eu não deixei de vir aqui, continuo passeando por essas páginas, escrevendo pela metade, sempre apressada, nunca inspirada. vou colecionando rascunhos, histórias desimportantes que eu vivo, ouço e invento. gente estúpida e gente doce que existe pra ser traduzida em palavras mal escolhidas.
meus cabelos se espalham pela minha casa e eu vou tropeçando na esperança de um dia não ser careca. meu gato imaginário passa o rabo entre minhas pernas assim que abro a porta.
ela já é noiva e se fez noiva num dia muito chuvoso. os dias de chuva também são lindos, principalmente quando não sinto meus pulmões congelarem.
ele teve febre e a cama que ele aqueceu continua pegando fogo.
eu continuo a envelhecer. limito minhas preferências, penso em fazer cada vez menos coisas, sem pressa e sem demora. penso em filhos, penso em não tê-los, me esvazio. envelheço no meu silêncio, vou empoeirando como a mobília.
seguem meus dias. seguem os dias de cada um. sem o brilho que podem adquirir se congelados a cada momento numa bela fotografia. poderia apenas dizer dane-se! mas eu não posso. tem um coração aqui que me cala, que se aperta e me esmaga, que se assusta com a imensidão do tempo a passar.
acho que devo agradeçer, mas isso é só o que eu faço.