domingo, 6 de dezembro de 2009

calma

Eu contava os passos. Os dele, não os meus. Vinha chegando naquele andar sempre desajeitado, sempre deixando a incerteza de para onde iria.

Ele sempre foi de espalhar a calma, sentou-se e começou a falar baixo e lento, daquele jeito de quem nunca quer ferir, mas eu já estava machucada. Acendeu um cigarro, que o garçom pediu que apagasse. São as regras. Me convidou para caminhar, eu me levantei apenas, porque não sobrou em mim nenhum sim.

'Hoje eu troquei de nome duas vezes'
Ele sorriu e disse que tudo bem. 'E como quer que eu te chame agora?'
'De Você, apenas.'

Não é comum que chova por essa época, mas o céu decidiu nos molhar, ele me segurou pela mão e atravessamos a rua com o passo apertado, mais um quarteirão e estaríamos em casa. Eu relutei porque aquele não era o meu lugar e nunca há de ser. Eu não sou de lugar algum e ao contrário dele, grito quando o mundo se fecha sobre mim.

Eu não nasci para essa vida, apenas passei a viver. Ele nasce todos os dias e sabe viver a vida com tranquilidade. Ele me acalma, mas eu me assuto porque nunca conheci o que é o sossego.

Continuo pelas ruas, ele me olha pela janela. Nos encontramos por aí e sempre que caminhamos chove. Acho que o nosso andar precisa dessa água toda. Garoa fina ou tempestade com vento. Eu já perdi a conta dos seus passos e já nem sei por onde eles vão.