segunda-feira, 15 de setembro de 2008

de onde eu moro só vejo o topo das árvores. mas eu sei que ali existe um bosque. nunca fui até lá. o que já era de se esperar já que faz só um mês que eu moro aqui. e aqui é bom porque não tem o cachorro. e é ruim porque não tem o cachorro. gosto de abrir meus braços e pensar que o mundo todo cabe entre eles. ando como quem procura entre os que correm pelo dia algo que possa se prender a minha retina. irritabilidade diurna. fome vespertina. ânimo na madrugada. despertar tem o gosto seco e amargo de quem dormiu com a boca aberta. e por ela fugiram alguns sonhos e pela minha garganta passearam algumas criaturas da noite. e meu corpo amanhece com um estranho brilho. comi os olhos dos que me visitaram e guardei na barriga o brilho dos olhares. só pode ser isso. sim, há folhas nos galhos e há flores. todas as flores do mundo são minhas. o mundo só existe pra contemplar a vida das flores. e eu trago um jardim nas costas. sempre deposito as mais bonitas aos meus mortos. para que a sua existência aí nos sete palmos seja sempre perfumada. e se na próxima encarnação você for uma barata, venha morar no ralinho do meu banheiro...