quinta-feira, 20 de novembro de 2008

clichê cinematográfico

eu tentei. mas precisava vir aqui e dizer. então eu vim e vou dizer, assim sem nenhuma necessidade desejo necessidade vontade. é só essa mania de querer me expor. essa é a grande verdade: eu gosto de me aparecer.

tem horas que eu paro tudo que estou fazendo e volto em pensamento praqueles dias. nós dois naquele lugarzinho, aquele azulejo antigo, aquele azul que me lembrava a cozinha da minha mãe, quando tínhamos fogão, mesa e geladeira azuis e o quanto fomos felizes lá na cozinha. mas não era sobre a cozinha que queria falar e nem sobre como nos irritava as oscilações do ar-condicionado. é que ao contrário das minhas preces as horas passaram e eu tive que ir embora, mesmo querendo ficar. o que ele não sabe é que hesitei absurdamente e antes de descer por aquele lance único de escadas tosco pensei em voltar, bater de leve na porta, esperar que ele abrisse e lhe abraçar assim bem apertado de um jeito que eu não costumo abraçar. quase do jeito que ele me abraçou enquanto a gente dançava num outro dia e foi tão bom.

enfim, eu só pensei, não voltei e não lhe abraçei com meus braços porque me pareceu que não teria muito sentido e pode ser que as razões ficassem sentimentais demais e daí deixa pra lá... mas pensando agora com meus botões, até que teria sido uma cena bonita... poderia vendê-la pra algum filme. mas ela já deve existir em algum filme. eu já vi isso em algum filme, só pode! aliás, de tanto pensar, acho que teria sido bem clichê.

mas a verdade, e o único motivo dessa baboseira toda é só pra deixar registrado, que aqui tem pra ele um abraço guardado. e não é um abraço qualquer, desses que a gente distribui todos os dias. é daqueles que querem se desmanchar em ser abraço e só. assim como as coisas que partilhamos deixam de ser um pouco nossas, esse abraço não é meu. esse abraço é dele. sendo assim não posso assegurar por quanto tempo ficará um abraço aqui guardado. não sei nada sobre abraços, se têm prazo de validade essas coisas. mas cuidarei dele. até arrumei uma caixa só pro abraço, pra que não precise se dividir com as outras coisas que trago na velha caixa. é uma caixa nova e escolhi pra ela um laço azul que lembra o mar, diferente da outra que tem laço lilás como as paredes do meu primeiro quarto. mas isso nem importa. o que importa é que enquanto estiver o abraço bem guardado em sua caixa, ele poderá vir e recebê-lo quando quiser, puder ou precisar e se quiser, puder ou precisar.