segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

dentro de casa

subi as escadas e hoje faz calor. meu jeans sai do corpo com dificuldade e tudo fica pelo curto caminho entre a porta e a cama, abro a janela. nos meus planos um banho, mas a cama me chama, os livros que acabei de comprar me chamam, a preguiça me convence. deito-me nua, cubro-me com uma toalha, tenho mais pudor nas ausências.

ele vem de elevador, beija-me rapidamente, liga o ventilador, dobra e guarda o edredom que só está sobre a cama porque mesmo com todo o calor que o inferno é capaz de produzir, eu não consigo dormir descoberta. ele guarda as minhas roupas, os meus papéis, pendura a minha bolsa, tira o jeans, põe uma bermuda, me pergunta se as coisas possuem utilidade com a intenção de jogá-las fora, mas eu não guardo coisas apenas por serem ou não úteis.

eu comprei livros, mas não lavei a louça. ele senta-se na cadeira, escolhe um dos livros e começa a ler. eu quero um abraço mas não quero pedir, não quero demonstrar carência. pego o coelho de pelúcia, presente de meu pai, minha companhia de quando eu era só. obviamente ele não reconhece o meu desejo por ter seus braços envolvendo meu corpo. a não percepção não seria um problema, há coisas que basta dizer, mas nem sempre as palavras encontram formas de sair da boca, e não fosse o fato de eu não ter resistido em destilar uma ponta de sarcasmo ele não teria vindo até o banheiro quando eu levantei e decidi ir ao banho, já que nada me restava por dizer ou fazer.

eu já estava molhada, pela porta de vidro trasparente do box ele me perguntou o que se passava. abri a porta e o abraçei. molhei o chão, ele não gosta quando eu molho o chão porque sabe que eu não vou secar. agradeço por saber que o que ele odeia em mim são as minhas coisinhas espalhadas, uma coisa tão material. ele não odeia meus desejos fora de hora, nem minhas oscilações.

seus braços estavam quentes, era só o que eu queria. o calor do abraço.