sábado, 27 de setembro de 2008

nunca está

ele nunca está onde eu o busco. não está nos bares. nem no cinema. entre as estantes alguém me disse: 'ele passou por aqui a pouco'. e eu no seu rastro. ele não apareceu pro almoço. lhe preparei bolo de nozes. nem sei se ele gosta. possivelmente, deteste. péssima cozinheira que sou. ele me esperou virar as costas e cuspiu tudo no lixo. hoje não saiu pra caminhar. deve ser por causa do vento. sentei no banco de concreto, com o livro que não li e esperei. que sua figura fizesse a curva. com roupas ridículas de ginástica. talvez sem os óculos. mas eu nem notei. hoje ele não vem. atrasou-se pelo centro. ou está cuidando pra que não queime a panela, olhos atentos no relógio. não pode distrair-se. e eu não queimei minha língua. ele é imprevisível como deveria mesmo ser. seu rio segue pra longinho de mim, já que praia eu não tenho. ele nem precisava existir. e como me distrai dos meus papéis a sua lembrança. chego a me esquecer que não preciso provar a ninguém o quanto sou capaz. e finjo acreditar. que estar lá não fará de mim alguém melhor do que sou. repito: não fará. pois em mim está o peso das minhas escolhas. ele está cercado por estranhos e lindos. eu os admiro. como são bonitos os olhos e os sorrisos. queria usurpar um pouco da sua felicidade. se eu pudesse dividir além de mim o que me habita. e o peso contente de habitar-me. é a alegria que carrego e ele sabe. se não sabe, saberá quando vier.