quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ao meu velho e bom ano

cheguei completamente embriagada e você com tudo. se morresse naquele estado não sei o que me esperaria por trás das portas da percepção. depois de chorar por quase um dia sufocada e claustrofóbica, você me levou pra passear de barco. tudo contra a minha vontade, mas não se deixa uma amiga chorando sozinha. 

você acabava de chegar com o mar e foi me enchendo de calor e paz. 

que primeiro dia lindo você fez. 

não fosse pelo lixo. tinha todo aquele horrível lixo espalhado por toda parte. não foi como o lixo pelas ruas do recife, não era o mesmo lixo do carnaval no rio. sempre aceitei na vida o lixo no cenário urbano, sua circulação noturna, o vasculhar dos ratos. mas ali na natureza exuberante da mata atlântica, o lixo era a incômoda constatação do nosso fracasso. 

antes da sua partida, te sinto ainda presente e intenso, arrastando suas demandas, bagunçando os meus ciclos, me fazendo esquecer a ordem das luas. não te deixarei pra trás. você vem comigo um pouco mais. não vai dar pra começar um outro ano sem você, nessa lucidez plena e concreta com horário de almoço e janta.  

quando você me deixar seu último olhar, vou me permitir últimas e sinceras lágrimas. e enfim irei festejar.