segunda-feira, 6 de outubro de 2008

eu te esperava. e no mundo só existia a minha espera. todo o silêncio em volta e mais nada. meus joelhos juntos. as mãos repousadas sobre eles. nada me distrai. não livros, não canções, não agulhas ou tintas. uma espera consentida. mastigava cada momento de te esperar. sentia o sabor da tua ausência, como se você inteiro coubesse no espaço interno da minha boca. mastigava e engolia. quando a boca vazia, te ruminava.

eu te esperava. e havia prazer na espera. quando você chegasse, toda aquela alegria se converteria em confusão. meus olhos não saberiam em que parte te olhar, minha palavra não saberia o que te dizer. hesitaria em te tocar, talvez por medo que se desfizesse entre minhas mãos em poeira de pensamento. te entregaria uma das flores estampadas no meu vestido e diria apenas: por deus, como eu te esperei!

te esperei todos os dias antes de te conhecer. te esperei como esperei pela chuva nos dias quentes e pelo sol nos dias de chuva.

você veio com olhos de ave. pousou no meu recreio, juntou as folhas. eu quis te prender. meu coração é gaiola, eu já disse. coração gaiola, peito ninho. você assutado, bateu suas asas. mas ainda voa em circulos e eu te acompanho daqui de baixo, até quando o sol não me ofusca os olhos. e eu peço: por favor, não me cegue. eu preciso vê-lo. quero vê-lo.

não sou busca. sou apenas espera.