sexta-feira, 3 de agosto de 2012

eu já nem sei o quanto sobrou de mim depois de sangrar todas essas feridas que você deixou. eu fui encorajada pelo claro do céu e pelas cores que escorriam dos seus ombros, pelo aconchego indeciso das suas mãos finas que não conhecem o peso e as marcas que deixam o trabalho.
eu que vivia de dentes à mostra sempre que te lembrar trazia o cheiro dos seus cabelos molhados pra ponta do meu nariz, que te recebi com flores rabiscadas pelas paredes após cada uma das tuas longas e tempestivas ausências.
eu fiquei sozinha sob a chuva. quando o céu desabou você correu pra se proteger e nem se lembrou de lembrar que correr é difícil pra mim. - eu também tenho medo de tempestades! mas me deixei não me mover pela incredulidade de que aquilo significa ser abandonada. eu nunca acreditei que os seus passos ligeiros sempre foram os anúncios, os sinais de que você se preparava pra esse momento, muito melhor do que eu porque você o premeditou. escolheu a hora e o momento, só não foi capaz de prever a chuva e não será capaz de imaginar o quanto de mim vai contigo, nessas tuas costas se afastando, refletindo luzes artificiais enquanto dobra uma esquina e eu já não te vejo nunca mais.