sábado, 4 de outubro de 2008

é muito umbiguismo da minha parte, eu sei. como se eu te obrigasse a saber todas as coisas que simplesmente despejo ou vomito por aqui e não só aqui mas em todos os cantos há detritos do que eu era. e eu era uma garota feliz, que um dia amarrou uma bomba ao estômago que fatalmente me explodiu e espalhou meus pedaços por esse mundo. meu sangue corre ainda por veias que não as minhas. agora, em cada canto em que me encontro, me toma de assalto a angústia de querer juntar-me de novo em uma só. de tanto me procurar por aí me canso a ponto de sentir sono e me faz achar que eu quero dormir. não quero. posso simplesmente me jogar na cama e ficar ali, só existindo enquanto um braço meu grita na boca de um cachorro na rua: socorro! tem alguém me roendo. eu posso escolher e escolhi estar aqui. ou talvez eu só acredite muito nisso, mas a verdade é que passaram-se quase vinte e cinco anos [de sonho e de sangue e de américa do sul...] e essa verdade não dá pra poetizar, pra disfarçar, pra ignorar. e eu nem me lembro por qual motivo estou aqui. deve ser por qualquer teoria que eu inventei pra justificar uma vida de merda e que não convence ninguém. mas sei bem que dentro da gaveta não tenho um diploma. que a faculdade virou do avesso tudo que eu gostava e achava correto e achava justo, mas ainda posso tentar mais uma vez. me sinto um pouco senil. mas não desisto dessa idéia. não mesmo. não agora.

embora pareça que sim, eu não desperdiçei esse tempo todo. eu produzi. trabalhei muito. porque escolhi [???] receber todos os meses um boleto que garanta meu lar, doce lar. mas muito mais do que isso, eu me permiti. aprendi, experimentei, voei, representei, conheci, desisti, reconsiderei, li, assisti, aplaudi e recebi aplausos e algumas flores [obrigada, obrigada!]. ainda sou bonitinha e com algum esforço eu ainda consiga dividir algo com alguém, quando não sentir mais medo do que possa vir a ser o 'nós'. quando tiver extrema necessidade de dizer coisas produzindo sons com a voz e não dizer com os dedos como faço. tenho que me lembrar de sempre falar. colocar uma música e cantar junto, em voz alta. não me esquecer do som da minha voz. quem sabe um dia terei diplomas, mas não decidi se ficarão em molduras na parede, como troféu da minha não-burrice. ou se ficarão amarelando num envolope pardo em alguma gaveta. talvez sirvam pra alimentar traças amigas. e as inimigas também.