diga-me que em algum lugar
entre as paredes de onde moras
e o vazio dos que não te habitam
existe e persiste, firmemente
um desenho do nosso passeio no céu
o nosso céu
aquele que nos pesa
daquela vez claro, rabiscado de nuvens
lindo e convidativo como águas rasas
onde nos atrevíamos mergulhar
o céu noturno
escuridão que não nos tomou de assalto
nosso almejar por estrelas
quantas coubessem entre nossos dedos
quantas se despejassem
ao ponto de inundar nosso céu de luz e canção
o céu tempestivo
de nuvens baixas e pesadas
cheirando a chuva que enfim se derrama
e o faz como se fossemos nós a própria chuva
e nós somos
gotas unidas a escorrer para dentro da terra
encontre o nosso desenho
retome nossos passeios
ainda que só e distante
não se desprenda da nossa lembraça
rabiscada em grafite cinza
(a mais triste das cores)
permaneça no colorido
alegre e frágil de pipas e rabiolas
que dançam no céu que é nosso
nesse vento de verão
que sopra de qualquer canto da terra
vem, e passeia comigo