segunda-feira, 16 de julho de 2012

transeunte

chove. ela caminha por ruas desconhecidas na cidade mais bonita que já viu. sem fones de ouvido, os sons que a acompanham são das gotas nas folhas, esse farfalhar dos galhos. pensa: deve ser assim que as árvores dizem que estão felizes. as árvores estão sempre a dizer coisas. um passo, depois outro, desvia de uma merda de cocô. caminha e se detem em alguns momentos por curiosidade, por fome, pela incerteza do rumo certo. comprou coisas velhas porque sempre gostou de uma boa coisa velha. só foi possível iniciar pequenos diálogos com desconhecidos, queijo ou bacon? mas como sempre é quando decidimos comtemplar a própria solidão, imergiu em infinitos monólogos interiores cheios de balaços sobre o passado, apatia pelo presente e ilusões sobre o futuro. se fosse um dia de sol também seria assim, mas sem a melancolia charmosa de ter a ponta das botas molhadas. um miserável pede uma moeda. não sou ladrão. ela também não, portanto pode se desfazer voluntariosamente de uma pequena quantidade de dinheiro e ainda oferece pipoca ao infeliz. por educação e por moral cristã, mas ele recusa e agradece. talvez por educação.
longe de casa, num dia vazio, chega a sentir-se pertencente a tudo aquilo, mas sabe que não é. falta algo. na verdade talvez sobre algo. não dá pra definir, é estranho.