terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

ele disse 'eu te amo' primeiro. e não era admirável que assim o fosse porque tinha aquela incorrigível mania de precipitar-se. mas sabia que não era o caso. a amava desde o dia daquele passeio. desde que encontrou os olhos cor de amêndoa, que afagou os cabelos quase sempre despenteados, que segurou na mão quase sempre indecisa e que ela movimentava enquanto falava. ora a enrolar as pontas do cabelo, ora a segurar o brinco, às vezes na boca, comendo as unhas sempre vermelhas e finalmente de encontro à mão dele, dedos entrelaçados e tudo.

ser objeto do amor de alguém era idéia que sempre a assutou. ela não era bicho desse mundo, tinha aquele espírito solto e asas nos olhos. e um talento incomum de ser detestável com qualquer um que pudesse ter por ela algum afeto. até ele acontecer. ele de jeans escuro e sempre perfumado, ele a jogar levemente a cabeça para trás quando sorri, ele dirigindo concentrado, cantarolando um samba trite, com seu vocabulário limitado e suas idéias ingênuas sobre futuro e família.

eram opostos. ela sempre mais quieta, sempre mais intensa. ele sempre sociável, sempre ocupado. só era certo dizer que de igual eles possuiam um encanto recíproco e era o que lhes mantinham firmes e fiéis.

'eu te amo' ela ouviu e apenas sorriu e lhe beijou na boca. no escuro, sentindo o respirar calmo enquanto ele se entregava ao sono e aos sonhos, ela pode responder baixinho: eu também, benzinho. eu também te amo.