gaveta não tenho um diploma. que a faculdade virou do avesso tudo que eu gostava e achava correto e achava justo, mas ainda posso tentar mais uma vez. me sinto um pouco senil. mas não desisto dessa idéia. não mesmo. não agora.

embora pareça que sim, eu não desperdiçei esse tempo todo. eu produzi. trabalhei muito. porque escolhi [???] receber todos os meses um boleto que garanta meu lar, doce lar. mas muito mais do que isso, eu me permiti. aprendi, experimentei, voei, representei, conheci, desisti, reconsiderei, li, assisti, aplaudi e recebi aplausos e algumas flores [obrigada, obrigada!]. ainda sou bonitinha e com algum esforço eu ainda consiga dividir algo com alguém, quando não sentir mais medo do que possa vir a ser o 'nós'. quando tiver extrema necessidade de dizer coisas produzindo sons com a voz e não dizer com os dedos como faço. tenho que me lembrar de sempre falar. colocar uma música e cantar junto, em voz alta. não me esquecer do som da minha voz. quem sabe um dia terei diplomas, mas não decidi se ficarão em molduras na parede, como troféu da minha não-burrice. ou se ficarão amarelando num envolope pardo em alguma gaveta. talvez sirvam pra alimentar traças amigas. e as inimigas também.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

eu não sou poeta. o relógio desperta às cinco e quarenta e cinco com salsa cubana. meu bom humor pra coisas cotidianas é deprimente! a cortina aberta. o sol entra de sola e grita: levanta, vagabundo! já vou. pulo da cama. com o pé esquerdo. na verdade não me lembro se era o esquerdo ou o direito. foram três ou quatro horas de sono sem sonhos. o despertar dos justos. bolei um enquanto passava o café. deixa esse pra mais tarde, pra quando eu precisar dormir. vinte minutos. é o tempo entre a cama e a rua. a cama e o resto do mundo. tranquei a porta e pensei: 'eu bem poderia ter uma rede na sala.' 'mas você não tem uma sala.' 'ah, é verdade. esqueci!'

não sou poeta. eu deveria escrever um livro. deveria alugar uma sobreloja, numa ilha no caribe. qual? qualquer uma. eu só preciso de uma janela, uma máquina de escrever, café, charutos cubanos e eu tenho um romance inteiro aqui dentro da minha cabeça. preciso conferir o resultado da loteria. acho que ganhei. não tenho tempo de comemorar. não posso me atrasar.

transporte coletivo. a hora alegre do dia. ui... olha o traseiro daquela neguinha! ela desce logo do busão, droga! com suas sandálias estilo tamanco carnavalesco. gostosa!

cobrador, vou cochilar. me chama quando for hora de saltar. diabo de vida desinteressante. agora me sento com minhas tarefas e o dia passa. como a banda cantando coisas de amor.

por que eu não nasci poeta?

porque se fosse poeta, você seria muito chato.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

breakfast at tiffany's

ela: oh, querido! eu me casaria com você por dinheiro agora mesmo! você se casaria comigo por dinheiro?

ele: agora mesmo!

ela: ainda bem que não temos dinheiro!

ele: [suspiro profundo...]

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

no país das maravilhas...

- mas eu não quero me encontrar com gente louca. observou alice.

- você não pode evitar isso. replicou o gato. todos nós aqui somos loucos. eu sou louco. você é louca.

- como sabe que eu sou louca? indagou alice.

- deve ser. disse o gato. ou não teria vindo aqui.

domingo, 28 de setembro de 2008

seus dedos indecisos, suas unhas
seu rosto contra o sol, seu pedido por chuva
suas roupas bem passadas, seu casaco pendurado
suas marcas, suas pegadas
seus vidros embaçados, ou a ausência deles
sua vista prejudicada, seus cílios
ah... os seus olhos, seus cabelos
sua pele, suas plantas
seus mapas, seus caminhos partilhados
seu botão perdido, sua flor de outono
seu dançar, seus bolsos
suas mãos repousadas
seu mirar-me, seu seguir
seu ficar, seu partir

sábado, 27 de setembro de 2008

nunca está

ele nunca está onde eu o busco. não está nos bares. nem no cinema. entre as estantes alguém me disse: 'ele passou por aqui a pouco'. e eu no seu rastro. ele não apareceu pro almoço. lhe preparei bolo de nozes. nem sei se ele gosta. possivelmente, deteste. péssima cozinheira que sou. ele me esperou virar as costas e cuspiu tudo no lixo. hoje não saiu pra caminhar. deve ser por causa do vento. sentei no banco de concreto, com o livro que não li e esperei. que sua figura fizesse a curva. com roupas ridículas de ginástica. talvez sem os óculos. mas eu nem notei. hoje ele não vem. atrasou-se pelo centro. ou está cuidando pra que não queime a panela, olhos atentos no relógio. não pode distrair-se. e eu não queimei minha língua. ele é imprevisível como deveria mesmo ser. seu rio segue pra longinho de mim, já que praia eu não tenho. ele nem precisava existir. e como me distrai dos meus papéis a sua lembrança. chego a me esquecer que não preciso provar a ninguém o quanto sou capaz. e finjo acreditar. que estar lá não fará de mim alguém melhor do que sou. repito: não fará. pois em mim está o peso das minhas escolhas. ele está cercado por estranhos e lindos. eu os admiro. como são bonitos os olhos e os sorrisos. queria usurpar um pouco da sua felicidade. se eu pudesse dividir além de mim o que me habita. e o peso contente de habitar-me. é a alegria que carrego e ele sabe. se não sabe, saberá quando vier.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

você lembra lembra...

lembra quando nos jogávamos na chuva? sem pressa e sem preocupar-nos se passaríamos o dia com os sapatos molhados. caminhávamos pulando propositalmente nas poças, como se fossemos nós as gotas de chuva e nós somos.

lembra o ruído do assoalho? na madrugada, enquanto inventávamos como consumir nossa herança de pouco sono. visitas ao quintal. fecha os olhos. imagine-se. não consigo. não consigo me ver quando fecho os olhos.

lembra? como sempre fui eu ruim em falar. como te ouvia em silêncio e depois te escrevia uma carta de três folhas. como sempre escolhia a palavra mais bonita pra te convencer.

lembra da dança na frente do espelho? das canções que não nos revelava. das minhas nem sempre consentidas ausências. lembra o vento na janela? os vidros fechados, o mundo todo cabia lá dentro.

de quando era fácil. qualquer lugar era perto. qualquer sonho ao alcance. qualquer música, dança. qualquer motivo pra um sorriso. gargalhar. porque todas as coisas têm a sua graça. e tudo permanece. ainda são. todos possíveis.

lembra?

sim, eu me lembro!

morri!

e não haverá sanduiches no velório!






terça-feira, 23 de setembro de 2008

bela maneira de começar a primavera. me deliciava naquele corpinho pálido. a pele dela trazia vários tons de vermelho por conta dos meus apertos. busquei seus olhos para que me olhasse lindamente quando percebi que eles miravam acima dos meus ombros qualquer coisa que não existia no teto. a boca estava aberta e língua dentro dela estava frouxa. estava com cara de xaxim.

segurei-a pelo queixo e balancei seu rosto. nada. os olhos permaneceram parados. ela morreu enquanto trepávamos. morreu de nenhum motivo aparente. apenas morreu. quieta como sempre costumava ser. nem mesmo seus gemidos baixos. que coisa. como diria isso aos pais dela?

'boa noite, estava comendo sua filha e aparentemente ela morreu. sabe se ela possuía plano funerário?'

definitivamente não era a melhor forma de começar a estação florida do ano. vou pra rua. a cor dela ainda está nas coisas ao redor. no vermelho e branco da embalagem do cigarro que ela fumava, no azulejo do bar onde tomávamos nossos porres, de quinta ou de sexta, dependendo do seu humor. será que quando eu voltar ela terá acordado? ou quem sabe se dissolverá no ar, como deveria acontecer com os mortos. talvez passe por lá um anjo e carregue seu corpo pro céu.

não, ela não iria para o céu. no máximo ela deixaria de existir ou vagaria ainda por esse mundo tentando desapegar-se de seus pequenos tesouros.

'amigo, me empresta o isqueiro?'

'claro, se você me arrumar um cigarro!'

não sei se voltarei pra casa. se devo voltar. dar um rumo naquele monte de matéria inútil que repousa sobre a cama. esqueci de cobrí-la. pobre mulher. eu a amava imensamente. será que a loja aceitará devolução das alianças?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

paraty para ti

ele dispensou os créditos. disse que essas coisas são bobagens. tudo bem. eu não saberia como fazer isso sem parecer forçado e sem poluir imagem tão bonita que o seu olhar registrou.

'essa é a sua cara, porque é a única que tem florzinhas'

foi o que ele disse e nem precisava para que a foto me ganhasse! e eu precisava mesmo de uma coisa bonita pra ficar por aqui...

domingo, 21 de setembro de 2008

em casa

toda vez que se movimenta durante o sono ela desperta. é sempre assim que acontece. a pálpebra esquerda insiste em tremular há pelo menos dois dias.

febre. foi a manutenção na dose do medicamento que te fez queimar por uma madrugada inteira.

- vai passar! quer um chá da flor que acalma e que tem nome de moça? ou seria a moça que tem nome de flor que acalma?

depois do chá te levarei ao médico. não discuta comigo. você precisa de um médico. admiro essa sua auto-cura, seus livros de ervas milagrosas e receitinhas, mas hoje não, por favor. deixe-me guiar. você precisa de uma droga. manipulada e eficaz.

logo o tremor passará. e eu voltarei pra casa. eu sei que não é seguro. mas não acontecerá nada. essa cidade é perigosa mas tomarei cuidado. eu até pediria que a outra me acompanhasse, mas tem o neném.

tudo bem, essa noite ficarei por aqui. amanhã eu vou embora. me empresta um pijama e uma meia. e qualquer coisa que eu possa segurar. podemos dormir na mesma cama? então põe um colchão na sala. com a televisão e alguma sorte eu pego no sono.

o remédio te deixou sonolenta, eu sei... mas conversa um pouco comigo! vamos falar sobre o que faremos no natal, ou sobre suas aulas! me encho de orgulho, como se fosse eu a tua mãe! me acolha no aconchego do teu abraço ninho, como nos tempo em que eu cabia nele.

apesar da febre e talvez por causa dela, teus olhos trazem um brilho ainda mais esverdeado. amo teus olhos. mesmo quando me olham com reprovação. como agora. é verdade, eu não me emendo! sempre me arrependo de te contar essas coisas, é que às vezes eu me esqueço o quanto você costuma ser conservadora!

mas prometo ser uma boa menina. não me perderei por aí em qualquer aventura. você sabe que eu sempre me viro bem. mesmo quando me viro mal. estudarei como você sempre quis. mas não porque você quis. porque tem que ser.

e dessa vez tentarei ser uma coisa de cada vez.

você mesmo doente sempre ouve os meus planos. não irei pra longe. não por enquanto. a febre já tá baixando. pode ir deitar. está bom assim. se precisar pego outro cobertor, sei onde ficam! boa noite.

sábado, 20 de setembro de 2008

coragem...

antes rupturas que viver subjugado.

o meu amor é uma página virada e uma outra por escrever

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

feliz aniversário

'tanta falta me faz você! queria ter você em casa...'

queria te dedicar palavras bonitas, se você pudesse ouvi-las. mas não sou boa em falar, e você bem sabe. só herdei o teu nariz e não a capacidade que você tem de dizer coisas especiais e me fazer rir nas horas certas.

e eu me dei conta de que não tenho mais dez anos. acordei e o queijo não estava sobre a pia, coberto com um guardanapo de pano. as coisas estão no lugar. isso quer dizer que você não passou por aqui. se passasse talvez estivesse a kombi azul no meu portão e você lindo lindo! como sempre foi!

o que diria você, do alto dos teus cinquenta e cinco anos, se visse a tua menina assim? talvez você não aprovasse o excesso de vermelho! nos batons, nos esmaltes... mas você iria gostar de experimentar meu café!

não esqueci teu aniversário, 'chérie'! nunca esquecerei! meu presente é te imaginar sempre presente!

te amo!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

escreveria muitas linhas sobre nós, mas me disseram que não devo me estender por demais. porque quanto mais me prolongo, menos me faço entender.

não que qualquer um de nós mereça essa minha escrita. não que valhamos mais que uma tubaina sem gelo ou duas garrafas por uma maçã do amor. desconfio que o que valemos, na verdade, não está mais em nós. nos dividimos entre aqueles com quem queríamos deixar um pouco do que somos. umas vezes, impulsiva e deliciosamente. outras, nem tanto. mas o fato é que não nos poupamos. e nem tentamos! trago agora um pouco de nós, na minha caixa com fitas.

imagino nós, imperfeitos como somos a partilhar muito mais que desencontros. e quando confirmamos que no mundo existe muita gente, estávamos assim imersos na sabedoria inútil e falha do acaso, que não nos colocou, mas pelo menos nos impulsionou, de alguma maneira, ao momento e estado em que nos encontrávamos.

escreveria muito mais sobre nós. se essas nossas coisas se explicasse pelas palavras. se não fosse meu jeito de fugir. aqui não quero me encontrar. prefiro não fazer sentido.

é provável que eu pense em nós. em noites de pouco sono. e não por razões sentimentais. mas pelo simples consolo, ainda que a distância, de te saber existente e convivermos.

despeço-me. até breve. o dia em que a saudade bater no teto.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

de onde eu moro só vejo o topo das árvores. mas eu sei que ali existe um bosque. nunca fui até lá. o que já era de se esperar já que faz só um mês que eu moro aqui. e aqui é bom porque não tem o cachorro. e é ruim porque não tem o cachorro. gosto de abrir meus braços e pensar que o mundo todo cabe entre eles. ando como quem procura entre os que correm pelo dia algo que possa se prender a minha retina. irritabilidade diurna. fome vespertina. ânimo na madrugada. despertar tem o gosto seco e amargo de quem dormiu com a boca aberta. e por ela fugiram alguns sonhos e pela minha garganta passearam algumas criaturas da noite. e meu corpo amanhece com um estranho brilho. comi os olhos dos que me visitaram e guardei na barriga o brilho dos olhares. só pode ser isso. sim, há folhas nos galhos e há flores. todas as flores do mundo são minhas. o mundo só existe pra contemplar a vida das flores. e eu trago um jardim nas costas. sempre deposito as mais bonitas aos meus mortos. para que a sua existência aí nos sete palmos seja sempre perfumada. e se na próxima encarnação você for uma barata, venha morar no ralinho do meu banheiro...

eu queria ser audrey hepburn


e mais nada!

"sabe qual é o seu problema, srta. quem quer-que-seja? você é medrosa. não é corajosa. tem medo de encarar a realidade e dizer: 'a vida é assim'. as pessoas se apaixonam e pertencem umas às outras. é a única chance que realmente têm de serem felizes. você acha que é livre e selvagem e morre de medo de ser enjaulada. bom, querida, você está na jaula que você mesma construiu. e não só em tulip, texas ou na somália. estará sempre nela. não importa para onde corra, estará sempre trombando consigo mesma."

(paul varjack - bonequinha de luxo)

domingo, 14 de setembro de 2008

fuga

aline tem medo do espelho no elevador. aline comendo pão com requeijão na padaria. aline pede o café de bule nosso de cada dia. aline trancada pro lado de fora sem saber onde deixou as chaves. aline esqueceu de pagar a conta do telefone. aline mandando um motoqueiro a merda. aline dá banho no gato, aline gritou com sua mãe no telefone. aline comemorando um gol, dois, três gols! aline trabalha fins de semana. aline pouco se importa em trabalhar fins de semana. aline pedindo colo. aline não resiste a mais um brigadeiro. aline ama os que a cerca. aline curte um friozinho e um pouco de chuva. aline empolga-se com um dia de sol. aline trocando olhares com um desconhecido. aline experimentou coxinha de carne seca. aline de saia descosturada, aparecendo a calçinha. aline dança ciranda de roda. aline cantando desafinado. aline acende um cigarro. aline apaga um cigarro. aline com o esmalte descascado. aline dois quilos mais gorda. aline não dorme sem o coelho azul. aline tem trabalho atrasado. aline implorando pra não ser pressionada. aline estudando pro vestibular. aline fingindo estudar pro vestibular. aline troca de roupa. aline usa faixa nos cabelos. aline é previsível e cafona. aline escutando as mesmas músicas. aline nunca decora as letras das músicas. aline finge se interessar por conversinhas sobre a vida alheia. aline manda todos calarem a boca mentalmente. aline sempre faz uma careta quando não curte. ou pisca um olho quando curte. aline chora quando precisa pedir favores. aline prefere se foder sozinha a ter que pedir ajuda a alguém. aline tentando ser generosa. aline tentando retribuir os sorrisos que a vida lhe dá. aline queria fugir de casa. mas lembra-se que já fez isso.

sábado, 13 de setembro de 2008

a urca

por nando reis

'não posso mais olhar para um prato
que eu vejo cor-de-rosa
cor-de-rosa era a cor do nosso prato

não posso mais pegar um taxi
que vá pelo aterro
se eu olho para o lado esquerdo eu vejo a sua casa.

será que é a sua casa ainda?
será que é você naquela janela?
a urca é linda e eu não coube dentro dela.

não posso mais guiar o seu carro
porque eu tô por fora.
eu tô de fora do seu álbum de retratos.

não posso mais ficar sozinho
com um pensamento
eu não aguento tanto tempo longe dessa casa.

será que é minha a sua casa ainda?
será que eu ainda caibo dentro dela?
a urca é linda mas você ainda é muito mais bela.'

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

céu pra passear

eu me lembro como era rezar. ajoelhar-se, fechar os olhos, juntar as mãos e fazer uma prece. um pedido. algo que acredita-se merecer. ou grato por tudo que se tem. e que provém desse tal alguém a quem a prece se dirige.

aos sete eu me ajoelhava, com uniforme azul, numa fila de garotas atrás de um banco e pedia... que aquilo acabasse logo. pra ir embora. que não houvesse lição de casa naquele dia. assim eu ficaria somente com meus gibis e com meu pai. fechava os olhos e contava o tempo nos dedos dos pés.

tenho medo de um dia esquecer dessas coisas. tenho medo de esquecer como era olhar para uma esquina quando eu tinha um metro e vinte de altura e de como sim, alguma coisa acontecia no meu coração. numa esquina qualquer. em todas elas.

a cozinha não era branca. o armário, a mesa, a geladeira e o fogão. tudo era azul. minha mãe prendia os cabelos num coque e alguns cachos ficavam soltos. as cortinas, floridas.

depois do almoço meu pai às vezes me tirava pra dançar. o único homem que já me tirou pra dançar. segurava minhas mãos, pedia que eu fechasse os olhos. dizia: agora menina, nós vamos flutuar... e me rodava até meus pés sairem do chão... cantava em francês a canção que tem o meu nome. era o céu onde eu passeava...

as peripécias da espécie

'andar acompanhado de ti faz meu coração se sentir melhor'

as coisas estão no mesmo lugar de antes...
um pouco mais de poeira, e eu trazendo mais desordem...
roupas secas pra recolher, dois copos e um prato pra lavar. bananas foram para o lixo.
a luz que entra pelos vãos da persiana parece mais azul.
como está quente!
todo esse calor... me faz pensar em pão quentinho...
ai ai...

domingo, 7 de setembro de 2008

acróstico

porque um dia nesse mundo, alguém já me quis contente!

laje de louça coas águas das bicas
ilhas perdidas coas nuvens de chuva
curva e recreio, riso, menina,
ave de rima, vôo de espuma

andré boniatti

barco

o barquinho caprichoso fez a curva do rio. perdeu-se.

nem deu valor ao meu último aceno...

mas veja! está vindo outro! muito mais bonito e colorido! está chegando...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

os medos mais toscos!

- fogos de artifício!
nunca me convide pra um ano-novo na praia.

- espelhos
alguma coisa que não sou eu, fica me olhando quando eu olho pra ele... credo!

- vacas
mas precisamente dos olhos das vacas... são insanos, já repararam?

- gente morta
não espíritos. mas pessoas mortas em caixões! nunca vi um morto na vida! nem meu pai, nem minhas avós! o único velório que eu quero ir é no meu!

acho que é só!

baratas? sapos? altura? escuro? estuprador?

não, não... esses eu tiro de letra!

domingo, 31 de agosto de 2008

suas lágrimas

se nem todas as letras, bem ou mal colocadas podem explicar as coisas que transitam em meus pensamentos. como posso eu, uma simples criatura, uma alma que não consegue encontrar lugar no corpo, representar tudo isso?

se meus sentimentos me traem e a minha voz fica presa nesse nó e engasga em si mesma, calando na boca esse grito. enchendo-a de terra e mastigando terra e engolindo terra até que a terra seja eu mesma também.

não há mais como apagar de mim aquele nosso momento e ver as suas lágrimas me fez sentir as minhas também. e elas rolam fáceis pois são por ti.
por esse nada que restou. p
por essa peça que a vida nos pregou...

o mundo

e se o mundo nos unisse?
ao invés de nos manter
nessa distância cheia de ausência.

e se o mundo fosse como um laço de fita?
fita de cetim na nossa cor preferida.
e se nesse laço coubesse as coisas que não nomeamos.

e se o mundo fosse mesmo muito pequeno?
se fosse impossível se perder
se todas as placas fosse legíveis
e explicativas em nosso idioma.

eu te encontraria.
com a facilidade de um menino que descobre as águas.

nos encontraríamos e não por acaso

porque o mundo é estreito demais
porque no meu caminho inevitavelmente
estava o teu.

por uma noite apenas, ou por uma vida
minhas mãos buscam as tuas
e as tuas indecisas

terça-feira, 26 de agosto de 2008

o grande problema de apartamentos é a ausência de jardins. que os síndicos costumam tentar amenizar com canteirinhos mal cuidados na entrada do edifício. eu nunca derrubei um vaso na sacada do vizinho de baixo, muito menos na cabeça de alguém...

uma plantinha pra chamar de minha? eu tenho desde que nem sabia dizer árvore. plantamos na calçada de casa. papai, carlinha e eu. afogávamos a coitada todos os dias, ainda assim ela resistiu! está lá até hoje. na calçada da casa de mamãe.

é estranho chamar a casa que chamou de sua a vida toda de 'casa da minha mãe'. porque não sinto que essa casa onde moro agora é minha. e ela de fato não é. não que o sonho da minha vida seja ter uma casa, mas é que eu ainda nem arrumei as coisas, não coloquei nada no lugar. não ficarei por muito tempo. até o fim do ano, talvez. talvez menos... talvez um dia eu acorde e ache que esse lugar tem a minha cara e que eu poderia morar aqui pra sempre, e eu encheria minha casa de flores...

mas não estou a fim de tentar fazer daqui o meu lugar...

sábado, 23 de agosto de 2008

tudo novo de novo

'vamos nos jogar onde já caimos'

eu já vou me acostumando com toda essa inconsistência... toda essa incerteza. e já não me apavora. creio que nunca me apavorou. não me assusta o peso da resposabilidade por certas escolhas. no entanto, ainda sou menina. que se equilibra no meio fio e brinca com os pés na água. mas menina que paga contas. menina que ainda faz planos. ainda que não sejam planos de 'felizes para sempre fim', planos de lugares por descobrir, de coisas por fazer. sem a pressa de quem quer viver tudo de uma vez. sem medo de não acordar amanhã de manhã. um dia em cada canto, um canto pra repousar. o lugar onde a alma descansa no aconchego do silêncio. as pessoas que quero por perto. ainda que do outro lado do mundo. os amigos de infância e os novos amigos de infância. o riso não é por teimosia, nem por obrigação. não faço das lágrimas argumentação, apelo. os insistentes fios brancos até que me divertem. fico me sentindo uma quase senhora. os quilos a mais, esses sim, me tiram o bom humor. olho ao redor. inspiração é uma menina caprichosa. fico por aqui.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

o meu nome

o meu nome fica mais bonito
quando é dito pela tua boca
meu pensar se perde
nas letras que brincam entre teus dentes
passeiam na tua língua
e se desfaz em som
pra dizer meu nome
que fica tão mais lindo
porque combina com o teu sorriso
porque tem o cheiro do teu hálito
porque dito assim nem parece que é meu

e se tua boca não me chama
e se tua voz se faz muda
e se entre nós existe o mundo
a cidade
as horas
os desencontros
e os encontros errados
o que me fará lembrar?
se outros chamam pelo nome que não é meu
se eu não sei como me chamam
porque meu nome se perdeu
porque agora meu nome é o teu

em 11.07.2007

domingo, 17 de agosto de 2008

não diga 'aline'

o grande incômodo está em te ver.
eu posso tranquilamente conviver com a lembrança dos poucos momentos, com as coisas pequenas que consegui registrar ao teu respeito, com o gosto de nada que têm o teu beijo. tenho boa memória. e esses pensamentos nem ocupariam tanto tempo e espaço, visto que tenho outras coisas pra pensar também.

enfim, a questão é que eu prefiro quando não te vejo. e prefiro especialmente que você não me veja. que não me olhe com esses olhos de criança, que não pronuncie meu nome.

porque tua boca faz um movimento bonito quando fala o meu nome. tão bonito que até o meu nome fica mais bonito quando tua boca fála.

porque toda vez que nos vemos meus pensamentos saltam dos meus olhos e se mostram pra você.

e a certeza de que você sabe provém do fato que eu mesma te fiz saber. que te contei, impulsivamente, que tua lembrança sempre me visita, que a tua existência causava em mim um desconforto e uma inquietação que me agradavam...

assertividade e objetividade não têm o menor charme!

e você fez que não era contigo e foi por aí pelo mundo, viver o que é teu.

mas a gente sempre se vê. porque temos interesses comuns que nos levam fatalmente àquele lugar. e eu prefiro nem te olhar... como eu fiz hoje. sabia que estava ali, nem trinta metros pro meu lado esquerdo. acompanhei mentalmente teus movimentos e na hora de ir, saí olhando o chão... e agora você fica passeando aqui por minha cabeça... pára!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

adoráveis professores

outro dia encontrei um antigo professor de matemática dentro de um ônibus. estava ali, em pé, esperando o troco do cobrador quando o vi.

normalmente eu fingiria que não o reconheci [apesar dele não ter mudado nada!] ou fingiria que não o vi... porém, percebi que ele fatalmente me reconheceu. pior: lembrava meu nome!

'oooi, aline! quanto tempo!'

'oi, professor...' [osmar? edney? claudio?] não conseguia lembrar o nome dele.

mas de uma coisa eu me lembrava bem: ele me reprovou em matemática no primeiro ano do colegial! e eu o odiava por isso! e estava odiando tê-lo ali na minha frente!

ele estava com um outra professora ao lado... às vezes dava aula como eventual na escola onde eu estudava... também não consegui lembrar o nome da perua...

'e aí, aline? se formou'

'eu? então... eu fiz serviço social' [o que não é mentira!]

o idiota então, vira-se pra professora perua e solta:

'aahh... a aline era avoada, avoada...'

[sim, eu era avoada! e precisei de cinco anos de terapia prá poder dizer 'meu apelido dos tempos de escola' sem chorar!]

'ainda gosta de escrever, aline?'

gosto...

[não é exatamente gostar... talvez: necessidade desejo, necessidade, vontade]

olha professor, meu ponto é o próximo... [mentira!]

bom te ver! [mentira!]

manda um abraço pra glorinha, diga que estou com saudades! [verdade! minha linda professora de português, da oitava série!]

desci dois pontos antes do meu e fiquei matutando nessa coisa de guardar rancores passados... xinguei mentalmente, pelo menos por uns dois dias o professor que me reprovou no primeiro colegial quando eu tinha quinze anos! aproveitei pra xingar uns outros que também me reprovaram! um inclusive, que não contente em me reprovar uma vez, me reprovou duas vezes! dois anos seguidos! maldita quimica!

descobri que, não raramente eu me prendo a essas dores passadas...

todas as vezes que me lembro que minha mãe quebrou minha boneca preferida, propostalmente na minha cabeça, durante um dos meus surtos de rebeldia adolescente, sinto uma mágoa... um certo rancorzinho...

e num outro dia, descobri que um garoto que puxou a minha saia e me deixou de calcinhas na rua, na frente de todo mundo, quando eu tinha sete anos, hoje é pai de um dos meus aluninhos.

uma garota cheia de rancores... credo!

só ando

'aline, por que você anda assim, tão arredia, tão arisca?'

'não sei. só ando'

uma única cerveja numa quinta-feira a tarde. acompanhada daqueles amendoins apimentados, com casquinha vermelha. sozinha num boteco mal visto, com cheiro de churrasquinho de gato.

eu, me divertindo com as pessoas que olhavam de dentro dos carros que passavam. aquele olhar repetido. olha e automáticamente olha de novo. uma garota de shorts e chinelos tomando cerveja sozinha com aquele vento todo.

um velho gordo e barbudo pára o carro, entra no bar e sai com quatro maços de cigarros.

'você embeleza o nosso bar!'

'obrigada!'

'você vem sempre aqui?'

'às vezes, eu moro ali na rua de cima...'

acendo um cigarro. dos meus, não dos do velho!

uma patética sensação de transgressão me toma conta! é como se minha conduta fosse uma ofensa ao mundo! uma afronta!

idiota! sua vida despencando e você no boteco sujo da esquina tomando cerveja com amendoim e fumando! você só fuma quando quer irritar alguém!

bingo!

besteira qualquer... eu sou ridícula...