quinta-feira, 11 de setembro de 2008

céu pra passear

eu me lembro como era rezar. ajoelhar-se, fechar os olhos, juntar as mãos e fazer uma prece. um pedido. algo que acredita-se merecer. ou grato por tudo que se tem. e que provém desse tal alguém a quem a prece se dirige.

aos sete eu me ajoelhava, com uniforme azul, numa fila de garotas atrás de um banco e pedia... que aquilo acabasse logo. pra ir embora. que não houvesse lição de casa naquele dia. assim eu ficaria somente com meus gibis e com meu pai. fechava os olhos e contava o tempo nos dedos dos pés.

tenho medo de um dia esquecer dessas coisas. tenho medo de esquecer como era olhar para uma esquina quando eu tinha um metro e vinte de altura e de como sim, alguma coisa acontecia no meu coração. numa esquina qualquer. em todas elas.

a cozinha não era branca. o armário, a mesa, a geladeira e o fogão. tudo era azul. minha mãe prendia os cabelos num coque e alguns cachos ficavam soltos. as cortinas, floridas.

depois do almoço meu pai às vezes me tirava pra dançar. o único homem que já me tirou pra dançar. segurava minhas mãos, pedia que eu fechasse os olhos. dizia: agora menina, nós vamos flutuar... e me rodava até meus pés sairem do chão... cantava em francês a canção que tem o meu nome. era o céu onde eu passeava...