sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

texto tátil

perfumada e silenciosa, foi assim que a casa ficou quando eu saí. saí porque sairia de qualquer jeito, pra mais distante e por mais tempo, talvez. mas um motivo qualquer me fez sair rápido e deixá-lo sem o peso da minha companhia.

sim, eu canso. a mim e a outros. quero dividir livros, sites, fotografias, uma aventura culinária, os planos, o gato, a cama e a vida. mas eu sei o quanto tudo isso cansa. os meus desagrados que quando não verbalizo colocam uma careta na minha cara, as minhas roupas amontoadas no mancebo, no armário, na cadeira, no banheiro. não, eu não consigo empilhar sessenta peças de roupa numa única prateleira e eu merecia morrer por causa disso.

voltei logo, o sol estava forte, a casa estava arrumada obrigada e ele me recebeu com todas as doçuras com que sempre me trata e me fez sentir uma culpa antecipada caso a gente não dure.

não somos perfeitos, mas ele é melhor que eu.

sou uma mula egoísta.

agora quem saiu foi ele. ontem eu fiz piadinhas ciumentas sobre a dentista, nos despedimos com sorrisos e eu fiquei sorrindo ainda por algum tempo depois que fechei a porta. hoje foi silencioso, um beijo e um quase sorriso. voltei pra caixinha onde estava colando umas figuras.
fiquei só com o meu silêncio.

agora eu só quero ouvir a chave dele girando na fechadura.