domingo, 26 de abril de 2009

ele fala baixinho, quase sussurando. e fala de coisas simples e com um ar de inocência que quase me faz pensar que é só um menino. não muito parecido comigo e meu timbre de voz estridente e meus gestos expansivos. ele chegou a pouco, ficou pouco tempo, disse pouco sobre ele, fizemos poucas coisas juntos. ele resolveu voltar. não que não estivesse gostando dessa cidade, mas precisava voltar. e logo eu, que promovo aos quatro ventos o desapego, senti um nó no peito quando ele me disse: preciso voltar. não quis me despedir com sexo. preferi a lembrança dos seus olhos pequenos, seu ar um tanto abatido e o sorriso vacilante. mesmo quando me desculpei por estar descomposta em meu pijama de moleton e as meias de dedinho ele disse que esperava me encontrar com a camisola listrada de algodão que ele acha muito sexy, ele sorriu daquele jeito inseguro.

e no dia de são jorge, em meio a tanta gente girando, um caboclo me disse: solta esse cabelo, fia, que você fica mais bonita! e ele mesmo tirou minha presilha: não esconda quem você é. meus olhos marejaram mais pela fumaça do charuto e o caboclo continuou: tem tanta gente que vem e vai na nossa vida, menina. mas quem fica guardado aqui no peito, fia, uma hora volta. quem vai é porque tem que ir. deixa ir, fia, deixa ir. eu só deixei que as lágrimas transbordassem, mas era por causa da fumaça. despedida nenhuma nesse mundo me faz chorar.